Conferência internacional discute violência sexual em guerras
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Uma conferência internacional discute a violência sexual em conflitos armados em Londres. O encontro foi aberto ontem pelo ministro do Exterior britânico, William Hague, e pela atriz Angelina Jolie, que também é embaixadora do Comissariado para Refugiados da ONU. Os dois líderes pediram para que os mais de cento e quarenta países que participam da reunião adotem a prevenção de estupros e outros atos de violência contra mulheres como parte obrigatória do treinamento militar. Esta é a primeira vez que se organiza uma conferência deste porte para discutir um problema que afeta milhares de famílias em dezenas de países em guerra.
Por Maria Luísa Cavalcanti, correspondente da RFI em Londres
A conferência internacional é o resultado de dois anos de uma campanha do Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha e da ONU. Nesse período, o ministro William Hague e a atriz Angelina Jolie visitaram zonas de conflito e conversaram com vítimas de estupros em países da África, da Ásia e até da Europa. O ministro disse que os depoimentos mostraram que a violência sexual foi e continua sendo usada sistematicamente como uma arma de guerra e é um dos piores crimes em massa dos tempos atuais.
Um dos exemplos citados pela campanha que está por trás da conferência é o do conflito na Bósnia. A ONU acredita que nos três anos da guerra, de 1992 a 1995, até 50 mil mulheres e crianças sofreram estupros. Na República Democrática do Congo, só no ano passado, foram mais de 800 casos de estupro. Hoje, a ONU diz que o problema ocorre ou tem risco de ocorrer em pelo menos 21 países, inclusive na Colômbia e na Síria. O recente caso do sequestro de duzentas meninas na Nigéria também foi lembrado.
Impunidade é um dos piores problemas
Na Bósnia, por exemplo, menos de 70 pessoas foram condenadas por esses crimes. Ontem, na abertura da conferência, tanto Hague quanto Angelina Jolie reforçaram a ideia de que a impunidade impera nesses países e muitas vítimas se sentem envergonhadas, humilhadas e têm dificuldades de superar o trauma.
Além dos representantes de mais de 140 países, o encontro reúne médicos, psicólogos, ONGs, líderes religiosos e sobreviventes do conflito. Um evento paralelo com palestras, projeções de filmes e espetáculos artísticos também está ocorrendo na tentativa de chamar a atenção da população para o problema.
Ontem, o papa Francisco fez um apelo em sua conta no Twitter para que se reze pelas vítimas desse tipo de violência e pelas pessoas que combatem esse crime. Ele usou a hashtag TimetoAct – hora de agir – que é a marca oficial da campanha da ONU.
Protocolo internacional
O ministro William Hague já anunciou uma ajuda de mais de quatro milhões de libras – quase cinco milhões de euros ou quinze milhões de reais – ao fundo das Nações Unidas que ampara mulheres vítimas de violência, principalmente para ajudar essas vítimas a reconstruir suas vidas. Até o fim do encontro, os organizadores esperam lançar um protocolo internacional para documentar e investigar casos de violência sexual em conflitos, e para obrigar os países signatários a incluir no treinamento de seus militares táticas para evitar esse tipo de crime. Eles também deverão apoiar as vítimas.
A ONU quer criar uma consciência de que o estupro coletivo e outros crimes não são uma parte inevitável das guerras e precisam ser combatidos. O secretário de Estado americano, John Kerry, está sendo aguardado na sexta-feira aqui em Londres para participar do lançamento e da assinatura desse protocolo.
Participação brasileira
No ano passado, o Brasil assinou a declaração da Assembleia Geral da ONU contra o uso da violência sexual como arma em conflitos armados, o que abriu caminho para o encontro que está sendo realizado em Londres. Além disso, a Embaixada da Grã-Bretanha no Brasil está organizando eventos para conscientizar a população e as autoridades brasileiras.
Na segunda-feira, foi feito um debate com a Universidade de Brasília, a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres e representantes da Embaixada britânica. Os britânicos dizem que o Brasil tem muito a contribuir por causa da experiência no comando da Minustah, no Haiti, por causa de atuações na Guiné-Bissau e também pela experiência da pacificação nas favelas do Rio.
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