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Linha Direta

Refugiados sírios são cada dia mais discriminados no Líbano

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A chefe das operações humanitárias da ONU, Valérie Amos, começa nesta quarta-feira (7) uma visita de três dias ao Líbano para avaliar a situação dos refugiados sírios no país. Em três anos, mais de três milhões de sírios atravessaram as fronteiras da Síria para fugir da violência. Um milhão e meio de sírios chegaram ao Líbano, que acaba de criar uma espécie de visto para dificultar a chegada de novas famílias sírias no país. A decisão do governo libanês foi anunciada na última segunda-feira (5), levando organizações humanitárias a declarar que tais medidas comprometerão os esforços humanitários e a segurança de refugiados sírios que fogem da guerra civil em seu país.

Medidas de controle de imigração na fronteira entre a Síria e o Líbano foram impostas nesta segunda-feira(5).
Medidas de controle de imigração na fronteira entre a Síria e o Líbano foram impostas nesta segunda-feira(5). REUTERS/Mohamed Azakir
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Tariq Saleh, correspondente da RFI no Líbano

A decisão do governo do Líbano acontece em um momento em que o país atravessa uma crise econômica e de infraestrutura. As autoridades libanesas alegam que a economia e os recursos financeiros do país não são suficientes para atender o crescente fluxo de refugiados sírios. Libaneses reclamam de desemprego e salários baixos devido ao grande número de sírios, de menor custo para empregadores.

A população no Líbano cresceu cerca de 25%, desde que a guerra na Síria começou em 2011. O país já tem a maior concentração de refugiados no mundo, com mais de 1,5 milhão de refugiados sírios somados à população de 4 milhões.

A suposta presença de militantes islâmicos, como os do grupo Estado Islâmico, em cidades libanesas junto à fronteira com a Síria aumentou a tensão interna no país e foi também um fator decisivo para a adoção das medidas do governo libanês. Os refugiados que chegarem à fronteira libanesa serão interrogados pela polícia de imigração e só terão sua entrada permitida em casos considerados humanitários.

Mudanças para os refugiados

Em outubro, guardas de fronteira já haviam adotado restrições anunciadas informalmente pelas autoridades libanesas, ocasionando uma queda de 50% no registro de refugiados junto à agência de refugiados das Nações Unidas. Agora, as medidas foram anunciadas oficialmente e sírios que chegarem à fronteira só poderão entrar no Líbano segundo alguns critérios. Vistos só serão concedidos para turismo, trabalho e estudos. A opção de visto para refugiado não está mais presente nos formulários nos postos de fronteira.

Mulheres e seus filhos, pessoas com problemas médicos ou crianças separadas de suas famílias terão suas entradas permitidas. Pessoas em casos considerados de emergência ou humanitários também terão garantida sua entrada no país.O alvo principal destas medidas de restrição são os homens sírios. Em caso de trabalho ou estudos, eles devem ter um empregador libanês ou comprovar sua condição de estudantes. E visto de turista só será emitido segundo critérios das autoridades de imigração.

O governo libanês declarou, no entanto, que as medidas não afetam os refugiados sírios que já residem no Líbano.

Crescente ressentimento da população libanesa contra os sírios

O ressentimento contra sírios vem aumentando no Líbano. Muitos libaneses reclamam que os refugiados estão tomando seus empregos, levando salários a um patamar mais baixo, além de lotar escolas e hospitais. Eles também afirmam que a falta de luz e água, um problema antigo no país, só piorou com o grande número de refugiados sírios.

Em alguns casos, sírios vêm sendo vítimas de violência e são agredidos por libaneses mais exaltados. Outros enfrentam discriminação nas ruas de Beirute e em outras regiões do país. A maioria destes refugiados mora em regiões pobres e sem infraestrutura. Muitos acabam nas ruas de cidades como pedintes e alguns acabam sendo alvos de ataques verbais ou racismo.

Em alguns vilarejos, há faixas que proíbem a entrada de refugiados. Outras cidades preferiram estabelecer toques de recolher aos sírios durante a noite. Pessoas que desrespeitaram as leis impostas foram punidas com agressões físicas e até roubo de seus pertences. A situação piorou com o surgimento de militantes radicais do grupo Estado Islâmico em território libanês. O governo libanês alega que há alguns membros do grupo operando no Líbano entre os refugiados.

Situação dos sírios impedidos de entrar no Líbano

O Líbano tem ao menos quatro postos de fronteira com a Síria, e em ao menos duas delas há uma zona neutra, uma espécie de terra de ninguém, de limbo, onde muitos sírios acabam ficando. Outros serão obrigados a voltar à Síria e serem expostos à guerra civil.

Por outro lado, há fronteiras ilegais entre os dois países, as mesmas que são usadas para o contrabando de armas e o fluxo de militantes radicais. Alguns libaneses e sírios no Líbano usam estas fronteiras ilegais para se juntar aos grupos islâmicos que combatem o governo do presidente Bashar al-Assad na Síria. Estas fronteiras também são usadas pelos refugiados para entrar ilegalmente no Líbano.

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