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Fato em Foco

Especialistas comentam episódios de racismo no esporte

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Os recentes episódios de racismo no mundo dos esportes trouxeram novamente à tona a questão da tolerância nas quadras e nos gramados. A RFI ouviu um historiador, que analisa e origem de alguns desses insultos, e um advogado especialista de direito desportivo, que comenta a legislação que enquadra esse tipo de crime.

Protesto contra insulto racista feito ao meio de campo Yaya Touré, do Manchester City.
Protesto contra insulto racista feito ao meio de campo Yaya Touré, do Manchester City. Reuters/Darren Staples
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A reação do jogador brasileiro Daniel Alves, que respondeu aos ataques de cunho racista comendo uma banana atirada contra ele durante o jogo do Barcelona contra o Villareal no domingo (27), acabou criando uma mobilização na internet. Já os comentários do proprietário do time de basquete norte-americano Los Angeles Clippers, da NBA, Donald Sterling, que teria criticado o fato de sua namorada aparecer em público com negros suscitou uma reação até mesmo do presidente Barack Obama. No entanto, apesar das críticas lançadas contra esses episódios, ainda são raros os casos de punição.

O advogado especialista em direito desportivo e colunista do site Sr. Gol, Márcio Cruz, explica que, no caso do futebol, a Fifa (Federação Internacional de Futebol) prevê penas de suspensão de no mínimo cinco partidas, interdição de estádio aos torcedores identificados e uma multa de, no mínimo, 20 mil francos suíços (cerca de R$ 50 mil) em caso de ofensas racistas. “No Brasil existe um Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que é aplicável a todos os esportes, mas há tribunais independentes para cada modalidade desportiva”, explica o advogado. No entanto, segundo ele, nem sempre há uma aplicação rigorosa da lei. “Uma forma de modificar esse quadro seria uma série de alterações estatutárias, com previsões específicas de punições das entidades de prática desportiva contra seus associados, podendo ampliar isso aos torcedores que participarem dos eventos”, analisa.

Já o historiador da Universidade Paris X, Jean-Pierre Blay, especializado na história do esporte e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, lembra que esse tipo de fenômeno de hostilidade não é algo novo no mundo esportivo. Mas na Europa os casos de racismo se misturam com questões de nacionalismo ou de regionalismo. “Esses insultos exprimem uma forma de intolerância e medo de uma ameaça do desconhecido”, analisa. Para explicar seu argumento, ele cita a rivalidade entre a franceses e britânicos nas corridas de cavalo, no final do século 19, ou o episódio de um torcedor francês que agrediu fisicamente o ciclista belga Eddy Merckx durante a Volta da França, em 1975. Mas para o especialista, essa tensão também pode ser sentida dentro de um mesmo país com disputas regionais, como no caso do duelo entre o Norte e o Sul da Itália. 

Medo do Brasil na Copa

No entanto, para o historiador, no caso de craque do Barcelona, a aproximação da Copa do Mundo também pode ter contribuído para o episódio. “O Brasil vai jogar em casa e será a grande ameaça da Espanha, a seleção campeã, e esse torcedor (que lançou a banana) acha que Daniel Alves vai atrapalhar o jogo espanhol. Mas além disso, obviamente essa pessoa tem problemas profundos de aceitação dos negros”, conclui o professor. 

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