Seca nos EUA é efeito das mudanças climáticas, diz especialista da ONU
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A grave seca que atinge vários países das mais variadas regiões do planeta coloca o mundo em alerta sobre os riscos de uma crise alimentar. A falta de chuva afeta os Estados Unidos e a Rússia, grandes exportadores de alimentos, e já provocou um aumento de 17% dos preços dos cereais em apenas um mês. Em entrevista à RFI, Mannava Sivakumar, diretor do Departamento de Previsões Climáticas da Organização Meteorológica Mundial da ONU, em Genebra, analisa as causas deste clima árido .
O especialista afirma que os fenômenos não são relacionados entre si, mas que em vários países, como no caso americano, a seca é um efeito direto das mudanças climáticas. "Pesquisas demonstraram que a probabilidade do forte calor ocorrido no Texas em 2011 ser causado pelas alterações climáticas era 20 vezes superior a chance de ser por causas naturais. A mesma situação foi comprovada na Grã-Bretanha, em que a probabilidade era ainda maior, de 60 vezes", disse. "Na Rússia é mais ou menos a mesma coisa, e no México também. Mas não se pode generalizar. Na India, está claro que o fenômeno das monções está fraco neste ano, fazendo com que 50% do território indiano esteja afetado pela seca."
Sivakumar lembra ainda que a situação dramática na Espanha, onde os incêndios florestais de verão já devastaram milhares de hectares, é normal para uma zona semi-árida.
Embora os dados ainda estejam sendo coletados para este ano, o o diretor ressalta que a ciência já comprovou que as mudanças climáticas vão ocasionar cada vez mais períodos longos de fortes secas como o atual. Por causa disso, a entidade das Nações Unidas vai realizar uma mega conferência ministerial em março do ano que vem, para impulsionar os países a se prepararem melhor contra os efeitos da seca, sobretudo na agricultura.
"Nós queremos estimular todos os países do mundo a criar um plano de política nacional contra a seca. Há 204 países no mundo, e apenas um tem um programa nacional: a Austrália", argumentou. "Se existe um plano, cada governo será obrigado a tomar atitudes sobre o que deve ser feito, em cada região do país. A falta de políticas adaptadas é a única causa dos impactos que estamos vendo hoje."
O nordeste do Brasil sofreu com seca entre março e maio, e agora a tendência é de ocorrência do fenômeno El Nino, que se caracteriza por poucas chuvas naquela região. José Antonio Aravequia, chefe da divisão de Operações do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, diz que a tendência é por menos chuvas nos próximos meses.
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