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França/AF447

Documentário com imagens inéditas marca 10 anos da queda do voo AF447

O filme de uma hora e meia realizado com imagens que acompanham o trabalho dos investigadores da BEA, a agência civil de aviação francesa encarregada de descobrir as causas do acidente, retrata as cinco fases de operações de busca do A330 da companhia Air France, que fazia a rota Rio-Paris e caiu em 31 de maio de 2009 no oceano Atlântico.

Imagem do momento da descoberta das caixas-pretas do voo AF447, em maio de 2011, mostrada no documentário "A Caça ao Voo Rio-Paris", do diretor francês Simon Kessler.
Imagem do momento da descoberta das caixas-pretas do voo AF447, em maio de 2011, mostrada no documentário "A Caça ao Voo Rio-Paris", do diretor francês Simon Kessler. Fabrice Gardel / Simon Kessler
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No dia 31 de maio de 2009, às 19h29 minutos, no horário de Brasília, o voo AF447, com 228 passageiros a bordo decolava do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, em direção a Paris. Ele nunca chegou a seu destino. A resposta sobre o que provocou o acidente viria cerca de dois anos depois, com a descoberta da fuselagem e das duas caixas pretas do avião, após cinco fases de operações de buscas por destroços e vítimas da catástrofe.

Dez anos depois da tragédia, a agência, que gravou toda a investigação em alto mar e na sede do BEA, colocou à disposição da produtora francesa Galaxie Presse uma série de imagens inéditas. Elas se transformaram em um documentário, “La Traque du Vol AF447” ou A Caça ao Voo AF447”, em tradução livre. O filme do diretor Simon Kessler, feito em parceria com Fabrice Gardel, vai ao ar nesta sexta-feira (31) , no canal francês Planète Plus, do grupo francês Canal Plus.

“O documentário se concentrou em torno das buscas pelas caixas-pretas e seu conteúdo. Esse é o fio condutor do filme”, diz o diretor francês. “Orientamos o roteiro em torno de uma oposição: o diálogo e a confrontação permanente entre o trabalho do BEA e as famílias, que têm dificuldade em entender o que está acontecendo. Queríamos mostrar que o trabalho dos investigadores é difícil e o ponto de vista das famílias em relação a essa investigação”, explica.

As imagens estavam estocadas em caixas de papelão na ECPAD, a agência de comunicação e produção audiovisual do Ministério da Defesa, contratada pelo BEA para gravar as imagens. O diretor obteve autorização para utilizá-las em 2018. Antes, elas nunca haviam sido exibidas ao público. Selecionar as cenas foi complicado: no total, foram 150 horas de filmagem.

A RFI Brasil assistiu em primeira mão o documentário, que traz detalhes sobre as buscas e é pontuado por depoimentos de alguns dos familiares das vítimas. “É um produto de diversão, entre aspas, que as pessoas vão assistir na TV”, explica o diretor francês. “Uma das preocupações era fazer isso de maneira delicada. Era fora de questão tocar em questões sensíveis como o resgate dos corpos no documentário, um tema que dava margem a muitas divergências”, diz. “Como me disse um dos parentes das vítimas: ‘você tem a impressão de estar dentro de um filme, mas para mim essa é a realidade’.”

O que aconteceu com o voo AF447?

Por volta das 2h10 da manhã, o Airbus 330 atravessou o oceano Atlântico e desapareceu dos radares. Antes, ele enviou 24 mensagens automáticas, conhecidas como ACARS, um sistema de intercâmbio de informações entre a aeronave e a companhia aérea. Essas mensagens eram a única pista que os investigadores tinham no início para determinar a zona potencial da queda do avião.

“A conclusão sobre as causas da tragédia é o resultado de uma longa investigação, depois de quase dois anos de buscas no mar. Temos um relatório que explica a sequência dos eventos que levaram a esse trágico acidente", relata Olivier Ferrante, que chefiou as buscas do voo AF447, em entrevista à RFI. "Resumindo, tudo começou com o congelamento dos sensores Pitot, seguida de indicações errôneas de velocidade e a desconexão do piloto automático. O avião perdeu sustentação e a tripulação não conseguiu recuperá-lo ”, diz.

“O momento crucial foi a descoberta da fuselagem do avião. A partir dali, eu estava convencido que também encontraríamos as caixas-pretas e poderíamos explorar os dados. No início, só tínhamos as mensagens ACARS e destroços que vieram à superfície”, completa.

O relatório final, divulgado em 5 de julho de 2012, como ressalta Ferrante, traz as conclusões da investigação, as causas, os fatores que contribuíram para o acidente e, sobretudo, recomendações para prevenir outras tragédias similares.

