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Nos EUA ou no Brasil, jovens negros sofrem com racismo policial

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A tensão crescente em Ferguson, nos Estados Unidos, levanta a questão sobre a estigmatização, pelas polícias, da população negra, jovem e de baixa renda, um problema que está longe de ser exclusividade dos americanos. Na opinião da antropóloga Haydée Caruso, especialista em segurança pública e cultura policial, as forças de segurança – em especial as militarizadas - precisam aprender a lidar melhor com a diversidade.

Protesto nas ruas de Ferguson, Missouri, 19 de agosto de 2014.
Protesto nas ruas de Ferguson, Missouri, 19 de agosto de 2014. REUTERS/Joshua Lott
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O jovem negro Michael Brown, de 18 anos, foi abatido com seis tiros por ser suspeito de ter roubado cigarros em um estabelecimento na cidade americana, no Estado de Missouri. Os protestos da comunidade negra contra a morte se iniciaram no mesmo dia, 9 de agosto, e se intensificaram na medida em que mais detalhes sobre o caso foram divulgados.

“Tanto aqui no Brasil quanto nos Estados Unidos, mas em vários outros países, como a França, existe uma cara definida para o ‘inimigo’: em geral são os meninos negros ou pardos, moradores de periferia, jovens de 15 a 24 anos, que estão sendo dizimados”, ressalta. “No Brasil, em muitos contextos das nossas grandes cidades, a gente vive um verdadeiro genocídio da juventude negra brasileira. Esse é um dado concreto, e nos Estados Unidos é exatamente assim. Os afrodescendentes estão morrendo nas mãos da polícia ou aumentando vertiginosamente o número de presos nas cadeias americanas.”

A pesquisadora da Universidade de Brasília e integrante do Observatório do Crime Organizado para América Latina e Caribe avalia que, mais uma vez, a formação deficiente das polícias é colocada em xeque: em vez de ensinar os agentes de segurança princípios básicos de direitos humanos, as academias de polícia continuam a pregar a violência e a repressão como principais ferramentas para o combate ao crime.

“A grande questão que está em pauta é: como é que a gente lida com a diversidade? E com a juventude? Como se evita a estigmatização, ao concluir que ‘se é jovem, preto ou pardo, é bandido’? Isso é o que nós vemos quando olhamos para o sistema prisional e para quem a polícia prende”, afirma.

Desmilitarização das polícias

Além do preconceito, Haydée Caruso lembra que o debate sobre a desmilitarização da polícia também está em alta tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Os americanos, no entanto, têm optado pela via oposta, a de armar cada vez mais os policiais. Para a pesquisadora, essa escolha ajuda a explicar tanto a morte do jovem negro em Ferguson quanto a resposta dura dos policiais para os protestos contra a discriminação racial.

“Desde 2009, estamos assistindo a uma militarização exacerbada das polícias norte-americanas em todos os níveis. Ferguson é um bom exemplo disso”, destaca. “A polícia mata um jovem em Ferguson e a consequência é o envio de blindados às ruas, armamentos de longo alcance, M-16, etc. É a polícia lidando com os conflitos internos em uma lógica de guerra, de que há um inimigo a ser combatido.”

Influência

No Brasil, a repressão policial muitas vezes desproporcional às manifestações que se iniciaram em junho levantaram o debate sobre a desmilitarização da polícia, um tema que Caruso espera ver com destaque na campanha eleitoral em curso no país. Mas a professora ressalta que a dinâmica americana atual pode contagiar a agenda brasileira, que tem os Estados Unidos como referência em diversas áreas, inclusive a segurança pública.

“Os Estados Unidos sempre foram, para a sociedade democrática, um exemplo nas suas polícias e no processo de reforma que elas vivenciaram, sobretudo a de Nova York, que é um caso emblemático para quem estuda segurança pública. Os principais teóricos da nossa aérea são americanos”, lembra. “Isso traz uma tônica sobre qual é a mensagem que está sendo dada: vamos resolver os conflitos e os problemas com mais polícia, mais fuzil, mais armamento pesado.”

 

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