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Planeta Verde

Mudança ambiental nos EUA "alteraria o equilíbrio mundial"

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Depois de anos de esperanças frustradas de um acordo internacional para limitar as mudanças climáticas, o presidente americano, Barack Obama, anunciou a intenção de adotar novas normas para reduzir em 30% as emissões de gases de efeito estufa pelas usinas de energia elétrica americanas. A mudança, que seria sem precedentes na posição do país sobre o tema, seria aplicada pela EPA, a Agência de Proteção do Meio Ambiente, sem precisar da aprovação do Congresso, avesso a compromissos ambientais.

Reunião sobre mudanças climáticas em Bonn (Alemanha) se iniciou na quarta-feira (4) e é a última etapa antes da cúpula no Peru, em dezembro.
Reunião sobre mudanças climáticas em Bonn (Alemanha) se iniciou na quarta-feira (4) e é a última etapa antes da cúpula no Peru, em dezembro. Divulgação / unfccc.in
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O anúncio trouxe otimismo à reunião de especialistas em clima e negociadores de 195 países em Bonn, na Alemanha, nesta semana. Para o professor Roberto Schaeffer, especialista em planejamento energético e membro do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima das Nações Unidas), o novo cenário “alteraria completamente o equilíbrio mundial” sobre o tema.

Que influência essa possível mudança dos americanos poderia ter nas negociações internacionais de um acordo climático?
Roberto Schaeffer: Essa posição americana de atribuir ao EPA a obrigação de regulamentar as emissões de gases de efeito estufa pode, de fato, vir a alterar o fiel da balança. Isso é muito importante. Até então, os Estados Unidos tinham dificuldade em participar de qualquer acordo global de redução das emissões, inclusive pela posição muito contrária do Congresso americano a qualquer iniciativa. Nesse caso, a Europa não ficaria mais isolada no protagonismo nas questões das mudanças climáticas e teríamos um país de peso, como os Estados Unidos, se associando a esse processo.

O senhor acha que a chamada “revolução do folhelho” (shale gas) nos Estados Unidos foi decisiva para que o presidente Obama pudesse, só agora, se comprometer a diminuir as emissões das usinas de energia fóssil, como o carvão?
É difícil dizer, mas durante muito tempo, parte da pressão política que o governo americano sofria para lidar com a questão da mudança climática tinha a ver com a importância dos recursos de carvão na matriz elétrica americana, afinal a principal fonte de geração elétrica nos Estados Unidos ainda é o carvão. Com essa nova regulamentação em tramitação, o carvão será violentamente afetado. Curiosamente ou não, há uma revolução energética ocorrendo nos Estados Unidos, depois das grandes descobertas de gás e óleo de folhelho, o que tem alterado o perfil elétrico americano. É muito mais fácil hoje, para os Estados Unidos, lidar com restrições a emissões de gás, na medida em que hoje eles conseguem migrar mais facilmente do carvão para o gás natural.

Após o anúncio de Obama, a China informou que pretende aplicar um teto de emissões de gases a partir de 2016. Uma mudança da posição americana poderia levar a maior poluidora do planeta a também rever os seus compromissos?
Se de fato os Estados Unidos levarem avante isso, que parece ser o que vai acontecer, o equilíbrio mundial se altera completamente. Países como Índia, China e Brasil até então se arvoraram, em parte, por que os Estados Unidos não aderiram a um compromisso de redução de emissões, e por isso também não assumiram compromissos mais sérios. Isso pode mudar totalmente já nas negociações para a Conferência do Peru, em 2014, e principalmente em Paris, em 2015, quando o regime pós-2020 será discutido entre os países. Daria muito mais otimismo para todos, para acreditar que no pós-2020, possamos vir a ter um regime sério de redução de emissões que se aplique a todas as economias relevantes no mundo.

Qual a margem de mudanças que a China teria para poluir menos?
A China é ainda mais dependente do carvão que os Estados Unidos. Boa parte do crescimento recente da China e da projeção de crescimento do país a curto e médio prazo estará ainda baseado no carvão, embora as fontes alternativas de energia também estejam aumentando. Uma das maneiras que a China encontrará para reduzir emissões será apostar numa nova tecnologia, e não diminuindo o peso do carvão. Trata-se do chamado CCS (Carbon Capture and Storage), o seja, a captura e o armazenamento geológico da emissão de CO2 advinda de uma térmica a carvão. Essa tecnologia ainda se encontra em fase piloto. É como se, em vez de emitir o CO2 para atmosfera, você o colocasse no subsolo da terra. Não há grandes barreiras tecnológicas à implementação do CCS – basicamente, é uma questão de custo.
 

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