“Houve outros casos de perda de controle nas quais o avião caiu dessa maneira, em fase de cruzeiro”, explica Ferrante. O BEA inclusive utilizou esses exemplos para determinar a área de buscas, explica. “Já tinha ocorrido com outros tipos de aeronaves. A particularidade nesse caso é que ocorreu com um Airbus330, que tinha proteções suplementares contra a perda de sustentação. É a sequência particular desses eventos que não permitiu a ativação dessa barreira de proteção”, especifica.

De acordo com o relatorio do BEA, o avião, que voava em velocidade de cruzeiro, não explodiu e estava inteiro no momento do impacto. A queda, de cerca de 11 mil metros, durou cerca de 3 minutos e 30 segundos. Não houve despressurização ou preparação para um pouso forçado na água. “O que mais surpreendeu neste acidente foi o fato, que durante dois anos, não achamos nada. Depois que encontramos a fuselagem e as caixas-pretas, a investigação acabou se tornando uma investigação como qualquer outra”, diz o representante do BEA.

As operações de busca dos destroços, que custaram, no total, cerca de € 31 milhões, exigiram recursos técnicos nunca antes utilizados na história da aviação. A fuselagem do A330 foi encontrada apenas em 2 de abril de 2011, a doze quilômetros da última posição conhecida, na quarta fase de buscas, a 3900 metros de profundidade.

As duas caixas pretas foram localizadas em 1 e 3 de maio de 2011. O FDR (Flight Data Recorder), forneceu os parâmetros do voo e o CVR (Cockpit Voice Recorder), revelou as conversas dos pilotos no cockpit. Elas foram lidas dez dias depois de serem resgatadas do mar. O momento em que os investigadores ouvem o conteúdo do CVR está registrado no documentário. Durante 15 minutos, a equipe ficou em silêncio, "petrificada" pelo diálogo entre os pilotos.

Cesto que resgatou vítimas se tornou memorial

“Filmamos as buscas por questões pedagógicas. Queríamos mostrar que tudo estava sendo bem feito para descobrir o que aconteceu e tranquilizar as famílias das vítimas”, afirma o chefe das buscas do BEA. “As equipes de investigação foram filmadas em todos os momentos importantes das buscas”, detalha Olivier Ferrante.

Além da localização dos motores do avião e das caixas-pretas, uma imagem é particularmente emocionante, conta o representante do BEA. Trata-se da cena que mostra o cesto usado para recuperar os restos mortais das vítimas que ficaram no fundo do mar durante dois anos O objeto foi transformado em um memorial pelas equipes de resgate a bordo do navio "Ile de Sein". Olivier Ferrante esteve a bordo do barco na fase 5 para supervisionar o resgate dos cadáveres que estavam desaparecidos desde 2009 – 50 passageiros foram encontrados flutuando na superfície entre 6 e 18 de junho de 2009 e 104 no fundo do mar na quinta e última fase de buscas.

“Eu estava a bordo nesse momento. Foi um monumento que quisemos deixar no local. Foi emocionante para todos nós a bordo e também uma maneira de se despedir do lugar onde aconteceu o acidente. Quase toda a tripulação estava na sala dedicada à investigação para essa despedida. O peixe que passa, no meio da imagem, bem na hora em que estamos deixando o local das buscas, foi um momento que nos marcou muito”, se emociona Olivier Ferrante.

Erro de pilotagem ou problema técnico?

Durante as investigações, muitas famílias questionaram a imparcialidade do BEA, acusando a agência de proteger o fabricante Airbus e a companhia aerea, Air France, acusados de homicídio involuntário. As conclusões finais desse processo devem ser apresentadas em breve. Houve outros questionamentos sobre por que o avião voava com sensores Pitot defeituosos. “Os sensores não estavam defeituosos, eles congelaram e depois voltaram a funcionar, mas o avião já estava em uma outra configuração”, detalha Olivier.

“É preciso colocar tudo dentro de um contexto. Era noite, havia turbulência, houve troca de pilotos bem nessa hora...o relatório mostra bem essa sequência, que é única, e que nesse dia causou esse acidente. Deve-se sempre desconfiar do excesso de simplificação”, declara. “Erro de pilotagem ou problema técnico? Vai bem além disso. O que foi excepcional nessa investigação foi a demora de dois anos para achar o avião”, detalha. Depois do acidente, 41 recomendações foram feitas para melhorar a segurança aérea. Algumas recomendações visam facilitar a localização de um avião desaparecido, o monitoramento dos voos. “Hoje é mais difícil perder um avião do que há dez anos e houve avanços na formação dos pilotos.

 

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