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O Mundo Agora

Europa depende não só do gás russo, mas também do petróleo árabe

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Os europeus estão começando a ficar bem nervosos, e com razão. Não se trata tanto da crise econômica nos países do sul do continente (eles estão começando a sair do buraco), nem do crescimento do voto anti-Europa (que, claro não é uma boa notícia). O medão agora é o futuro energético.

Crises no Iraque e Ucrânia é ameaça ao fornecimento energético do velho continente.
Crises no Iraque e Ucrânia é ameaça ao fornecimento energético do velho continente. REUTERS/Gleb Garanich
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Como evitar um apagão geral, sem ter que ficar de joelhos implorando a Rússia para que continue fornecendo gás? É sempre bom lembrar que o Velho Continente, sobretudo a Alemanha e as regiões orientais dependem entre 30 e 80% das importações de gás russo. Não bastava a anexação da Crimeia pelo Kremlin e as ameaças de Putin de fechar a torneira do gasoduto que atravessa a Ucrânia.

Agora vem os hiper-islamitas radicais na Síria e no Iraque proclamar a criação de um “califado” islâmico que pode desestabilizar uma parte significativa da produção de petróleo do Oriente Médio, estourando os preços do óleo e portanto também do gás. Ora, a Europa é uma região totalmente dependente não só do gás russo mas também do petróleo árabe.

Dependência energética

De repente, nas capitais europeias, o assunto virou prioridade das prioridades. Mas o que fazer? Não dá para mudar, do dia para a noite, todo o esquema de fornecimento ou a matriz energética de uma região tão extensa, rica e com uma produção tão sofisticada quanto a Europa. A verdade é que essa dependência toda não vai desaparecer, mas é possível reduzí-la num lapso temporal razoável. Existem algumas decisões técnicas possíveis, mas o problema é que todas custam bastante caro em termos políticos.

O caminho das pedras é obviamente tentar diversificar ao máximo as formas de energia e os fornecedores. Não existe bala de prata única. Por enquanto os europeus decidiram apostar várias fichas nas energias renováveis – sobretudo solar e eólica.

A ideia é que essas energias possam chegar até um terço do consumo. O problema é que elas não funcionam em permanência: quando não tem sol ou vento é sempre necessário importar hidrocarbonetos. Só que vão importar menos do que hoje.

Outra via, mais promissora, é utilizar as novas tecnologias da informação e comunicação para economizar energia graças as redes elétricas “inteligentes” e a organização racional de todas as técnicas para gastar menos potência. Só que isso leva tempo e obriga a mudar o modelo de organização social da vida cotidiana, o que tem custos políticos altos.

A terceira possibilidade é importar menos da Rússia e do Oriente Médio e mais dos novos produtores (os Estados Unidos com o seu gás e óleo de xisto, o México com suas reformas do setor petroleiro, o pré-sal brasileiro ou as grandes descobertos de petróleo e gás nas costas africanas). A questão aí é que a Europa tem que concorrer com os mercados consumidores asiáticos, sedentos por energia e que pagam preços bem maiores aos produtores.

Mercado único de energia

A verdade é que a melhor solução – e de longe – é simplesmente acabar com as imensas ineficiências do mercado energético europeu criando um verdadeiro mercado único da energia que cobriria todo o Velho Continente. Mas essa solução simples que só depende dos próprios europeus é na verdade a mais difícil de todas. Cada governo europeu defende com unhas e dentes os seus próprios campeões energéticos nacionais e não estão nada a fim de aceitar a concorrência dos vizinhos no mercado doméstico.

Hoje, por exemplo, o gás importado da Argélia via gasodutos que passam pela Espanha e a Itália esbarra nos Pireneus e nos Alpes porque a França ou os vizinhos setentrionais da Itália não querem esses gasodutos no seu território. Há anos que se fala em colocar mecanismos de reversão de fluxos nos gasodutos que vêm da Rússia para poder alimentar os países mais dependentes em caso de tensão com o Kremlin.

Mas até hoje, necas! Ninguém quer abrir mão dos monopólios nacionais no seu mercado interno, mesmo que isso signifique ficar a mercê dos humores de Putin ou dos terroristas islamitas no Oriente Médio. A União Europeia foi feita para acabar com esses nacionalismos imbecis. Mas pelo visto, até em plena crise e morrendo de medo de um mega-apagão, ainda tem muito caminho pela frente.

Clique no ícone acima para ouvir a crônica de política internacional de Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris.

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