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Planeta Verde

Contaminação por chumbo continua sendo ameaça após incêndio em Notre-Dame?

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O incêndio em Notre Dame, em abril deste ano, pode ter deixado rastros invisíveis de contaminação por chumbo. O fogo não fez vítimas mortais, mas o perigo pode continuar, já que cerca de 400 toneladas do metal se volatilizaram em nuvens de partículas tóxicas, e ameaçam a saúde de moradores e turistas. É o que acredita a associação Robin de Bois, que já havia exigido a “descontaminação” da catedral na época da tragédia, e que agora decidiu dar queixa pela “exposição alheia ao perigo”, como resultado desta poluição. A associação denuncia a ausência de medidas sanitárias por parte das autoridades na noite do incêndio e a falta de informações aos moradores nas semanas seguintes.

Andamento das obras de restauração da catedral de Notre-Dame de Paris três meses após incêndio.
Andamento das obras de restauração da catedral de Notre-Dame de Paris três meses após incêndio. RFI
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Para Jacky Bonnemains, presidente da associação Robin de Bois, a informação foi divulgada tarde demais. "Me parece que houve uma política de divulgar a informação com atraso para evitar preocupações e prejuízos na economia turística do bairro", analisa.

"Talvez a razão principal seja que os organismos do Estado tenham sido pegos de surpresa desde o 17 de abril por esse projeto de Lei Catedral e por essa vontade da Presidência da República de fazer isso o mais rápido possível, mesmo que significasse infrações ao código do meio ambiente", denuncia o ativista. "Houve dificuldades impostas aos organismos do Estado e, consequentemente, uma retenção de informações consecutivas ao incêndio", acredita.

Segundo ele, desde a noite do 15 de abril, a Prefeitura e a Central de Polícia de Paris, e eventualmente outros atores institucionais, "não tiveram a diligência necessária para informar, por exemplo, os jornalistas e também as populações residentes e temporárias, como os turistas, do risco da queda da poeira de chumbo".

"Demos queixa por exposição a risco alheio deliberado e por não-assistência a pessoas em perigo. Teria sido possível avisar a imprensa nacional para que, em um período de tempo razoável, de no máximo meia hora ou uma hora, os veículos pudessem divulgar conselhos e alertar as pessoas para saírem dos terraços, fechar as janelas dos quartos de hotel ou de apartamentos, além de evacuar o cais por causa de riscos potenciais derivados da fusão do chumbo", afirma Bonnemains.

População flutuante não está preocupada

Mas na beira do cais do Sena, em frente à catedral de Notre Dame, em Paris, uma população flutuante de profissionais, parisienses e turistas parece não se preocupar muito com a possível contaminação pelo chumbo. É o caso de Christian, que há 20 anos é bouquiniste no famoso Quai de la Tournelle, em frente à lateral esquerda da catedral atingida pelas chamas.

Dono de uma das famosas barraquinhas verdes que vem livros e gravuras, verdadeiro cartão postal de Paris, ele chegou a receber um panfleto da Associação das famílias vítimas do saturnismo, a doença causada por intoxicação por chumbo no organismo. Christian, no entanto, não parece se preocupar demais.

"É verdade que na primeira semana após o incêndio havia muita poeira nas bancas", contemporiza o vendedor. "Mas eu acho que, de todo jeito, se há riscos, isso será a longo prazo. É difícil medir, quantificar. Eu ouvi a Prefeitura de Paris declarar que não havia absolutamente nenhum risco nas escolas e, dois dias depois, fechar duas delas (risos). É preciso esperar. No nível da poluição, somos expostos aos carros o dia inteiro: é um risco calculado", afirma.

O caricaturista Kyio, que desenha portraits de turistas há 23 anos no local, também afirma não se sentir em perigo. "É claro que existe o risco do chumbo, porque muito ferro foi fundido pelo incêndio, e existem mesmo escolas nos arredores que foram fechadas, para preservar a saúde das crianças. Mas eu, pessoalmente, não me preocupo muito com isso... O risco não é enorme, mas existe, é verdade, sobretudo para as crianças", acredita.

Em sua segunda vista à capital francesa, a professora Heidi, de Washington, nos Estados Unidos, afirma, no entanto, que gostaria de ter sido prevenida de possíveis riscos ligados à uma possível contaminação pelo chumbo.

"Não fazia ideia, considero a contaminação e a qualidade do ar questões muito importantes. Fiquei muito triste quando houve o incêndio, assisti o incêndio em Notre Dame chorando. Sou professora em uma escola, coloquei as imagens ao vivo na TV para que meus alunos pudessem testemunhar aquele momento. Gostaria de ter sido informada sobre o quão grave é essa possibilidade de contaminação pelo chumbo. O fato de não ter ouvido nada sobre o assunto me preocupa, porque talvez eles estejam mantendo isso em segredo. Vim aqui hoje completamente desprotegida, e isso é preocupante", diz à reportagem.

De acordo com uma pesquisa conduzida pela mídia investigativa francesa Mediapart em 18 de julho, "as taxas de concentração de chumbo, às vezes dez vezes maior do que o limiar de alerta, foram encontradas nas escolas próximas" da catedral. O site acusou a prefeita de Paris de não ter "realizado uma limpeza completa das instalações".

A prefeitura e os órgãos competentes da capital francesa não se pronunciaram sobre a queixa da associação até o fechamento desta edição.

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