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Planeta Verde

Estudo alerta para consequências do declínio de insetos na natureza

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Todo mundo já ouviu falar sobre o problema do desaparecimento das abelhas devido ao uso de pesticidas. O que pouca gente sabe é que as abelhas são apenas a ponta de uma situação que preocupa muito mais os especialistas: o desaparecimento dos insetos em geral. O estudo mais completo sobre o assunto foi lançado pela TFSP (Força-Tarefa sobre Pesticidas Sistêmicos, na sigla em inglês), um grupo de 50 cientistas de 15 nacionalidades, que analisou, durante mais de quatro anos, os efeitos desses agrotóxicos nos ecossistemas.

As borboletas também são agentes polinizadores.
As borboletas também são agentes polinizadores. Flickr/ Creative Commons
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A conclusão é de que, ao serem persistentes no ambiente, solúveis na água e usados de maneira constante, esses produtos ameaçam direta e indiretamente a sobrevivência de milhares de animais. Muitos pássaros e peixes, por exemplo, se alimentam de insetos. Como a contaminação do solo reduz a população de moscas, formigas ou besouros, os outros animais também estão se tornando mais raros. Sem contar que os pássaros também consomem diretamente grãos banhados de pesticidas.

O cientista Jean-Marc Bonmatin, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS) e um dos autores do estudo, lembra que um agravante do problema é o fato de os agrotóxicos serem usados preventivamente contra o risco de pestes.

“Eles não esperam ter um problema de pestes para usar pesticidas: eles usam antes, o que nos parece ridículo. Nós não somos contra a agricultura e nem contra a indústria fitossanitária. O que nós dizemos é que essas ferramentas, e em especial os inseticidas sistêmicos, devem ser usados de maneira e em quantidades corretas”, afirma. “No entanto, 90% da utilização não é justificada, e ainda por cima não serve para quase nada, afinal só deveria ser feita quando há necessidade. Nós, por exemplo, só tomamos antibióticos quando temos uma infecção, e não preventivamente.”

Produção vai cair

Os cientistas afirmam que a maior parte dos produtos não é absolvida pelas plantas e permanece na natureza. Bonmatin alerta que o declínio dos insetos polinizadores, como as abelhas ou as borboletas, terá consequências graves na produtividade agrícola.

“Cedo ou tarde, haverá um problema de produção agrícola, porque se as plantas não são polinizadas, não terá mais cenoura, tomate, etc. Ou seja, ao utilizar produtos fitossanitários como esses, com o objetivo de produzir mais, eles vão acabar produzindo menos”, destaca.

Medidas de precaução

O pesquisador francês chama a atenção para o uso indiscriminado de agrotóxicos sistêmicos nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Na Europa, cada vez mais produtos têm sido proibidos pelas autoridades sanitárias, mas ainda resta muito a fazer, conforme Bonmatin.

“Se não agirmos rapidamente, vamos repetir situações perigosas que a história mundial já conheceu, como os DDTs nos anos 50. Só tentamos corrigir o problema depois que a catástrofe aconteceu”, observa. “Agora, temos um pouco de antecedência e por isso lançamos esse alerta, para que o problema seja examinado com mais seriedade do que tem sido até agora. As nossas conclusões são relativamente simples: precisamos fazer alguma coisa com urgência.”

O estudo é resultado da análise de cerca de 800 artigos científicos, publicados nos últimos 20 anos. As conclusões serão publicadas ao longo de oito edições da revista científica Environmental Science and Pollution Research.
 

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