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Linha Direta

Preço baixo do petróleo causa escassez de produtos básicos na Venezuela

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A economia da Venezuela está diante de uma situação inédita desde que o governo bolivariano chegou ao poder. A queda dos preços do petróleo tem deixado de cabelo em pé não só o presidente Nicolás Maduro, mas também a população, que reconhece a forte dependência nacional a esta commodity.

Un échantillon de pétrole brut est prélevé dans un puits vénézuélien, à Morichal, le 28 juillet 2011.
Un échantillon de pétrole brut est prélevé dans un puits vénézuélien, à Morichal, le 28 juillet 2011. REUTERS/Carlos Garcia Rawlins/Files
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Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas

Noventa por cento do que é consumido no país é importado. Para honrar os pagamentos a credores internacionais a receita da exportação de petróleo é fundamental. Então, a queda dos preços do "ouro negro" significa um forte impacto para esta já fragilizada economia, sobretudo se levarmos em conta as dívidas já contraídas que o governo não está pagando. Por exemplo, as empresas aéreas aguardam receber mais de US$4 bilhões. Faltam muitos produtos básicos em todo o país. Diariamente vemos filas gigantescas de pessoas buscando alimentos básicos e produtos de higiene, que estão escassos há meses. Sabonete e xampu, por exemplo, desapareceram do comércio. Tudo isso tem gerado angústia no cidadão, sobretudo os das classes mais populares. Além da escassez, eles enfrentam a inflação, que deve fechar o ano em 80%. Voltando à questão do preço do petróleo, que já perdeu mais de 30% do valor nos últimos seis meses, isso significa que o governo também perdeu poder de compra, de importação dos alimentos e produtos básicos para que o venezuelano satisfaça suas necessidades. Vale lembrar que durante a gestão de Hugo Chávez muitas empresas foram expropriadas e outras decidiram deixar o país por causa da falta de incentivos. Até mesmo a maior siderúrgica nacional, a Sidor, está trabalhando menos da metade de sua capacidade, o que interrompe a fabricação de embalagens metálicas de produtos e bebidas. Até mesmo a produção de caixões fúnebres tem sido afetada pela falta de lâminas de metal.

Preço do petróleo

De acordo com especialistas, o panorama econômico atual é delicado, já que não há, a curto prazo, uma interrupção da queda do preço do petróleo. Na semana passada o barril chegou a US$49, ontem a US$51. O governo tinha como cálculo a commodity cotada entre US$100 e US$120, variação que vigorou nos dez últimos anos durante o chamado boom petroleiro. De acordo com Elie Habalian, que foi governador da Venezuela na Organização de Países Produtores de Petróleo (Opep), a pior parte ainda está por chegar, já que a queda pode continuar até junho de 2015. Para vocês terem uma ideia, com o barril cotado a US$50, significa que a Venezuela vai ter menos US$35 milhões de entrada de capital do que recebeu em 2013, quantia bastante significativa para as contas de um país que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo, mas que importa 70% do que a população consome.

Medidas de Maduro

O presidente Nicolás Maduro anunciou uma série de medidas austeras para tentar minimizar este déficit nas contas, entre elas, a redução dos salários de altos cargos do governo, inclusive o dele próprio, o de vice-ministros e de diretores das empresas estatais. No entanto, o presidente anunciou a criação da Comissão presidencial para a Racionalização e Redução de Gastos. Na segunda-feira (22), Maduro surpreendeu até mesmo os seguidores do chavismo ao anunciar a volta da cobrança de pedágio de todo o país, medida que foi repudiada pelo antecessor Hugo Chávez, a quem Maduro chama de "pai". Porém, os programas sociais, as chamadas missões, serão mantidos, mas reorientados, otimizados e ampliados. Para manter estes onerosos programas, especialistas apontam que o governo poderá imprimir dinheiro, o que aumenta a liquidez monetária e, em consequência, também a inflação. Outros rebaixamentos do país nas agências de risco, antecipados pela Fitch na semana passada, não foram descartados, de acordo com previsões de economistas.

Os especialistas acreditam que o governo vai recorrer a empréstimos nos bancos nacionais, já que estes são obrigados a comprar as dívidas do país. Mas este fôlego monetário virá também da população, que vai ajudar o país a equilibrar as contas através da arrecadação originada pelo aumento de impostos internos, de passagens, de energia elétrica. Estes especialistas acreditam, inclusive, que até mesmo a gasolina poderá ser aumentada, embora Maduro tenha descartado esta possibilidade. Não existe nada mais barato em todo o país que a gasolina e o aumento do combustível é um tema bastante sensível, sobretudo se for levado em conta que a popularidade de Maduro, de acordo com uma pesquisa do Instituto Datanalisis, chegou a 25 %, recentemente. Em 2015, Maduro vai enfrentar condições bastante delicadas, afinal é ano de eleições parlamentares, quando o quadro da Assembleia Nacional, atualmente de maioria pró-governo, pode sofrer uma mudança radical.

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