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Rendez-vous cultural

Paris acolhe 1ª exposição de esculturas híbridas e sensuais da brasileira Erika Verzutti

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Pela primeira vez em Paris e na Europa, as esculturas híbridas e sensuais da artista paulista Erika Verzutti ganham uma exposição individual no Centre Pompidou. A mostra fica em cartaz até o dia 15 de abril no importante museu francês de arte contemporânea.

Tartaruga, 2017 papel machê, ferro polistirena, bronze
Tartaruga, 2017 papel machê, ferro polistirena, bronze RFI/ A. Brandão
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Erika Verzutti é paulistana, trabalha há mais de 20 anos e tem uma obra conceituada, já exposta em museus e bienais importantes de todo o mundo. Em Paris, suas esculturas ocupam uma galeria toda envidraçada do museu, em que a fronteira com o exterior é quase invisível e os pedestres também podem apreciar as obras. Pensando nisso, a escultora criou uma cenografia especial para ocupar o espaço. Um grande cisne branco domina a exposição: ele é ao mesmo tempo escultura e uma bancada que recebe em sua calda outras esculturas menores.

A escultora utiliza diversos materiais, bronze, cerâmica, cimento e papel machê, para criar formas inspiradas no mundo animal e vegetal. Os trabalhos foram divididos em cinco ilhas onde as famílias temáticas da obra da paulistana interagem: a família “Tarsila” é uma homenagem a modernista brasileira. Várias esculturas de Erika Verzutti dialogam com o quadro o Sol poente de Tarsila do Amaral. “Coloco no mesmo plano coisas de natureza diferente: citações da história da arte com legumes, Tarsila do Amaral com pepinos e dinossauros. O grande e o pequeno, a pré-história e a história da arte, a cultura e a comida”, diz a artista no catálogo da exposição.

Há ainda as famílias “Missionários”, “Brasília”, “Cemitérios”, “Tartarugas” e “Animais” que apresentam um bestiário de bichos estranhos: cachos de banana viram uma centopeia; pedregulhos um Pudle; pinceis e quiabos as patas de uma aranha… Uma pequena sala mostra as esculturas murais e coloridas, onde a artista brinca e questiona o status da imagem num mundo atual, dominado pela tecnologia digital e pelos selfies.

Humor e ironia

A curadora da exposição, Christine Macel, explica no catálogo que Erika Verzutti, ao contrário de muitos artistas de sua geração não utiliza as novas tecnologias para modificar percepção humana. “Ele teve uma certa coragem para desenvolver no Brasil dos anos 2000, dominado por uma escola neoconcretista, abstrata e conceitual, uma obra com uma certa dose de humor e até de ironia”, analisa Christine Macel.

A curadora já havia apresentado o trabalho de Erika Verzutti na Bienal de Veneza em 2017 e quis revelar ao público francês o trabalho da artista, ainda desconhecida no país. Em entrevista à RFI, Christine explicou que ao mesmo tempo que a escultora brasileira não adere às modas autais, ela renova uma certa tradição artística: “Erika se insere em uma certa tradição da arte brasileira tipo surrealista, mais do que modernista. Uma tradição que ela revisita, renovando também o panorama da escultura contemporânea. Ela tem um percurso original, e é isso que acho interessante. Ela tem uma grande liberdade em relação ao politicamente correto, às tendência da moda. Ela não entrou nessa espécie norma neomodernista e conceitual. Ele desenvolveu sua própria sensibilidade, usando formas de expressão mais tradicionais, como a escultura, que ela cria baseada em citações diversas como a história da arte, a cultura da internet, do Instagram, clichês ligados ao gênero ou ao sexo feminino. Nesse sentido ela é contectada ao seu tempo, traduzindo com suas esculturas as transformações da sociedade.”

A ironia do trabalho de Erika Verzutti também agradou Monique, uma aposentada que não conhecia a obra de Erika Verzutti e adorou a exposição: “É muito interessante! Tem ao mesmo tempo as formas diferentes que são justapostas, as cores diferentes e o jeito como elas são agrupadas. Tem a utilização de animais, de vegetais… são formas que a gente não reconhece, mas que são muito sensuais, com muito volume, arredondadas, ovais. Tem muita sensualidade e muito humor!”

Referências ao Brasil

Apesar de ser também paulistana, a professora universitária Glória, que está em Paris para um projeto de pesquisa, também não conhecia o trabalho da artista e ficou agradavelmente impressionada: “Não é o estilo de arte que gosto, mas me surpreendeu. Gostei porque não é arbitrário. Tem uma pesquisa de formas, de materiais, de reutilização de uma forma e um deslocamento para outro estudo. É um trabalho que chama a atenção pela pertinência do uso que ela faz da cor. Sobretudo para nós brasileiros, há muitas formas de frutas, como a jaca, a pinha, porque acho que um europeu não deve conhecer tanto essas frutas”.

Justamente, foi essa referência ao Brasil que seduziu o artista Axel que visitou a exposição acompanhado pela filha de apenas um ano : “Sou francês e só conheço o Brasil pelo imaginário do meu país. Vejo nessas formas de animais, pedras que levitam e formas de pássaros o que imagino do Brasil: referências antigas que encontramos em civilizações pré-coloniais”.

Terminada a exposição, em 15 de abril, os parisienses poderão ter a oportunidade de continuar a apreciar o trabalho da escultora. A obra da sua série "cemitérios", criada com restos de esculturas e outros materiais, foi adquirida pelo Centro Pompidou, com a ajuda da Associação de Amigos do Museu, e será exposta em breve na galeria do quarto andar, dedicada à arte contemporânea.

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