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Linha Direta

Abbas ameaça se reconciliar com Hamas e desmantelar Autoridade Palestina

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Frustado com o impasse nas negociações de paz com Israel, o presidente palestino Mahmoud Abbas ameaça dar passos polêmicos : se reconciliar com o grupo islâmico Hamas e até mesmo desmantelar a autoridade nacional palestina, entidade que governo a vida dos palestinos há 21 anos.

O dirigente do Hamas, Moussa Abu Marzouk( esquerda) e Azzam al-Ahmed, autoridade do Fatah(2° a esquerda), encontram-se com o depultado palestino, Ahmed Bahar. Gaza, 22 de abril de 2014.
O dirigente do Hamas, Moussa Abu Marzouk( esquerda) e Azzam al-Ahmed, autoridade do Fatah(2° a esquerda), encontram-se com o depultado palestino, Ahmed Bahar. Gaza, 22 de abril de 2014. REUTERS/Mohammed Salem
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Daniela Kresch, correspondente da RFI em Tel-Aviv

A ameaça mostra o nível de frustração dos palestinos em relação às negociações de paz com Israel, moderadas pelos Estados Unidos, que terminam oficialmente no próximo dia 29 de abril depois de nove meses de reuniões infrutíferas que não deram em nada.

Ontem, Abbas disse que só aceitará continuar a negociar se Israel cumprir com três exigências: libertar 26 presos palestinos que havia prometido, congelar a construção em assentamentos por três meses e definir, de uma vez por todas, quais serão as fronteiros do futuro Estado palestino.

Caso isso não aconteça, ele ameaça abandonar o cargo e entregar, como ele mesmo diz, as "chaves" dos territórios palestinos a Israel. Abbas afirma que poderá dissolver a Autoridade Nacional Palestina, uma entidade temporária criada há 21 anos para controlar todos os aspectos da vida civil dos palestinos.

Nesse caso, os israelenses teriam que arcar com essa responsabilidade, já que são oficialmente ocupantes desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Teriam que arcar com educação, pagamento de servidores públicos, infraestrutura, policiamento e tudo mais que os palestinos necessitam, o que custaria milhões e poderia levar confrontos.

Trata-se aí principalmente da Cisjordânia, com dois milhões e meio de habitantes, já que Israel se retirou da Faixa de Gaza em 2005 e já oferece serviços básicos para os palestinos de Jerusalém Oriental.

Abbas tem autonomia para acabar com a ANP, criada em 1993 em meio aos famosos Acordos de Oslo, os acordos de paz assinados pelo então primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin e o então líder da Organização para Libertação da Palestina, OLP, Yasser Arafat.

Sua duração prevista era de somente só cinco ou seis anos, até a criação de um Estado palestino definitivo, previsto para o fim da década de 90. Abbas pode simplesmente rejeitar os Acordos de Oslo e, consequentemente, acabar com essa entidade.

O departamento de Estado americano reagiu ontem a essa ameaça afirmando que ela teria “graves implicações” em relação ao apoio econômico dos Estados Unidos para os palestinos.

Abbas ameaça reconciliação com o Hamas

O líder do partido moderado Fatah, decidiu realmente procurar a liderança do grupo islâmico Hamas, rival ferrenho do Fatah, para tentar a chamada “reconciliação nacional”. Uma delegação do Fatah, que governa a Cisjordânia, chegou ontem à Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, para negociar.

É a primeira vez que o Fatah manda uma delegação oficial para Gaza desde 2007, quando o Hamas tomou o controle à força da região, praticamente dividindo os palestinos em dois povos: o da Cisjordânia e o de Gaza. Há anos há tentativas de reconciliação, mas que esbarraram em problemas ideológicos e lutas pelo poder.

Agora, frustrado e irritado com as negociações de paz, Abbas decidiu partir para uma espécie de “Plano B”: se reconciliar internamente com o Hamas. Israel não vê essa reaproximação com bons olhos, para dizer o mínimo. O Hamas é considerado por Israel como um grupo terrorista que está em estado de guerra constante com o país.

Desde 2007, o Hamas e seus aliados já lançaram milhares de mísseis e foguetes contra Israel, que responde aos lançamentos com ataques violentos à região. Pelo visão dos israelenses, se o Fatah se unir com o Hamas, será o fim das negociações, já que Israel não aceitaria negociar com uma entidade que considera terrorista e que não reconhece a existência do país.

Junto com a ameaça de dissolução da Autoridade Palestina, trata-se de uma pressão muito forte sobre Israel, que, claro, não se considera culpado pelo fracasso das negociações de paz e culpa os palestinos por isso. Mas, ao que tudo indica, a liderança palestina decidiu dar uma ultima carta uma semana antes do fim das negociações de paz. Resta saber se vai dar certo ou levará a uma implosão definitiva no relacionamento entre israelenses e palestinos.
 

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