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O Mundo Agora

Hong Kong é a galinha dos ovos de ouro do capitalismo autoritário chinês

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Multidões invadindo as ruas e bairros de Hong Kong, gritando por liberdade: Xi Jinping e o Partido Comunista Chinês estão com um baita problema nas mãos. De repente, surge de novo o fantasma do massacre da Praça da Paz Celestial, há 25 anos, quando o governo chinês pôs a tropa na rua para esmagar o primeiro grande movimento pró-democracia da era comunista.  

Hong Kong entra no terceiro dia de manifestações consecutivas nesta terça-feira (30).
Hong Kong entra no terceiro dia de manifestações consecutivas nesta terça-feira (30). REUTERS/Carlos Barria
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Só que Hong Kong não é Pequim. Hoje o sucesso econômico chinês – e portanto o poder do partido – depende dos mercados e do comércio internacional. E Hong Kong, com o seu estatuto especial de “um país, dois sistemas”, é a galinha dos ovos de ouro do capitalismo autoritário chinês. É por aí que passam os fluxos financeiros e boa parte do comércio do milagre econômico da China.
O problema para as autoridades de Pequim é complexo. Acabar na porrada com o movimento democrático e pacífico da juventude e da população de Hong Kong só pode afundar a economia da ilha e criar enormes tensões com o resto do mundo. Seria matar a famosa galinha. Mas não reprimir pode encorajar a juventude das grandes cidades da China continental que também anseiam por mais liberdade.

Queda de braço

É a velha história do tiro no pé. Quando em 1997, Pequim recuperou a antiga colônia britânica de Hong Kong, os chineses se comprometeram em garantir – durante 50 anos – as liberdades democráticas e um alto grau de autonomia para ilha, salvo em matéria de política externa e de defesa. A população tem direito a eleições razoavelmente democráticas, a imprensa diz mais ou menos o que quer e a juventude usa freneticamente o Twitter e o Facebook.

Só que pelo visto, para o Partido Comunista é liberdade demais. Não só para os estudantes e cidadãos em geral, mas também para as elites econômicas e às vezes políticas da ilha que gozam de uma certa dose de independência. Pequim não está a fim de aturar eleições livres para a escolha do próximo Chefe do Executivo de Hong Kong em 2017, e decidiu se atribuir o poder de vetar os candidatos considerados não “patrióticos”. Depois de várias outras manobras de intimidação que aconteceram nos últimos meses, essa decisão foi a gota d’água. E agora os estudantes estão na rua.

A queda de braço é seríssima porque a China não anda bem das pernas. A economia chinesa vem freando, várias bolhas – imobiliária e financeira – vêm inchando, e a saída das exportações não é mais o que era. O ainda “pibão” chinês mal dá para manter o equilíbrio social interno e só se mantém graças a uma enxurrada de dinheiro público que continua alimentando as bolhas. Com medo de perder o controle da situação, Xi Jinping está querendo centralizar o poder para recuperar a autoridade política sobre os atores econômicos dentro e fora do Partido.

Internet e redes sociais censuradas

As reformas visando liberalizar um pouco mais a economia estão sendo abandonadas, apesar do consenso que existe entre os dirigentes chineses de que são fundamentais para sair do buraco. Isso sem falar no perigo das revoltas nas regiões periféricas, no Xinjiang ou no Tibete.

Claro, as primeiras vítimas dessa volta do autoritarismo aberto são as poucas liberdades ainda toleradas, e particularmente o acesso à internet e as redes sociais, cada dia mais censuradas. Como sempre, quando as coisas vão mal, os dirigentes chineses, com medo da reação da própria população, querem se fechar e segurar o país na marra.

Por enquanto, os chineses continentais sabem muito pouco do que está acontecendo em Hong Kong. A mídia chinesa fala de tudo menos disto. E as redes sócias estão bloqueadas. Só que essa situação não pode durar para sempre. Cada dia que passa, cada pequena vitória dos manifestantes na ilha vai sendo conhecida pouco a pouco pelos chineses do continente.

Recuar na questão dos candidatos à eleição de 2017 para apaziguar as manifestações seria abrir um espaço para a contestação no resto da China. Mas não recuar é jogar lenha na fogueira e acabar sendo obrigado a usar a violência, ameaçando a saúde econômica de uma das regiões mais importantes para economia chinesa que já está com problemas graves. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
 

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