Dia da Amazônia é marcado por protesto em Paris
Centenas de pessoas de diversas nacionalidades se reuniram nesta quinta-feira (5) na Praça da República, em Paris, para se manifestarem pela Amazônia e pelos povos indígenas que nela habitam. O “Dia da Amazônia em Paris” foi convocado pela Anistia Internacional em parceria com uma dezena de ONGs e associações, contou com a presença de políticos franceses e uma performance de um grupo formado por venezuelanos e colombianos.
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Cartazes pela Amazônia, contra o presidente Jair Bolsonaro e a favor das mulheres indígenas diziam frases como: “A Amazônia não é só o Brasil”, “Sem floresta, danou-se”, “Fora Bolsonaro”, além de referências específicas aos países que faziam parte do ato.
Para Geneviève Garrigos, responsável das Américas da Anistia Internacional, “essa manifestação é importante porque não só os incêndios não terminaram, embora falemos menos deles agora, como o problema da Amazônia não se limita a eles”.
“Tem toda a questão do confisco de terras, do desmatamento, da exploração de minérios, dos megaprojetos. E, no meio disso tudo, os povos indígenas. A gente fala da Amazônia como se fosse apenas uma floresta, mas ela é bem mais que isso, bem mais que um pulmão, bem mais que uma reserva de água doce para a humanidade, ela é o lugar onde habitam povos indígenas, eles que justamente protegem essas terras e que são os primeiros a serem ameaçados pela exploração das terras”, complementa Garrigos.
“Além disso, para a Anistia Internacional, é o dia de lançamento de uma campanha para pedir a Jair Bolsonaro que faça o necessário para aplicar as leis que protegem a Amazônia e os povos indígenas, que as leis sejam aplicadas e que haja mecanismos de controles. Decretar que os incêndios estão suspensos por 60 dias não é suficiente. Os responsáveis devem pagar pelos seus crimes”, diz Garrigos sobre o 5 de setembro, Dia da Amazônia.
A senadora Laurence Cohen, presidente do Grupo de Amizade França-Brasil no Senado francês – grupo formado por 40 senadores de todos os grupos políticos representados no Senado, esteve no ato.
“Vim trazer todo o nosso apoio à Amazônia, e eu falo por mim, para protestar contra a política de Bolsonaro que favorece os grandes proprietários e incentiva as queimadas provocadas por eles na Amazônia. É uma grande catástrofe, é um crime contra as populações autóctones e é um crime humanitário internacional, porque coloca em risco o equilíbrio do planeta”, disse Cohen. A senadora francesa declarou que vai propor uma sessão especial sobre a Amazônia aos participantes do grupo, no final de setembro, quando o Senado retomará as suas atividades.
Consumismo na mira
Além de críticas explícitas ao presidente brasileiro, não faltaram autocríticas sobre o consumismo dos europeus, sobre a dependência da Europa à soja brasileira – que contribui para o desmatamento da floresta Amazônica -, sobre o produtivismo e o extrativismo - notadamente de minérios e de petróleo.
Prefeito do 2º distrito de Paris, o ecologista Jacques Boutault foi um dos que alertou que é preciso mudar os modos de consumo para preservar a floresta. “Comecemos por repensar nosso vício por carne, que faz com que, mesmo estando aqui, a gente queime a floresta Amazônica. Nós estamos no final da cadeia, nós somos também responsáveis”.
“Estamos aqui para denunciar a política ‘ecocidária’ de Bolsonaro e também a política hipócrita de Macron, pois ele precisa acabar com a dependência francesa da soja brasileira”, disse o subprefeito, lembrando que a Europa é o segundo maior comprador de soja advinda da Amazônia.
Enquanto membros de associações e sindicatos se revezavam no microfone, um grupo formado por colombianos e venezuelanos, chamado Cidadanias para a Paz, fez uma performance em que representavam um jantar de empresários que lucram com a exploração da Amazônia. Enquanto isso, ao lado deles, pessoas usavam com máscaras de oxigênio para respirar.
Erika Campelo, copresidente da associação Autres Brésils (Outros Brasis), destacou a importância de haver representantes de outros países na manifestação, “para criar esta aliança de apoio e solidariedade internacional om os povos indígenas da Amazônia”.
‘É muito importante também para continuar divulgando para o público francês a importância da Amazônia enquanto bem comum da humanidade a importância dela para o equilíbrio climático e também para informar que os incêndios não acabaram. A imprensa francesa parou de noticiar, mas os incêndios não acabaram”, afirma.
Mas, ela lembra, “os incêndios são a ponta do iceberg dos problemas da Amazônia. O problema é toda a exploração desenfreada das matérias-primas, do agrobusiness, da pecuária, da mineração. Toda esta pressão econômica faz com que a biodiversidade da Amazônia esteja o tempo todo em perigo”.
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