Le Figaro revela que 77% dos franceses pretendem votar em candidatos antissistema nas próximas eleições para presidente
O jornal Le Figaro desta quinta-feira (10) publica uma pesquisa exclusiva sobre as expectativas do eleitorado do país. "Os franceses atraídos pelo voto de protesto" é a manchete de capa do diário.
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De acordo com um levantamento realizado pela Fundação Para a Inovação Política e o Instituto OpinionWay, três a cada quatro eleitores franceses está disposto a recorrer a um voto antissistema nas próximas eleições presidenciais, em 2022. A pesquisa mostra que a tentação da contestação é principalmente impulsionada pela crise dos "coletes amarelos", movimento apoiado por 90% da população.
Le Figaro ressalta que o voto antissistema pode se inclinar tanto à extrema direita - representada pela líder Marine Le Pen - como à esquerda radical - liderada por Jean-Luc Mélenchon. A abstenção e o voto em branco também atingem patamares jamais vistos.
No total, 77% dos franceses ouvidos pretendem recorrer em 2022 ao fenômeno do "protesto eleitoral", demonstrando através do voto sua contestação, a rejeição da ordem política tradicional e a revolta radical contra o sistema. O fenômeno não é novo, observa Le Figaro: nas últimas eleições presidenciais francesas, em 2017, quase 37% dos eleitores votaram para os candidatos antissistema Marine Le Pen, Jean-Luc Mélenchon e Nicolas Dupont-Aignan e 51% dos franceses não foram votar nas últimas eleições legislativas, há dois anos.
Ameaça populista
Entrevistado pelo jornal, o professor da Sciences Po Dominique Reynié, diretor da Fundação Para a Inovação Política, acredita que esses resultados demonstram que o nível da ameaça populista é "historicamente elevado". Para o especialista, "a eleição de um presidente populista na França poderia gerar uma crise na União Europeia, do euro, além de um empobrecimento radical dos franceses", colocando em risco a própria nação, segundo ele.
Em editorial, Le Figaro descreve um "mal-estar da democracia". Motivos não faltam, segundo o diário, que enumera fatos que demonstram o descaso político nos últimos dias: a falta de respostas sobre o incêndio da fábrica Lubrizol em Rouen, votações na Assembleia Francesa durante a madrugada do projeto de lei sobre a bioética, a demora para reconhecer o caráter terrorista do ataque na sede da polícia de Paris, 48 longas horas para proibir uma manifestação que homenagearia o autor desse mesmo ataque... Segundo o jornal, o resultado da pesquisa apenas prova que há motivos para a revolta crescente dos franceses com a atual política e seus representantes.
Por isso, para o editorialista, reconhecer o fenômeno para, em seguida, agir é fundamental. "Crise da autoridade, crise da liberdade, crise da identidade, crise da legitimidade: até mesmo a política está ameaçada: é ela que precisamos salvar", conclui o jornal Le Figaro desta quinta-feira.
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