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No Dia Mundial da Fotografia, o alerta é "pensar mais e clicar menos"

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Como as novas tecnologias revolucionaram a fotografia e o trabalho do fotógrafo? Com a digitalização das images e o surgimento dos smartphones e das redes sociais, principalmente o Instagram, muitas vezes é difícil para os olhares menos apurados diferenciarem as fotos amadoras das profissionais. O tema gera debate e divide opiniões, mas muitos fotógrafos se apropriaram da ferramenta para divulgar seu próprio trabalho.

Imagem publicada pelo fotógrafo Joel Silva em sua conta no Facebook
Imagem publicada pelo fotógrafo Joel Silva em sua conta no Facebook (Foto: Joel Silva/Arquivo Pessoal)
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O Dia Mundial da Fotografia é comemorado nesta terça-feira (19). É consenso entre os profissionais que as revoluções tecnológicas dos últimos 15 anos tiveram um impacto sem precedentes na captura das imagens e também na profissão de fotógrafo. Joel Silva, repórter-fotográfico do jornal Folha de S. Paulo há 20 anos, cobriu vários conflitos armados, entre eles a guerra na Líbia em 2011. Adepto do digital e de Instagram, Joel, entretanto, faz suas ressalvas em relação à era da super-instantaneidade.

Segundo ele, o fotojornalista que aprendeu a fotografar na era analógica "pensa um pouco mais e aperta menos botão". Para ele, “o fotógrafo tem que pensar, elaborar a fotografia dele. É verdade que uma zona de conflito ou uma cobertura de um jogo de futebol requer mais cliques para que você obtenha o lance certo. Mas mesmo assim, se você observar o trabalho de Robert Capa ou Maurício Lima, vai perceber que tudo é muito pensado. Então penso que essa nova geração não entende muito isso, essa necessidade de elaborar. As pessoas fotografam muito e pensam pouco."

O repórter-fotográfico deixa claro ser favorável às novas tecnologias e alimenta com frequência sua conta no Instagram. "Eu observo muito o Instagram. Um fotógrafo nunca deixa de estudar e praticar sua fotografia. Instagram é uma ferramenta fantástica para quem se interessa por fotografia. Tem fotos feitas por celular muito boas. Na verdade, a fotografia está nos olhos das pessoas. E cada pessoa tem um modo de ver as coisas, enxergar o mundo. E o fotógrafo se abastece disso, se abastece dos olhares. Um fotógrafo então tem interesse em olhar o que um amador está fotografando."

"A essência das coisas está ficando mais distante"

O fotógrafo Gustavo Lacerda recebeu vários prêmios, entre eles o New York Festivals International Advertising Awards, em 2002. Seu trabalho mais recente, "Albinos", foi exibido em galerias do mundo todo e recentemente se transformou em um livro no Brasil.

A obra, que reúne as fotos de um trabalho realizado ao longo de cinco anos de pesquisa, será lançado amanhã em sua terra natal, em Belo Horizonte. Gustavo ainda utiliza filmes em seus trabalhos, mas, para essas fotos, ele preferiu a câmera digital, por questões de praticidade. "A fotografia digital e as novas tecnologias impactaram diretamente, no fazer, e filosoficamente questões como o tempo, o presente, o passado. Talvez agora seja difícil de sentir, mas no futuro falaremos dessa época como um divisor de águas."

Mesmo sendo adepto do Instagram, Gustavo entretanto tem um olhar crítico em relação à era dos 'selfies'. "É uma coisa muito narcisista. Pode até parecer um discurso meio pessimista, mas acho que ao mesmo que as novas tecnologias democratizaram o acesso à fotografia, tornaram as coisas menos aprofundadas. Há uma vulgarização e um uso narcisista, uma necessidade de mostrar que tudo é ótimo e bonito nas redes sociais. A essência das coisas está ficando mais distante. Participo ativamente deste processo e vivo esse tempo, e justamente por participar tenho uma visão mais crítica. Tento não ter uma relação neurótica com isso, no início é uma tendência natural, mas aos poucos isso vai banalizando e há uma necessidade de buscar coisas mais aprofundadas."
 

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