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“Lenços vermelhos”: um movimento para salvar Macron?

No dia seguinte ao “ato 11” dos “coletes amarelos”, os “lenços vermelhos” tomaram as ruas de Paris. Eles eram mais de 10.000 numa “marcha pela democracia” e contra a violência. Mas, por se oporem a um movimento contra medidas do governo do presidente francês, Emmanuel Macron, eles são acusados de ligação com o partido no poder, o República em Marcha (LREM, na sigla original).

"Lenços vermelhos" desfilam em Paris, no dia 27 de janeiro de 2019.
"Lenços vermelhos" desfilam em Paris, no dia 27 de janeiro de 2019. REUTERS/Benoit Tessier
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“Eles têm o direito de se exprimir, mas defendem seus chefes. Sabemos que esse movimento é organizado por Macron”, disse à AFP o “colete amarelo” Hervé Giacomini. “Os ‘lenços vermelhos’ são pró-Macron, sabemos disso muito bem”, ressaltou, por sua vez, Céline Lang, outra manifestante.

Ainda que o movimento dos “lenços vermelhos” – como seus primos “amarelos” – neguem todo apoio partidário e reivindiquem total independência, certos membros deixam escapar suas tendências políticas. É o caso de Laurent Soulié, engenheiro aeronáutico de Toulouse, principal organizador da marcha de domingo e criador da página “PAREM! Já chega”, que se declara “simpatizante” do partido República em Marcha.

“Todas as imagens de patrimônios da República quebrados (…) todas essas violências contra as forças de ordem me chocaram profundamente”, disse Laurent Soulié à rádio France Info. Questionado sobre suas razões para sair às ruas, o idealizador dos “lenços vermelhos” afirmou que decidiu se manifestar como “cidadão” para “proteger a França de um movimento que foi apropriado por extremistas”.

No site oficial dos “lenços vermelhos”, existe uma sessão com os depoimentos dos participantes. Um deles diz “não entender os coletes amarelos”. “Eles se dizem pacíficos mas no entanto vandalizam (…) Eles se dizem apolíticos, mas são amiguinhos das duas extremas [direita e esquerda]. Eles são contra o governo, mas é ele que financia os estudos de suas crianças e o acesso à saúde. O presidente responde a seus anseios, organiza eventos para ouvi-los, mas nunca é suficiente e eles não querem diálogo. Não há coerência”, afirma.

De acordo com a rádio France Inter, a marcha do dia 27 era, inicialmente, chamada de “manifestação em apoio a Emmanuel Macron”, mas acabou se unindo ao movimento dos “lenços vermelhos” sob a condição de que fosse “globalmente dedicada à República”, ou seja, oficialmente apolítica. Durante a manifestação, guiadas por Soulié, diversas pessoas cantaram o hino nacional francês. Em resposta a um “colete amarelo” que teria gritado “Macron demissão!”, um “lenço vermelho” respondeu “Nós votamos!”.

Silêncio no Palácio do Eliseu

Emmanuel Macron e seu partido preferem manter distância da mobilização dos “lenços vermelhos”. Mas cerca de vinte deputados e seis senadores da República em Marcha estiveram presentes – por “razões pessoais”. “Esta marcha é legítima. É uma boa ocasião para aqueles que ainda não se expressaram fazê-lo agora”, disse a deputada Michèle Peyron ao Journal du Dimanche.

Muitos [dos lenços vermelhos] têm mais de 50 anos e me disseram que não querem se arrepender, se dizer que não fizeram nada”, disse a parlamentar Anne-Laure Cattelot. “Não é uma manifestação contra os ‘coletes amarelos’, é uma manifestação para dizer a eles: vocês têm reivindicações, nós as ouvimos, mas há outros lugares além da rua para discutir”, argumentou o senador François Patriat, também do LREM.

No dia 24 de janeiro, o partido de Macron divulgou um comunicado onde preferiu ficar em cima do muro. “A República em Marcha é sensível a essa iniciativa e compartilha seus valores. Assim como os organizadores da marcha, condenamos as violências sofridas pelas forças de ordem e pela República. (…) Sem deixar de respeitar a liberdade de cada um, República em Marcha não fará apelo para a manifestação [dos lenços vermelhos] no domingo, 27 de janeiro, mas reforçará a segurança para assegurar o debate”, disse o documento.

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