Bouteflika deve se reeleger para seu 4° mandato como presidente da Argélia
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Dentro de um delicado cenário político, a Argélia elege nesta quinta-feira (17) seu próximo presidente. Ou provavelmente reelege Abdelaziz Bouteflika para seu quarto mandato seguido, com o apoio da Frente de Libertação Nacional (FLN), do exército e da elite empresarial, após uma controversa campanha eleitoral. Devido à gravidade de sua saúde, após sofrer um acidente vascular cerebral no ano passado, o candidato-presidente de 77 anos não fez nenhuma aparição pública durante toda a campanha.
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Aclamado por uma parte da população pelo restabelecimento da paz e a luta contra o terrorismo no final dos anos 90, Bouteflika desagrada a oposição que o acusa de fraudes nas eleições precedentes e critica a corrupção de seu governo. Contra ele, estão um forte movimento popular e seu principal rival, o candidato Ali Benflis.
O professor da Universidade Federal da Bahia e PhD em Economia, o argelino radicado no Brasil, Bouzid Izerrougene, esteve na Argélia há 20 dias, onde observou o fim da legitimidade de Bouteflika , depois de 15 anos no poder. Para ele, seu governo foi marcado por escândalos de corrupção e pela falta de avanços.
Izerrougene ressalta que a única vantagem do governo do candidato-presidente foi restabelecer a paz no país, colocando um fim ao terrorismo e à guerra civil no final dos anos 90. “Mas o mérito não é somente de Bouteflika, mas de toda a sociedade que contribuiu para que a situação se acalmasse”, analisa.
Entre os outro cinco candidatos à presidente, o único que ameaça o candidato-presidente é Ali Benflis, que de 2000 a 2003 foi seu primeiro-ministro de Bouteflika, para quem também perdeu as eleições de 2004. Antes mesmo da realização das eleições, o opositor prevê novas fraudes no pleito, a exemplo do que observou em 2004, quando Bouteflika venceu as eleições com 84,99% dos votos no primeiro turno. “Um resultado que não se vê nas democracias modernas”, sublinha Izerrougene.
“Na época, os fatos mostraram que os resultados das eleições foram realmente suspeitos. É possível que se repita este cenário”, prevê o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e diretor do grupo de estudos Observatório da Africa, Pio Pena Filho.
Movimentos de contestação
Quem também contesta a permanência de Bouteflika é o movimento Barakat, que realizou uma série de manifestações nos últimos meses e que, junto a outros movimentos islamitas, pede aos argelinos que boicotem as eleições. O grupo se nega aceitar o candidato presidente para seu quarto mandato.
O doutorando em Comunicação da Universidade Stendhal de Grenoble, o argelino Fateh Chemerik, explica que o Barakat falha por não estar vinculado a nenhum partido de oposição e não ter uma liderança definida. “É um movimento criado por intelectuais e integrado pelo povo, mas que não tem um líder definido. Eles estão se organizando e fazendo manifestações, mesmo que elas sejam proibidas por lei na capital Alger, mas não nas outras cidades. Eles podem protestar contra o quarto mandato de Bouteflika, mas sem apoiar um outro candidato”, explica.
Para ele, a democracia na Argélia está longe de funcionar na prática. “Se nos fazemos a pergunta: há uma democraia na Argélia? Na teoria, sim. Porque há muitos partidos políticos, teremos essas eleições com seis candidatos, há uma imprensa que todos acreditam ter liberdade... mas isso é a teoria. Porque na prática, não é o que acontece. Há um sistema que reina desde a independência do país em 1962, que escolhe quem pode ser eleito e os apresenta ao povo", diz.
Futuro político
De acordo com o professor Pena Filho, as previsões para a democracia argelina não são das melhores. Para ele, caso Bouteflika se reeleja, ele cumprirá mais um mandato sob a tutela dos militares e da elite empresarial. “O que não sabemos é se esse quadro poderá evoluir em uma retomada da Primavera Árabe”, se questiona.
Já se Benflis conseguir se eleger, o professor acredita que ele precisará de uma versatilidade política grande para conseguir o amparo dos setores militares. “Eu imagino um maior cenário de governabilidade com o Benflis do que com Bouteflika porque há uma população jovem que anseia por maior participação democrática e renovação política”, diz.
Para as populações nômades da Argélia, as eleições começaram na segunda-feira (14), através dos 167 locais de voto itinerantes. Ao todo, cerca de 23 milhões de eleitores devem participar das presidenciais.
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