Francês com diploma superior busca salário alto e equilíbrio de vida; brasileiro ainda é atraído por plano de saúde
Os jovens franceses diplomados nas melhores universidades de gestão, marketing, finanças e engenharia do país querem ser bem pagos e manter um bom equilíbrio entre a vida privada e profissional, revela a pesquisa anual da consultoria sueca Universum 2019. Multinacionais, bancos e startups francesas enfrentam uma concorrência acirrada para atrair esses profissionais.
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No Brasil, os setores de tecnologia e finanças também oferecem boas oportunidades atualmente, mas enfrentam falta de mão de obra qualificada. Para atrair talentos, as empresas brasileiras investem na oferta de benefícios. Enquanto um plano de saúde de qualidade e participação nos lucros podem se mostrar interessantes para formandos brasileiros, os franceses estão em busca de autonomia no emprego e tempo para sua vida pessoal.
A França deve criar 2,7 milhões de empregos em 2019, um recorde em dez anos. Nesse contexto econômico favorável, os diplomados de faculdades renomadas estão mais confiantes e sabem que a lei da oferta e da demanda opera a favor de suas aspirações. Multinacionais, bancos e startups francesas travam uma concorrência acirrada para atrair esses perfis de competência comprovada.
Segundo Aurélie Robertet, diretora de gestão da Universum para França, Bélgica e Luxemburgo, os franceses da geração Z, nascidos a partir de 1992, desejam que seu trabalho tenha um impacto na organização. "Eles manifestam um desejo de autonomia e independência, querem flexibilidade e mais agilidade nos processos internos das empresas", explica Robertet. A pesquisa ouviu 36.578 estudantes.
As grandes companhias cotadas na Bolsa de Valores de Paris têm feito esforços para se adaptar às preocupações e preferências desses jovens profissionais. Para os franceses da geração Z, um bom emprego ao final da faculdade deixou de representar o primeiro degrau de uma carreira promissora. A maioria deles já não acredita que vai exercer uma única atividade para o resto da vida ou ficar anos a fio na mesma empresa. A ética empresarial e um ambiente de trabalho agradável também são citados como quesitos importantes.
As multinacionais francesas têm conseguido responder a algumas dessas expectativas, explica Aurélie. "Os formandos de universidades renomadas - engenheiros, especialistas em marketing e finanças - têm pressa em assumir responsabilidades, querem participar de projetos estimulantes, contar com mobilidade interna e em filiais no exterior", observa a diretora de gestão da Universum. "Antigamente, os formandos procuravam as grandes empresas; hoje, muitos preferem as pequenas e médias estruturas ou startups, onde terão mais liberdade para imprimir sua marca", afirma.
O paradoxo, diz Aurélie, é que na hora de escolher entre duas ou mais ofertas de trabalho, os critérios de escolha determinantes para os jovens franceses continuam sendo a remuneração, o desafio da missão, a reputação da empresa no mercado e a abertura que ela oferece para uma experiência no exterior. "Nas respostas espontâneas, eles falam muito de bem-estar, de valores humanos, éticos e de ecologia, mas, no fim do processo de seleção, eles aceitam o emprego de acordo com critérios pragmáticos", nota a executiva.
Déficit de qualidade dos profissionais no mercado brasileiro
No Brasil, os setores de tecnologia e finanças oferecem atualmente boas oportunidades de colocação, mas enfrentam falta de mão de obra qualificada. Para atrair talentos, as empresas brasileiras investem na oferta de benefícios. Enquanto o formando francês sonha com autonomia e tempo livre, o brasileiro valoriza empresas que ofereçam um plano de saúde de qualidade, sem desconto no holerite, e participação nos lucros e resultados do negócio.
Juliana Cesário, consultora de recrutamento e seleção na filial paulista do grupo suíço Adecco, vê as áreas de tecnologia e finanças em ascensão no mercado brasileiro, e a abertura de um grande número de startups. O ambiente está, segundo ela, favorável aos recém-formados em engenharia da computação e tecnólogos que tenham frequentado boas escolas técnicas. Mas o que inquieta a recrutadora é o déficit observado na qualidade do ensino oferecido e de formação global do profissional, ainda abaixo das expectativas e necessidades do mercado.
Ela cita o exemplo dos desenvolvedores:
"Temos muita dificuldade para contratar bons desenvolvedores. São poucos profissionais qualificados, principalmente com idiomas, o que ainda é um problema no Brasil. Temos muita procura, os jovens estão se preocupando mais com isso, mas na área de tecnologia ainda faltam bons profissionais que falem línguas", constata Juliana.
A Europa ainda tem a vantagem competitiva de poder recrutar num perímetro muito maior, os 27 países do bloco, argumenta Juliana. O Brasil, além das restrições da legislação trabalhista, não tem salários interessantes para atrair um técnico estrangeiro, que vai enfrentar um custo de moradia caro no eixo Rio-São Paulo, por exemplo.
A área oferece muitas oportunidades. Um desenvolvedor com um ano de experiência pode encontrar um emprego com salário de R$ 6.000 a R$ 7.000, diz Juliana. Um profissional sênior, com experiência e que fale línguas, pode receber até R$ 25.000.
Para atrair esses talentos, as empresas utilizam uma estratégia agressiva de oferta de participação nos lucros e resultados. Profissionais que estejam trabalhando como pessoas jurídicas (PJ), o que é muito frequente no Brasil, também podem se sentir atraídos pela estabilidade numa área em ascensão.
Embora a França apresente ótimas perspectivas de abertura de vagas em 2019, os empresários franceses também terão dificuldades para encontrar os perfis sonhados. Uma pesquisa da Agência Nacional de Empregos mostra que a metade dos postos podem não ser preenchidos. Questionados sobre as razões desse pessimismo, os empresários citam: inadequação do posto com o perfil do candidato, por falta da experiência requerida, falta de motivação, de competências técnicas ou problemas de relacionamento.
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