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Brasileiras na França comentam polêmica pesquisa do IPEA sobre mulheres e estupro

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Uma pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre tolerância sexual à violência contra as mulheres, divulgada no fim da semana passada, está provocando uma onda de protestos nas redes sociais. Os resultados revelaram que 65,1% dos entrevistados concordam que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. "

Cartaz de convocação de protesto contra resultados da pesquisa do IPEA
Cartaz de convocação de protesto contra resultados da pesquisa do IPEA (Foto: Reprodução)
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A maioria dos participantes da pesquisa (58,5%), também declarou que, se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros. Duas constatações que deram origem a uma grande mobilização nas redes sociais e uma página no Facebook, "Eu Não Mereço Ser Estuprada". O grupo de discussão visa debater e lutar contra a desigualdade de gênero e já reúne mais de 6 mil participantes.

Nos dias que sucederam a divulgação da pesquisa, centenas de brasileiras publicaram fotos semi-nuas ou insinuantes com o hashtag #eunaomereçoserestuprada, na tentativa de conscientizar a população e abrir o debate em torno das constatações feita no estudo. A documentarista franco-brasileira Claire Sophie-Dagnan foi uma das mulheres que abraçou a causa. Não só para questionar o machismo no Brasil, mas também para mostrar que violência sexual "não é consequência do uso de uma roupa menos ou mais provocante", disse.

"Machismo não tem fronteira, mas a maneira de se ver é diferente na França e no Brasil. Na França ele é mais sutil, porque a igualdade de direitos entre homens e mulheres é protegida por lei e existe um debate muito aberto sobre o acesso da mulher ao emprego, à esfera pública, e na repartição das tarefas entre homens e mulheres no espaço privado", diz.

A jornalista e socióloga Erika Kobayashi, que já viveu em Paris e atualmente está em São Paulo, também participou do protesto digital, que, para ela, além de trazer resultados práticos, também quebra alguns tabus."Quando esse tipo de discussão vem à tona, a gente está remexendo em alguns tabus. E isso eu acho que é a consequência mais importante da pesquisa. Não é só mudando leis, que a gente muda comportamentos. Temos que investir na educação e na livre expressão de ideias para que possam gerar algum tipo de transformação", diz.

Reação das brasileiras se insere em contexto de protesto e mobilização

A professora de Teatro da Sorbonne, Chuca Toledo, acredita que a reação das brasileiras diante das conclusões da pesquisa se insere em um contexto de mobilização impulsionado pelos protestos do ano passado. "Tenho a impressão do país não ter  vivido uma ocupação das ruas tão positiva como a que o país tem experimentado nos últimos anos. O Brasil está acordado e tenta se unir para manifestar", disse.

A gerente Tatiana Bichara Leal, que está há quatro anos na França, lembra as diferenças da educação masculina nos dois países. "Aqui é ao contrário do Brasil, onde o homem é educado para ser garanhão e a menina recatada. A cultura sexista e machista é bem diferente da educação daqui. Meu marido por exemplo, lava, passa, cozinha, costura. Ou seja, faz tudo o que eu não faço !"

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