Posição da Rússia sobre Síria pode gerar desconforto na reunião do Brics
O conflito na Síria deve dar trabalho à diplomacia brasileira durante a 5ª Cúpula de Líderes do Brics em Durban. Ongs têm pressionado o Itamaraty a defender o envio de ajuda humanitária em larga escala ao país, em guerra civil há dois anos, mas a Rússia, principal aliado do regime de Bashar al-Assad, já deu sinais de que vai impor sua visão do assunto na declaração final dos emergentes.
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Após dois anos de conflitos de extrema violência, a situação humanitária na Síria é considerada catastrófica, segundo a ong Médicos Sem fronteiras (MSF). A ajuda oferecida é drasticamente inferior às necessidades da população. O bloqueio diplomático que impede uma resolução política do conflito não pode, de forma alguma, segundo a MSF, justificar o fracasso da resposta humanitária.
No entanto, o presidente russo, Vladimir Putin, avisou esta semana que o Kremlim prepara uma lista detalhada de suas “principais visões sobre assuntos relevantes da agenda internacional como a crise na Síria, os problemas do Afeganistão, Irã e Oriente Médio" para apresentar aos colegas em Durban.
Recentemente, uma conselheira do presidente sírio agradeceu o Brics pelo apoio que, segundo ela, teria evitado uma intervenção militar ocidental no país. “Graças a Deus, existe a Rússia, a China, a Índia e o Brasil que ao menos colocam um pouco de razão no que acontece dentro da comunidade internacional. Caso contrário, teríamos encarado o mesmo que a Líbia", disse Bouthaina Shaaban.
O cientista político Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e autor do blog Post-Western World, disse à RFI que dificilmente Brasil, Índia e África do Sul vão conseguir contrabalançar o peso da Rússia nas discussões sobre a Síria em Durban.
"Para Moscou, a Síria é um grande comprador de armas e o último aliado numa região em que os russos perderam influência", lembra Stuenkel. "A relutância russa em deixar outros países agirem na Síria é uma forma de preservar poder, uma maneira de dizer aos ocidentais ‘nós ainda somos importantes’, enquanto concordar com eles seria percebido como uma posição de submissão", analisa Stuenkel.
Sem o aval de Rússia e China, ambos com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, nada deve mudar na Síria, e enquanto esse status quo durar, a Rússia terá a impressão de se fortalecer, pouco importam os 70 mil sírios mortos. É muito provável que Rússia e China critiquem com firmeza a decisão dos ocidentais de armar os rebeldes sírios para acelerar a queda do regime de Damasco. Seria uma violação a um dos princípios mais valorizados pelos emergentes, a não-ingerência em assuntos internos de outros países.
O Itamaraty afirma que não se sente obrigado a concordar com a posição russa e vai buscar "um denominador comum".
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