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Alunos de classes baixas revelam dificuldade em superar diferenças sociais no ensino superior na França

De acordo com o Observatório das Desigualdades, na França, os filhos de operários, de classe baixa, representam 30% dos jovens de 18 a 23 anos, mas somente 11% estudam em universidades e 6% em institutos renomados (chamados de “grandes escolas”). Na outra ponta, 17% dos franceses de mesma faixa etária são da classe alta, mas 30% deles estão inscritos no ensino superior.

Estudantes de classes baixas encontram dificuldade para se acostumar com novo meio social
Estudantes de classes baixas encontram dificuldade para se acostumar com novo meio social © Pixabay /CC0/StockSnap
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Os dados do Observatório das Desigualdades mostram que os jovens de classe alta são 40% menos numerosos que os de classe baixa, mas três vezes mais presentes nas universidades. Quanto mais elevados os diplomas (mestrado, doutorado, “grandes escolas” de engenharia), a diferença é ainda maior: a taxa de estudantes ricos é oito vezes mais significativa.

O ensino superior francês apresenta três faces. A primeira, a de cursos curtos e técnicos, mais acessíveis às classes populares. Em seguida, o meio universitário de forma geral, onde alunos de áreas modestas estão presentes, mas saem com diplomas menos valorizados do que certos setores mais seletivos, como a medicina. Por fim, vêm as “grandes escolas”, extremamente bem vistas no país, e onde os estudantes pobres são raríssimos – essas instituições, inclusive, pouco ou nada fazem para abrir o caminho para a diversidade.

Desigualdades na entrada e na continuidade

A entrada nos institutos de ensino prestigiosos é apenas o primeiro obstáculo para os estudantes mais desfavorecidos na França. “Me vi no meio de pessoas cujos hábitos, as maneiras de se divertir, não eram os meus. Beber após o curso, organizar festas em apartamentos, é algo que não fazemos no meu meio social. Sobretudo porque custa caro”, disse ao jornal Le Monde uma estudante de uma universidade da cidade Grenoble, que não quis se identificar.

“Alguns estudantes desprezam qualquer pessoa que não venha do mesmo meio social que eles, sobretudo bolsistas”, declarou ao jornal francês Mathilde Millet, aluna do Instituto de Estudos Políticos de Lille, que disse ter “sonhado em entrar na instituição”. Um estudante de história também alegou receber tratamento diferenciado em Paris. “Quando cheguei na faculdade, na mesma hora tive a impressão de não ser 'legítimo'”, afirmou.

Para Paul Pasquali, sociólogo ouvido pelo Monde, os estudantes de classes baixas devem “fazer um grande esforço para aprender os códigos sociais do meio ao qual eles começam a fazer parte”. É o que afirma Nassim Larfa, aluno do célebre instituto de ciências políticas Sciences Po. “É muito importante para mim continuar amigo de meus colegas da periferia. Meu diploma não muda nada. Tenho consciência de que jamais terei os códigos das classes altas, nunca pertencerei a este mundo, ainda que hoje em dia já me sinta à vontade”, declara.

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