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O Mundo Agora

Obama pode tirar partido de um congresso com forte maioria republicana

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É dia de eleições de meio mandato nos Estados Unidos. Na Câmara de Representantes não há nenhum suspense: o Grand Old Party vai conservar a maioria e ampliá-la. Já no Senado, o resultado vai ser pau a pau. O Partido Democrata pode perder a maioria, mas se acontecer vai ser por pouco.

O presidente norte-americano, Barack Obama, em campanha pelo candidato a governador do Estado da Pensilvânia, Tom Wolf, no último domingo (2).
O presidente norte-americano, Barack Obama, em campanha pelo candidato a governador do Estado da Pensilvânia, Tom Wolf, no último domingo (2). REUTERS/Larry Downing
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Por Alfredo Valladão *

De qualquer maneira, os pessimistas já estão vaticinando uma paralisia do governo e uma briga de foice no escuro permanente entre o presidente Barack Obama e um Congresso extremista e intransigente. Os Estados Unidos sendo hoje o único verdadeiro motor da economia global e o bombeiro internacional em última instância, isso não é uma boa notícia para o resto do planeta. Mas os otimistas acham que, muito pelo contrário, um legislativo dominado pelos republicanos é a melhor maneira de consolidar e até melhorar o legado do presidente, que só tem mais dois anos pela frente. E como dizia Woody Allen: é melhor ser otimista porque, assim, a gente sofre só no fim, enquanto os pessimistas sofrem o tempo inteiro.

Obamacare veio para ficar

Na verdade, a agenda interna de Obama está bloqueada há anos. A grande herança do presidente vem ainda do primeiro mandato, com o voto do seguro de saúde universal. A extrema-direita republicana, o famoso Tea Party, odeia essa lei que apelidou de Obamacare e que jurou derrubar a qualquer custo. Até se tiver que sabotar o governo e a própria economia americana.

Só que a lei já mostrou resultados positivos, dando cobertura de saúde a milhões de americanos que não querem mais perder a vantagem. Não é por nada que, salvo os extremistas mais raivosos, a atual campanha política quase não falou no assunto. Melhor ainda: os setores conservadores mais tradicionais do Partido Republicano conseguiram marginalizar a histeria do Tea Party, ganhando as primárias para a escolha dos candidatos do partido. O Obamacare tem todo o jeito de que veio para ficar, mesmo se vai ter muito choro e ranger de dentes num congresso dominado pelos republicanos.

Um Partido Republicano mais responsável e que já está pensando nas eleições presidenciais de 2016, também sabe que tem uma péssima imagem na opinião pública. E não quer aparecer como um bando de loucos dispostos a afundar a economia e o governo do país só para impor uma agenda ideológica minoritária.

Democratas podem se beneficiar em 2016

Controlando o Senado e a Câmara, os republicanos vão ser obrigados a mostrar serviço. Passar a vida dizendo “não” a tudo que diz Obama não resolve os problemas americanos. A questão é que nesses últimos anos de extremismo do Tea Party, eles não construíram nenhuma agenda positiva. Se continuar assim, com o Congresso na mão, a corrida para a Casa Branca em 2016 vai ser uma barbada para o candidato democrata – ou provavelmente para a candidata, Hillary Clinton.

Na verdade, Barack Obama ainda tem três grandes realizações possíveis para consolidar o seu legado histórico: uma reforma migratória, um acordo nuclear com o Irã e os dois grandes acordos comerciais com a Europa (o TTIP) e com a Ásia-Pacífico (o TPP).

Uma nova lei sobre a imigração é quase impossível com um congresso republicano, mas abre uma avenida para os democratas ganharem votos junto ao importante eleitorado hispânico. Uma solução para o programa nuclear iraniano depende, sobretudo de Teerã. E se o acordo for alcançado, vai ser difícil para um senado republicano rechaçar tal vitória de política externa.

O TPP e o TTIP seriam a jóia da coroa da presidência Obama: uma reorganização da economia global em torno da potência dos Estados Unidos e de novas regras de abertura comercial. Até hoje, quem emperrava essas negociações era o Partido Democrata e suas bases sindicalistas, ecologistas e defensores dos consumidores. Os republicanos, pelo contrário, sempre foram favoráveis às aberturas comerciais. Um senado republicano tem muito mais chances de autorizar e aprovar essas negociações do que os democratas.

A ironia da história é que o principal legado internacional de Obama pode ser garantido pela vitória do Partido Republicano nessas eleições de meio mandato. Mas vai depender muito do jogo de cintura, pouco flexível, do primeiro presidente americano negro.

* Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, assina esta coluna semanal para a RFI Brasil
 

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