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França

Macron recua, mas "coletes amarelos" querem vingança pelo desprezo do presidente

As reivindicações dos "coletes amarelos" colocam o governo francês diante de uma crise política sem precedentes. Apesar do recuo anunciado na noite de terça-feira (5) pelo Palácio do Eliseu, que decidiu anular a tributação ecológica nos combustíveis em 2019, as reivindicações do movimento ultrapassaram esta queixa inicial e hoje os manifestantes protestam contra o sistema tributário e de redistribuição das riquezas no país.

Coletes amarelos bloqueiam depósito de combustível em Frontignan, dia 3 de dezembro.
Coletes amarelos bloqueiam depósito de combustível em Frontignan, dia 3 de dezembro. PASCAL GUYOT / AFP
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A imprensa francesa tenta decodificar nesta quarta-feira (6) o vaivém nas decisões do governo para atenuar o conflito com os coletes amarelos.

O diário econômico Les Echos relata que Macron exclui o retorno do Imposto sobre a Fortuna (ISF), outra importante reivindicação do movimento, tornando-se mais um motivo de fricção com os manifestantes. Esse instrumento de arrecadação, criticado por muitos economistas, tornou-se símbolo da injustiça social e fiscal existente há décadas no país.

Le Figaro tenta explicar as razões que levaram Macron a não ceder neste ponto: "seria se submeter à ditadura dos símbolos e renunciar às reformas audaciosas que ele propôs durante a campanha presidencial", observa Le Figaro. Mas, segundo o jornal, Macron compreendeu que a gravidade da crise pode encerrar sua capacidade de realizar outras reformas necessárias. Recuar é possível em alguns temas, mas ele não pretende desfazer tudo o que realizou até agora.

O jornal L'Humanité usa a metáfora de um navio à beira do naufrágio para explicar que a amplitude das reivindicações dos coletes amarelos e o nível de saturação da população com a elite política dominante, que seria insensível às dificuldades cotidianas dos franceses de baixa renda, chegou a tal ponto que o governo Macron pode afundar.

Ressentimento e desejo de viangança

Para piorar, o silêncio total do presidente desde domingo (2) irrita profundamente os manifestantes, que se sentem desprezados pelo chefe de Estado. Macron se nega a falar em público com os coletes amarelos, embora tenha se reunido com alguns militantes moderados, mas sempre longe das câmeras de TV. Muitos passaram a nutrir um forte sentimento de vingança em relação ao jovem presidente, considerado elitista, frio e arrogante.

Os coletes amarelos são trabalhadores da França rural, uma população que vive distante dos centros urbanos, ganha baixos salários e ainda viu, nos últimos anos, serviços públicos essenciais, como maternidades, agências de correio, tribunais e organismos de ajuda social desaparecerem de seus territórios. É uma população que foi apagada da vida política e de repente recobra a vontade de lutar por direitos.

Blindados nas ruas para conter a violência?

Le Parisien relata que o governo teme um novo quebra-quebra em Paris na manifestação convocada para sábado (8) e estuda posicionar blindados na capital para proteger os principais monumentos históricos e que representam o ideal republicano. Manifestantes têm justificado a violência alegando que só foram ouvidos pelo presidente depois da onda de depredações do último sábado (1).

Agências da Receita Federal espalhadas pelo país têm sido atacadas por manifestantes, a ponto de os agentes temerem por sua integridade física. Coletes amarelos invadem os locais para cobrar reduções de impostos, dizendo que o governo "confisca" injustamente seus rendimentos.

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