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Futebol

Decisão de suspender jogos de futebol por insultos homofóbicos divide a França

O governo francês determinou que os juízes devem interromper as partidas de futebol quando constatarem insultos homofóbicos vindos da torcida. A medida foi contestada pelo presidente da Federação Francesa de Futebol, chegou a envolver a classe política do país e suscitou a reação do chefe de Estado, Emmanuel Macron.

Governo francês quer acabar com insultos homofóbicos nos estádios de futebol
Governo francês quer acabar com insultos homofóbicos nos estádios de futebol CHRIS J RATCLIFFE / AFP
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O presidente da Federação Francesa de Futebol, Noël Le Graët, disse na terça-feira (10), que havia pedido aos árbitros para que não interrompessem as partidas em caso de cantos ou bandeiras homofóbicas nas arquibancadas, apesar da determinação do governo. "Parar os jogos não me interessa. É um erro. Pararia um jogo por causa de gritos racistas, pararia uma partida por causa de uma briga, por causa de incidentes se houver perigo nas arquibancadas, mas não é o mesmo", disse.

Noël Le Graët, atraiu críticas ao comparar homofobia e racismo. “Não se deve ter dois pesos e duas medidas”, declarou Julien Pontès, porta-voz do coletivo Rouge Direct e ex-presidente da associação Paris Foot Gay. “A decisão de interromper as partidas não chocou quando o assunto era insultos racistas. Agora que queremos parar uma partida por causa de homofobia, um crime que é repreendido como a mesma gravidade pela Justiça, muitos torcedores reclamaram” declarou, lembrando que ataques de cunho racial já são motivo para suspensão de um jogo no país.

“Se um jogador negro é vítima de insultos racistas durante o jogo, ele pode acionar o juiz e pedir para suspender o jogo, alegando estar incomodado com gritos de macaco na torcida, por exemplo. Mas se as arquibancadas entoarem cantos homofóbicos, você acha que algum jogador vai ter a coragem de ver o árbitro e dizer ‘vamos parar a partida porque eu sou gay e esses insultos estão me incomodando’? Isso seria como fazer um coming out em público, o que teria um impacto (negativo) direto na sua carreira”, comenta.

“Sei que é complicado, pois ao parar um jogo, privamos o público do espetáculo e atrapalhamos o time. Mas é necessário, pois é preciso alertar para a homofobia”, afirma Pontès. “No entanto, isso não deve ser uma solução a longo prazo. O ideal é visar as pessoas que entoam cantos homofóbicos e as excluir dos estádios, como acontece na Inglaterra”, sugeriu, lembrando que um torcedor do clube inglês Chelsea foi condenado por insultos visando a comunidade LGBTQ+. Durante três anos, ele não poderá entrar nos estádios, além de ter que pagar uma multa de mais de € 1 mil.

Jogadores e políticos entram no debate

Para o jogador Antoine Griezmann, também não deve haver distinção entre os dois delitos. “É uma boa ideia parar as partidas, seja por causa de cantos homofóbicos ou racistas. Se paramos os jogos, os torcedores não vão gostar e mudarão de atitude”, defendeu o craque da seleção francesa.

A ministra do Esporte, Roxana Maracineanu também contestou as declarações do presidente da Federação Francesa de Futebol. "A posição adotada por Noël Le Graët, diferenciando homofobia e racismo é errônea", declarou. A ministra não escondeu seu desacordo quando encontrou Le Graët, na terça-feira, na tribuna da partida classificatória para a Eurocopa-2020 entre França e Andorra. 

O assunto chegou até o topo da hierarquia política da França. O presidente Emmanuel Macron disse que “é preciso ser implacável sobre os discursos de ódio, seja ele racista ou homofóbico”. No entanto, ponderou o chefe de Estado, os episódios devem ser julgados individualmente, evitando sanções generalizadas. Para Macron, impor uma lei não é a solução, “senão os torcedores vão começar a lançar insultos cinco minutos antes do final do jogo, quando seus times tiverem perdendo, só para cancelarem a partida”, ironizou.  

No final dessa quarta-feira (11), após várias trocas de fartas sobre o tema, a ministra do Esporte e o presidente da Federação Francesa de Futebol publicaram uma declaração conjunta para mostrar que estão de acordo em "agir de maneira decisiva, adaptada e pragmática". No texto, Roxana Maracineanu e Noël Le Graët mostraram "confiança no julgamento dos árbitros e dos comitês disciplinares" da Liga Francesa de Futebol Profissional e da Federação. Eles convidaram "associações de torcedores e clubes a se unirem para construir um processo pedagógico que envolva todos os atores e lutar em solidariedade contra todas as formas de discriminação, em favor do respeito e da coexistência".

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