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Rendez-vous cultural

Com jurados brasileiros, "Queer Palm" chega na sua 10ª edição em Cannes

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O festival de Cinema de Cannes é conhecido por sua Palma de Ouro, principal prêmio da festa da 7ª Arte na Riviera Francesa. Mas o evento também celebra, desde 2010, os filmes de temática LGBTQ com a "Queer Palm", uma seleção que ganha cada vez mais peso e que, esse ano, traz dois brasileiros no júri.

Foto do filme Port Authority
Foto do filme Port Authority Danielle LESSOVITZ
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Não se trata de uma mostra paralela, como "Un Certain Regard" (Um Certo Olhar) ou "Quinzaine des Réalisateurs" (Quinzena dos Realizadores), e sim de um prêmio concedido a filmes que fazem parte das diferentes seleções, mas que respondem aos critérios da "Queer Palm". Entram nessa categoria as produções que tenham personagens LGBT, histórias ou intrigas LGBT, ou simplesmente “um ponto de vista queer e diferente sobre o mundo”, como define o fundador do prêmio, Franck Finance-Madureira.

“Nos parecia importante que o maior festival do mundo levasse em conta e valorizasse também os filmes que evidenciam as temáticas queer, LGBT e tudo o que quebra os códigos de gênero”, explica.

A Palma Queer segue os passos do "Teddy Awards", principal prêmio sobre cinematografia LGBTQ do mundo, que acontece desde 1987 na Berlinale, o festival de Cinema de Berlim. Como na Alemanha, os organizadores do evento da Riviera Francesa assistiram a evolução do cinema queer, com um número cada vez maior de produções.

“Tem uma nova geração chegando na mídia e no cinema que não quer mais se calar e quer contar suas próprias histórias e seu ponto de vista sobre o mundo. Eles estão cansados dessa dominação heterossexual e de um mundo completamente heteronormativo. É interessante que tenhamos pontos de vista diferentes daqueles emitidos pelos homens, brancos, de mais de 50 anos, e que, finalmente, gays, lésbicas, trans e as minorias étnicas possam ter uma voz na mídia, nas artes e no cinema. Chegamos a um momento de transição em que, quem sabe, a diversidade vai começar a existir de forma mais visível”, insiste Finance-Madureira.

Brasileiro competindo, mas também no júri

Esse ano 19 filmes foram selecionados. Tem tramas como “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar com Antonio Banderas no elenco, "Rocketman", de Dexter Fletcher, sobre a vida do cantor Elton John, ou ainda "Port Authority", da americana Danielle Lessovitz, sobre um jovem que muda para Nova York e descobre não apenas o mundo do voguing (estilo de dança urbana das boates gays nos anos 70), como também se apaixona por uma mulher trans.

O Brasil está bem representado nesse edição, com dois longas na corrida pelo prêmio. O primeiro deles é "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que concorre pela Palma de Ouro e entrou na competição da "Queer Palm", entre outras, pela interpretação de Silvero Pereira, uma espécie de justiceiro com ares de Lampião trans. Já o documentário “Indiana”, de Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa, vem da mostra ACID, uma seleção paralela organizada pela Associação de Cinema Independente e que reúne cineastas engajados.

Além dos filmes na disputa, a "Queer Palm" desse ano tem também dois brasileiros no júri. Os gaúchos Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, diretores de Tinta Bruta, que ganhou o Teddy em 2018. “É um prêmio muito importante, principalmente porque acontece em Cannes, que é um festival tão diverso, com filmes de várias localidades do mundo, com diferentes vozes”, comenta Matzembacher. “Estamos muito ansiosos, pois o 'Queer Palm' já teve vários realizadores que nós admiramos, seja fazendo parte do júri ou que foram premiados. Serão dez dias de muito cinema e boas conversas sobre o assunto”, completou.

Preconceito entre patrocinadores

Apesar do entusiasmo do brasileiro, a "Queer Palm" ainda tropeça no preconceito. “Por enquanto nenhuma grande marca aceitou patrocinar o prêmio, mesmo após nove anos de existência”, relata o fundador; “Ainda é muito complicado na França fazer com que uma marca se mobilize por esse tipo de evento”, comenta.

Atualmente a Queer Palm conta com apoio agências do governo francês que lutam contra a discriminação, além da parceria do Centro Nacional do Cinema. Mas o evento ainda sofre financeiramente para sobreviver, apesar de fazer parte de um dos festivais de cinema mais glamourosos do mundo.

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