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Imprensa

Objetivo de moeda digital do Facebook é acessar dados pessoais, adverte especialista

O Facebook deve divulgar na terça-feira (18) os contornos de sua moeda digital, criada em parceria com ao menos 27 empresas, entre elas o grupo francês Iliad. A decisão é considerada uma guinada estratégica nos negócios do grupo americano. O tema recebe destaque nos jornais Le Parisien, Libération, Le Figaro e Les Echos.

A imprensa francesa dá destaque ao lançamento da nova moeda digital do Facebook previsto na terça-feira (18).
A imprensa francesa dá destaque ao lançamento da nova moeda digital do Facebook previsto na terça-feira (18). Pixabay
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O gigante americano se transforma em estabelecimento financeiro, escreve o jornal Le Parisien. A ideia do fundador da rede social, Mark Zuckerberg, é aproveitar o potencial dos 2,3 bilhões de usuários do Facebook no mundo para que façam suas transações financeiras dentro da rede social. Segundo a imprensa francesa, ela poderá se chamar "libra", palavra que em latim significa balança, ou "globalcoin", "moeda global".

Como o bitcoin, a mais conhecida das moedas virtuais, a "libra" utilizará a tecnologia "blockchain". Zukerberg deseja que as transferências de dinheiro possam ser feitas com a mesma facilidade com que usuários das redes sociais trocam imagens em seus smartphones.

A questão que se coloca é a opacidade dessas operações, uma vez que moedas digitais podem ser usadas para transações ilegais de lavagem de dinheiro. Mas no caso do Facebook, tudo indica que a nova moeda será estável e não deve ser usada para especulação, como acontece com o bitcoin, por exemplo. Zuckerberg já teria encontrado vários diretores de bancos centrais para oferecer garantias nesse sentido.

De acordo com o pesquisador e consultor Manuel Valente, um dos maiores especialistas do mundo nessa área, ouvido pelo Le Parisien, "ninguém vai comprar o 'globalcoin' para especular e enriquecer". O principal objetivo da nova moeda é dar acesso aos dados pessoais de seus usuários pela análise do que fazem com o dinheiro na rede, revendendo essas informações, que valem ouro, para agências de publicidade e marcas, explica Valente.

"Com essa moeda privada, prevista para entrar em funcionamento no início de 2020, deverá ser possível fazer compras ou vender produtos por meio do sistema de mensagens Messenger, nas páginas de anunciantes das redes Facebook, Instagram ou WhtasApp", observa Le Parisien. Os usuários também poderão transferir fundos de uma pessoa para outra sem passar por bancos tradicionais. Com isso, o Facebook recupera o atraso em relação ao concorrente chinês WeChat, que conseguiu transformar uma rede social num templo de consumo, observa o jornal francês.

Nova frente de crescimento

O objetivo do Facebook é encontrar uma alternativa de crescimento, uma vez que 98% de sua receita vem da venda de anúncios publicitários. A imagem da empresa saiu abalada do escândalo da consultoria de marketing político Cambridge Analytica. Desde 2017, sabe-se que a empresa britânica teria usado dados disponíveis no Facebook para traçar perfis psicológicos detalhados de eleitores nos Estados Unidos e no Reino Unido, na campanha pró-Brexit. Cerca de 50 milhões de pessoas tiveram suas informações vazadas do Facebook para a Cambridge Analytica, que influenciou o eleitorado pró-Trump e pró-Brexit.

Várias grandes empresas se associaram ao projeto de Zuckerberg, que será pilotado por uma fundação registrada na Suíça: Visa, Mastercard, Uber, Booking, Spotify e PayPal, fundada pelo francês David Marcus, braço direito de Zuckerberg na nova empreitada. O grupo francês Iliad, dono da operadora de telefonia Free na França, também está no negócio.

"É um belo golpe de marketing tecnológico do Facebook e que tende a reforçar o monopólio do Gafa" – como são chamadas as gigantes digitais americanas Google, Apple, Facebook e Amazon –, explica Manuel Valente.  

Les Echos destaca em seu editorial que a sacada de Zuckerberg pode atrair a inveja de outros representantes do Gafa, principalmente a Amazon, que também tem projeto de moeda própria. A longo prazo, todo o sistema monetário pode ser afetado por esse tipo de iniciativa, assinala o jornal.

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