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Linha Direta

Reaproximação com Cuba reflete bom senso político de Obama

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A decisão histórica de Barack Obama de normalizar as relações com Cuba parece ser o último passo dos Estados Unidos para finalmente dar adeus à era da Guerra Fria. De modo geral, a decisão do presidente americano foi recebida pela comunidade global como uma surpresa agradável, mas os americanos estão se dividindo entre aplausos e críticas à aproximação com a ilha de Fidel Castro.

Os presidentes Barack Obama e Raúl Castro, em 2013, na África do Sul, no enterro de Nelson Mandela..
Os presidentes Barack Obama e Raúl Castro, em 2013, na África do Sul, no enterro de Nelson Mandela.. REUTERS/Kai Pfaffenbach/files
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Ligia Hougland, correspondente da RFI Brasil em Washington

Para a maioria dos americanos, a notícia foi uma surpresa muito bem-vinda, pois na última década as pesquisas já vinham indicando que cerca de dois terços da população americana apoia uma reaproximação com Cuba. Não tinha como não notar que a política da Casa Branca em relação à ilha era contraproducente. Na verdade, a decisão não foi uma surpresa para quem acompanha de perto o relacionamento entre os dois vizinhos inimigos. Já faz alguns meses que o Departamento de Estado americano estava enviando emails aos jornalistas que cobrem a região das Américas sobre a prisão do prestador de serviços da agência americana para desenvolvimento internacional (USAID), Alan Gross, e pressionando o governo cubano a soltar o cidadão americano. Além disso, recentemente, começaram a ser publicadas reportagens na imprensa americana favoráveis à Cuba e a seus esforços na luta contra o ebola, e a opinião pública começou a ficar mais simpática à ilha.
No entanto, a decisão de Obama também está causando polêmica.

Reaproximação

Alguns analistas dizem que as sanções à Cuba somente foram mantidas por tanto tempo porque satisfazem a agenda de alguns políticos, particularmente da Flórida, um Estado que tem poder decisivo nas eleições americanas e que tem uma enorme comunidade cubana.

O senador republicano Marco Rubio, da Flórida, que é filho de imigrantes cubanos e um dos possíveis candidatos à Casa Branca em 2016, reprovou fortemente a decisão de Obama, dizendo que o atual governo gosta de agradar tiranos e ditadores.

Em Washington ainda existe um lobby contra a aproximação com Cuba, mas a verdade é que a geração de exilados da Revolução Cubana de 1961 já está velha ou quase extinta e a nova geração de americanos-cubanos está, na maioria, feliz com a ideia de poder visitar a terra de seus antepassados, que fica a pouco mais de 100 quilômetros da Flórida, e que pode voltar a ser um belo destino de férias para americanos, como era até o final dos anos 50. Então, o lobby contra a ditadura dos irmãos Castro está, assim como Fidel, ficando cada vez mais debilitado.

Troca de prisioneiros

Alan Gross, que estava preso há mais de cinco anos em Cuba, foi, oficialmente, solto por princípios humanitários, em uma decisão de Raúl Castro, não fazendo parte de troca alguma, segundo o governo americano. Os três cubanos, que foram condenados por espionagem e presos em Miami em 1998, foram soltos depois de mais de um ano de negociações secretas entre os dois governos, com os Estados Unidos exigindo que um cidadão cubano que estava preso há quase 20 anos por ter fornecido inteligência-chave ao governo americano fosse solto.
A identidade desse cubano não vai ser revelada, mas o caso serve para que a Casa Branca dê a mensagem à comunidade global de que os Estados Unidos não abandonam quem os ajuda.

A maioria dos analistas acredita que a decisão de Obama representa uma muito necessária e esperada dose de bom senso de um presidente que é visto em casa e globalmente como fraco e indeciso. Obama, Estados Unidos, Cuba e a região das Américas só têm a ganhar com isso. Não dá para insistir na mesma conduta por 50 anos e esperar novos resultados.

Expectativas

Há muito tempo que as empresas americanas querem acesso à ilha. A inevitável entrada de peso de negócios americanos em Cuba tem a capacidade de modernizar o país em menos de duas décadas, dizem alguns analistas. Mas uma verdadeira transformação social e em direção a uma sociedade livre deve acontecer por meio dos jovens cubanos, uma vez que eles tenham acesso à internet.

Hoje, é estimado que somente 5% da população de Cuba tenha acesso à internet, mas segundo as negociações dos Estados Unidos e Cuba sobre capacidade de comunicação móvel e acesso à internet, esse cenário deve logo mudar.

Quanto mais os cubanos interagirem com o mundo, mais rápido as mudanças vão chegar à ilha.

 

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