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Imprensa

Mulheres com véus voltam a causar debates sobre laicidade e islamofobia na França

A polêmica em torno do uso do véu islâmico está de volta na França. Os jornais Le Figaro e Aujourd’hui en France destacam o assunto nas suas primeiras páginas nesta quarta-feira (16).

Mulheres com véus em lugares públicos são o centro da polêmica que já dura 30 anos.
Mulheres com véus em lugares públicos são o centro da polêmica que já dura 30 anos. Jeff Greenberg/UIG via Getty Images
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Le Figaro coloca a ênfase sobre a divisão dentro do próprio governo e no A República em Marcha, partido de maioria na Assembleia Nacional, onde estão acontecendo os debates sobre se o uso do véu seria permitido para mães que acompanham seus filhos em passeios escolares.

Duas linhas se confrontam dentro do macronismo sobre a questão da laicidade, escreve Le Figaro. A disputa foi reacesa pelo ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, que considera que o uso do véu “não é desejado na nossa sociedade”.

O primeiro-ministro Edouard Philippe, que recusa de legislar sobre a questão de acompanhantes escolares, teve de chamar a maioria da Assembleia à ordem. A oposição, por sua vez, convida o presidente Emmanuel Macron a esclarecer sua posição sobre o tema.

Proselitismo?

Em seu editorial, o jornal conservador Le Figaro afirma que faz 30 anos que a França “se enrosca no véu islâmico”. Desde 1989, quando duas estudantes foram ao colégio com o véu, duas leis foram implantadas.

Uma em 2004, que proíbe qualquer símbolo religioso ostensivo dentro do ambiente escolar. Outra, de 2010, que sanciona qualquer cobertura do rosto no espaço público.

A cada lei, diz o editorialista, as palavras são escolhidas a dedo para não estigmatizar os muçulmanos nem ferir os direitos humanos.

Depois da declaração do ministro da Educação, o presidente Macron, que havia prometido expressar a sua própria concepção da Lei de 1905, que separa a Igreja do Estado, anda se esquivando, diz o editorialista, por medo de ser acusado de “islamofobia”.

O editorialista termina o texto dizendo que o porte de véu, burquíni ou abaya – que se propagam na França de hoje e seriam o “soft power” do islamismo – não são um estilo de moda ou um respeito às tradições religiosas, mas um ato político, militante e proselitista.

Segundo ele, este proselitismo se destina a colocar em questão o modo de vida, as leis e a sociedade francesas.  

Mãe agredida

Aujourd’hi en France, por sua vez, lembra que a polêmica voltou à tona por conta de uma mãe que acompanhou a classe de seu filho durante um passeio escolar, usando o véu ao participar de uma sessão no Conselho Regional de Bourgogne-Franche-Comté. Ela foi insultada por um vereador do partido de extrema direita Reunião Nacional, que exigiu que a mulher retirasse o véu.

Um vídeo com a cena se propagou nas redes sociais e causou escândalo no sábado (12). No vídeo, o filho, triste com a situação, chora ao ver sua mãe insultada.

Ontem, no vespertino Le Monde, 90 personalidades, entre elas o ator francês Omar Sy, pediram a Macron que condene a agressão sofrida por esta mãe muçulmana. Mas o presidente continua silencioso, lembra Aujourd’hui en France.

Entrevistado pelo jornal, o historiador Ismail Ferhart analisa que, se o governo se pronunciar, corre o risco de “abrir a caixa de Pandora”. Por enquanto, o primeiro-ministro rejeitou a ideia de criar uma nova lei para proibir símbolos religiosos em acompanhantes escolares.

Em entrevista à radio France Info nesta quarta, Tareq Oubrou, imã de Bordeaux, faz um apelo à reconciliação e diz que uma mulher pode ser uma boa muçulmana e não portar o véu.

“Por um lado, imãs e teólogos devem relativizar essa prática do véu, que não é essencial na vida de uma mulher muçulmana. É mais uma prática cultural que reflete certo pudor. O véu não define a muçulmana”, afirmou.

 

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