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Reportagem

Cansados de violências nas redes sociais, jovens publicam fotos pela paz

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O conflito entre Israel e o Hamas em Gaza invadiu as redes sociais, onde os internautas propagam não apenas as opiniões sobre o confronto, como trocam acusações e compartilham fotos, vídeos e textos, muitas vezes de origem duvidosa. Cansados do clima de guerra que se instalou nos sites como Facebook e Twitter, jovens judeus e árabes tomaram a iniciativa de erguer, pelo menos na internet, uma bandeira virtual pela paz.

Dania Darwish e Abraham Gutman.
Dania Darwish e Abraham Gutman. @abgutman.jpg
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Em apenas duas semanas, a página Jews & Arabs refuse to be Enemies (Judeus e Árabes se recusam a serem inimigos) já têm quase 20 mil seguidores e a hashtag com a expressão já foi usada centenas de milhares de vezes. A iniciativa convida os judeus e árabes amigos ou familiares a compartilharem as experiências, acompanhadas de uma foto.

A página foi aberta pelos estudantes Abraham Gutman e Dania Darwish. Ele é israelense e ela é síria, mas os dois mantêm uma amizade que está acima do conflito.

“Nós percebemos que as nossas timelines do Facebook e do Twitter estavam ficando cada vez mais violentas. Nós não compreendíamos, afinal tínhamos a nossa experiência, um com o outro, mostrando que há maneiras de debater essas questões e continuar civilizados”, conta o jovem de 23 anos. “Nós quisemos criar um espaço onde as pessoas pudessem ter essa experiência, onde as pessoas possam não estar de acordo e advogar por uma ou outra solução, mas onde as pessoas acreditem serem parte da solução, e não parte do problema.”

 

 

A página no Facebook teve um sucesso imediato. Um casal em que ela é judia e ele palestino exibe a foto com a filha, enquanto um casal homossexual formado por um judeu e um árabe posa diante da bandeira gay. Os fundadores Abrahan e Dania não esperavam tanto sucesso. Para eles, só há uma explicação: o imenso número de pessoas que preferem uma posição equilibrada no conflito, e não concordam totalmente com nenhum dos lados do conflito.

“É muito legal de ver esse retorno. Eu acho que para muita gente, dos dois lados, ver coisas que não estão carregadas de ódio traz um novo ar”, afirma Abrahan. “Dá um alívio ler uma coisa no Facebook ou no Twitter sobre política, sobre o Oriente Médio e sobre a ofensiva israelense de uma outra maneira. Acho que as pessoas estão gostando.”

Coma homus, não faça guerra

Na França, onde duas manifestações em defesa dos palestinos já se transformaram em quebra-quebra, as posturas exacerbadas também invadiram a internet. Incomodada com a situação, um grupo de amigos árabes e judeus de Paris teve a ideia de simbolizar a paz através do homus, a pasta de grão-de-bico apreciada tanto por um povo quanto o outro.

A estudante Eva (o nome foi trocado a pedido dela) explica que o homus é o símbolo da relação cordial que os dois poderiam ter. Por isso, ela incita os internautas a publicarem fotos saboreando o prato, ao invés de trocarem ofensas. A página The Hummus Initiative já tem mais de 3,3 mil seguidores.

“Nós pensamos que as pessoas deveriam parar um momento de colocar lenha na fogueira por nada, porque para completar, essa violência é inútil e não adianta nada. Em vez disso, elas deveriam comer homus!”, se diverte. “Seria bom se pudéssemos ver outra coisa que não o ódio. Então demos um jeito de as nossas timelines mostrarem mensagens mais positivas, de esperança e de paz, para contrabalançar todas as mensagens de ódio, que continuam.”

"Selfies" comendo homus fazem sucesso na França.
"Selfies" comendo homus fazem sucesso na França. Facebook


Espaço aberto – também para mentiras

Dilton Cândido Maynard, professor da Universidade Federal de Sergipe e especialista em cibercultura e ativismo na internet, observa que as redes sociais aproximam não apenas as pessoas, como as notícias de todo o mundo. As pessoas acabam se sentindo incitadas a comentar sobre tudo – e muitas vezes até obrigadas a fazê-lo.

O problema, ressalta, é que internet também circula muita informação não confiável, que serve de munição nas discussões. “O que torna a coisa mais complicada é que quando isso passa para as redes sociais e a internet, as notícias que já são distorcidas e extremadas podem ser facilmente manipuladas. Os ambientes eletrônicos permitem a manipulação da imagem, do texto, dos dados”, destaca. “E a velocidade com que nós consultamos a informação não é a mesma com que nós verificamos a veracidade, a autenticidade dessa informação.”

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