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Ciência e Tecnologia

Saiba como cegos usam eco para se locomover

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Estudos já provaram que os cegos podem usar os sons e ecos para ajudar na locomoção. Mas pesquisas recentes mostraram que essa habilidade, conhecida como ecolocalização, pode ser estimulada inclusive em pessoas que não tem deficiência visual para identificar objetos graças a reverberação sonora.

Reverberação sonora ajuda os cegos a identificar um obstáculo ou um ambiente.
Reverberação sonora ajuda os cegos a identificar um obstáculo ou um ambiente. Association for Psychological Science
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Várias pesquisas já mostraram que os deficientes visuais, sejam eles totalmente cegos ou que enxergam parcialmente, compensam a falta da visão desenvolvendo ainda mais outros sentidos. E no caso dos cerca de 39 milhões de cegos do mundo, segundo números da Organização Mundial da Saúde, a audição é um dos sentidos mais solicitados no dia-a-dia.

Mas o que muita gente não sabe é que o uso da audição pelos cegos recorre ao princípio da ecolocalização, a capacidade de produzir imagens mentais com sons reverberados pelo ambiente. Segundo esse sistema, o eco permite a pessoa identificar um obstáculo ou um ambiente por intermédio do som. Algo como o dispositivo de radares dos morcegos, que os impedem de colidir com objetos quando voam no escuro. Mas no caso dos cegos, alguns emitem sons estalando os dedos ou a língua para criar o eco e, assim, medir a proximidade dos objetos.

Moisés Bauer Luiz, presidente da Organização Nacional de Cegos do Brasil confirma que a relação entre o som e o eco contribui para o deslocamento com segurança e autonomia. “Em muitos espaços, podemos ter a percepção se estamos em um corredor onde não tem portas ou se todas as portas estão fechadas graças ao eco emitido por nossos passos ou pela bengala batendo no solo. Isso nos passa a informação bem nítida de onde estamos”, explica. “Se estamos um ambiente externo, por exemplo caminhando em um passeio público, a questão do eco ajuda a saber se estou contornando um muro ou uma grande parede sem aberturas, onde não há passagem de ventilação”, como uma espécie sexto sentido dos cegos.

Quem não é cego também pode usar ecolocalização

Um estudo publicado recentemente na revista cientifica Psychological Science, mostrou que essa habilidade não é restrita aos cegos. “As pessoas que enxergam também são capazes de aprender a ecolocalização. Mas a grande questão é saber se eles podem fazê-lo tão bem quando os cegos. Provavelmente não”, analisa o professor da Universidade Heriot-Watt, em Edimburgo, Gavin Buckingham, um dos autores do estudo, realizado com a universidade de Ontário, no Canadá. “Pesquisas mostraram que os cegos usam a ecolocalização em uma parte do cérebro que, para os que enxergam, é utilizada para processar imagens. É uma espécie de reorganização do cérebro que ocorre apenas nos cegos”, completa.

Na mesma linha, pesquisadores do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Software Livre (NAP-SoL), no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, desenvolveram o protótipo de sistema que permite ao usuário fazer a identificação de obstáculo e ambiente por intermédio do som. Mas nesse caso trata-se de um programa de computador, batizado de GuideMe, integrado na roupa, que funciona como uma antena de ecolocalização. O sistema ainda está em fase de estudos, mas já conquistou o primeiro lugar no II Concurso Intel de Sistemas Embarcados, realizado durante o IV Simpósio Brasileiro de Engenharia de Sistemas Computacionais, em novembro de 2014, em Manaus.

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