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Especialistas consideram improvável uma ligação entre o PCC e o Hezbollah

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Uma matéria publicada no último fim de semana no jornal O Globo e reproduzida pela imprensa brasileira trouxe de volta o debate sobre as suspeitas de atuação de grupos extremistas no Brasil. Nos últimos anos, o governo brasileiro vem recebendo relatórios frequentes dos Estados Unidos alertando para a atuação de células terroristas na região da Tríplice Fronteira, área limítrofe entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai.

De acordo com imprensa do Brasil, a organização libanesa Hezbollah teria se associado à facção criminosa brasileira PCC.
De acordo com imprensa do Brasil, a organização libanesa Hezbollah teria se associado à facção criminosa brasileira PCC. REUTERS/ Sharif Karim
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Documentos da Polícia Federal aos quais o diário carioca afirma ter acesso apontariam que traficantes de origem libanesa ligados ao Hezbollah se associaram ao Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior organização criminosa do Brasil, que atua principalmente nos presídios de São Paulo. De acordo com a reportagem de O Globo, a Polícia encontrou indícios de que o Hezbollah facilitaria o contrabando de armas ao PCC que, em troca, ofereceria proteção aos libaneses detidos no Brasil.

Contatada pela reportagem da RFI, a Polícia Federal não confirmou a existência desses documentos aos quais o jornal carioca teve acesso. A PF também não confirmou a descoberta de uma possível associação entre o PCC e o Hezbollah.

Sociedade improvável

Para o chefe do Departamento de Relações Internacionais da PUC de São Paulo, Reginaldo Nasser, uma sociedade entre o Hezbollah e o PCC é improvável. “Há toda uma conjuntura política muito específica no Líbano e, por não ter interesses políticos no Brasil, não vejo por que a organização libanesa se associaria ao PCC”.

Nasser lembra que o Hezbollah tem deputados e ministros atuantes no governo libanês, é uma organização reconhecida por uma boa parte do Oriente Médio e tem o objetivo político de controlar o poder do país. “O Hezbollah não é uma organização que atua internacionalmente. Ela exerce atividades no Líbano e nas fronteiras com Israel. Tudo o que se fala sobre o Hezbollah fora desse território ainda é pura especulação”, diz.

O professor reconhece, no entanto, que a organização libanesa e o PCC poderiam estar ligados pelo comércio de armas. “Mas, neste caso, não somente o Hezbollah e a facção brasileira estão em relação através deste mercado, mas toda e qualquer organização armada no mundo”, explica.

Material explosivo

A socióloga Camila Nunes Dias, professora do departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC, é autora do livro "Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência", sobre a atuação do PCC nos presídios de São Paulo. Para ela, o maior risco da ligação entre a organização brasileira e o Hezbollah está relacionado às suspeitas da Polícia Federal sobre o fornecimento do material explosivo C4, roubado no Paraguai, supostamente repassado da facção libanesa ao PCC. “Até onde eu sei, esse material não é de fácil manuseio. Se junto com o fornecimento deste explosivo, também há a transferência de informações de como utilizá-lo, aí encontraríamos riscos nesta relação entre as duas organizações”, ressalta.

A professora descarta a possibilidade da realização de um atentado pelo PCC no Brasil nos moldes de ataques de organizações terroristas internacionais. Segundo Camila, a facção tem alvos muito específicos: policiais e agentes penitenciários. “O PCC tem como base política algo extremamente diferente da filosofia do Hezbollah. Não é o perfil deles perpetrar um atentado tipicamente terrorista, com alvos civis, por exemplo. A 'guerra' do PCC, como eles mesmo dizem, é algo muito específico e relacionado às polícias”, salienta.

Tríplice Fronteira

O governo brasileiro nunca confirmou as suspeitas da atuação de grupos terroristas no Brasil, nem mesmo na região da Tríplice Fronteira, um foco de preocupação do governo norte-americano. Desde 2002, o Brasil, a Argentina e o Paraguai, participam, com os Estados Unidos, do Grupo 3 + 1, acordo de cooperação sobre a segurança na região. Em 2005, Washington chegou a anunciar que nenhuma atividade terrorista foi detectada nas fronteiras entre os três países.

O professor de Estratégia Internacional da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro, Francisco Carlos Teixeira da Silva, explica, no entanto, que o principal crime na Tríplice Fronteira é o contrabando de armas e a lavagem de dinheiro.

Militantes do Hamas e do Hezbollah

De acordo com Teixeira da Silva, há militantes da organização palestina Hamas e do Hezbollah que se refugiam do governo israelense. “Mas essas pessoas não desenvolvem nenhuma atividade terrorista na região”, sublinha.

Entretanto, os serviços de inteligência israelenses não veem com bons olhos o acolhimento de palestinos e libaneses na região. “Israel manda agentes para o local e prepara relatórios, os quais envia frequentemente à Polícia Federal brasileira, sobre atividades terroristas de integrantes do Hamas e do Hezbollah na fronteira”, relata.

O descontentamento de Tel Aviv com os militantes dos dois movimentos na Tríplice Fronteira se deve, segundo o professor, às coletas de recursos financeiros para os territórios palestinos. “As contribuições são mínimas em relação aos fundos enviados pelos países do Golfo Pérsico, da Europa ou dos Estados Unidos para a população palestina”, finaliza.

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