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França/cinema

Cinema francês perde Agnès Varda, pioneira da "Nouvelle Vague"

Vítima de um câncer, segundo um comunicado da família, a cineasta de 90 anos morreu durante à noite em Paris. 

Falece aos 90 anos, Agnès Varda, uma das poucas mulheres cineastas de sua geração.
Falece aos 90 anos, Agnès Varda, uma das poucas mulheres cineastas de sua geração. REUTERS/Regis Duvignau/File Photo
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Agnès Varda inauguraria nesta sexta-feira (29) uma exposição em Chaumont-sur-Loire, no centro da França, sobre seus filmes, segundo sua produtora, Cécilia Rose de Tamaris. “Transtornado, abatido, em luto: esses sentimentos acompanham a certeza de que acabamos de perder uma das maiores artistas da nossa época. Agnès Varda, para você, todo meu respeito, reconhecimento e admiração”, escreveu o ministro da Cultura francês Franck Riester no Twitter.

Arlette Varda nasceu em 30 de maio de 1928 em Ixelles, na Bélgica, filha de mãe francesa, e adotou o nome Agnès aos 18 anos. Ele foi uma das pioneiras da Nouvelle Vague e uma das poucas mulheres que participou ativamente do cinema francês nos anos 60 e destacou rapidamente após a estreia do seu longa-metragem, “La Pointe Courte” (1955).

Sete anos mais tarde, ela subiu a escadaria do festival de Cannes para apresentar seu segundo longa, “Duas horas na vida de uma mulher”, lançado em 1962. O filme, um ícone da Nouvelle Vague, traz a história de uma artista que espera o resultado de uma biópsia que revelará se ela tem ou não câncer. A carreira de Varda, que foi casada com o também cineasta Jacques Demy por quase 30 anos, inclui 54 filmes. O último deles foi “Olhares, Lugares”, em 2017.

Velhice viva

Em entrevista à RFI no ano passado, a cineasta falou sobre a homenagem que recebeu no festival Premiers Plans d’Angers, que aconteceu em janeiro de 2018. A cineasta francesa falou sobre a terceira idade, recusando o fato que o evento era uma maneira de falar de sua eterna “juventude”. “Não, de jeito nenhum. Velhice viva, cabelo de duas cores para se divertir, bom humor, independentemente do que acontecer. Velhos que resmungam e só falam de doença, para mim, são um pesadelo!”, declarou Varda à RFI. “É preciso ser um velho decente”, concluiu.

Seus filmes, apesar de leves e lúdicos, não exprimem seu caráter, contou Varda. “É preciso também ter tristeza e melancolia. O que propomos às pessoas, é de dividir algo. A prova é que ficamos tão felizes quando a sala está cheia. Quando sou aplaudida, isso me dá muito prazer”, relatou.

Feminismo

Em novembro de 2017, Agnès Varda recebeu um Oscar pelo conjunto de sua carreira em Hollywood e também falou pelo assunto em entrevista à RFI. “Ali estava todo o mundo de Hollywood, só estrelas, e pessoas que representavam uma enorme soma em dinheiro. Isso significa que há espaço para o cinema corajoso e marginal e que eles estão contentes de assistir meus filmes.” Um sinal também importante para o combate feminista que a diretora protagonizou desde sua juventude. “Mudou muito, mas ainda há muito o que fazer”, opinou. Para ela, a questão é um “momento da sociedade”. Segundo Varda, não é o feminismo, mas a consciência, que está sendo despertada em homens e mulheres. “A crise atual vai balançar homens e mulheres. As crises são necessárias. Chacoalhamos a sociedade dizendo: os homens se comportam mal com as mulheres e elas quase sempre aceitaram essa situação. Nunca fui agredida, mas há mulheres mais frágeis, que têm vontade de seduzir, e não percebem o perigo que estão correndo, ouso dizer.”

Olhares, lugares

Durante o Festival de Cannes de 2017, seu último filme, “Olhares, Lugares” – uma viagem por diversos vilarejos da França- ganhou o prêmio de melhor documentário, ao lado do artista JR, Jean René, um artista urbano francês conhecido pelos painéis com fotos de rostos que estampam monumentos e outros locais pelo mundo. A cineasta falou sobre essa parceria artística inesperada à RFI. “Logo percebemos que éramos um casal um pouco cômico, um magro e alto e uma gorda e baixinha…mas estou nem aí, porque tenho outras maneiras de agradar além do físico. Ficou engraçado, mesmo que nosso objetivo fosse realizar um trabalho bastante sério”, declarou. Ela também contou que começava a perder a memória e o filme foi uma maneira de preservar suas lembranças. “Quando perdemos aos poucos a memória, tudo aquilo que a gente reabilita, está salvo. E o que está perdido está perdido. Buñuel, aliás, fez uma bela frase: “Viva o esquecimento!”

 

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