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Um pulo em Paris

Ongs francesas convocam boicote à Black Friday e propõem "sexta-feira verde"

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Várias ONGs e movimentos cidadãos organizam hoje na França a Green Friday, uma sexta-feira verde, com campanhas que incentivam os consumidores a boicotar as promoções da Black Friday para proteger o meio ambiente.

A Green Friday quer privilegiar a venda de objetos reciclados para diminuir a quantidade de resíduos no planeta.
A Green Friday quer privilegiar a venda de objetos reciclados para diminuir a quantidade de resíduos no planeta. greenfriday.fr
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Pelo segundo ano consecutivo, a palavra de ordem de associações e ONGs ecologistas é reduzir o consumo excessivo, que gera montanhas de resíduos e polui o meio ambiente com as consequências já conhecidas para o planeta.

Quem teve a ideia, no ano passado, foi associação Envie, que significa "vontade" em português. Ela recicla e revende eletrodomésticos usados ou seminovos para dar uma segunda vida aos objetos. A iniciativa da Green Friday cresceu e já tem 100 pontos de venda participantes, a maioria lojas que vendem produtos de segunda mão.

Este ano a prefeitura de Paris investiu € 40.000, cerca de R$ 173.000, na campanha. Cada participante vai doar 15% das vendas para várias associações. Em dezembro, a Câmara Municipal vai organizar um "mercado de Natal solidário".

Como vários países, a França importou a moda americana da Black Friday, mas associações de desefa do consumidor, como a UFC-que-choisir (o que escolher, em tradução livre), alertam que as promoções anunciadas são muitas vezes uma enganação.

Propaganda mais convincente que o desconto

A média dos descontos na França é de 2%, segundo cálculos dessas associações, mas a forte propaganda dos lojistas faz os franceses acreditarem que estão fazendo um negócio muito melhor na Black Friday, economizando mais dinheiro do que na realidade.

Muita gente vai à loja com a ideia de comprar um produto e acaba levando cinco, e esse é o problema: a intensificação do consumo. Sem falar que existem promoções ao longo do ano todo, a Black Friday é só mais uma.

Adesão de lojas ainda é fraca, mas tende a crescer

A campanha da ONG Lixo Zero (Zero Waste) é chamar a atenção para o consumismo. Ninguém vai dizer a alguém que não tem uma geladeira para não comprar o eletrodoméstico, mas não é preciso comprar tudo o que aparece de novo, por exemplo, no mercado de eletroeletrônicos, que gera muito resíduo, emprega metais raros e é terrivelmente poluente. Ninguém precisa trocar de TV todo ano, a cada modelo novo que aparece, como virou moda.  

A Greenpeace pede aos franceses para boicotar a Black Friday e lançou uma operação especial em 34 países, incluindo França e Alemanha, para incentivar os consumidores a fabricar, reciclar e reutilizar os objetos que têm em casa. A campanha começou hoje e vai até 2 de dezembro. O objetivo é mostrar que o comportamento de cada um pode ter impacto no meio ambiente. Além da Black Friday, a Greenpeace visa também a Cyber Monday, na próxima segunda-feira (26), um dia de descontos em sites de vendas de computadores e outros produtos de novas tecnologias na internet.

No Twitter, as hastags #boicote e #greenfriday, com comentários de que esse modelo de consumo está esgotado, aparecem com frequência bem maior do que no ano passado. Uma loja de móveis e objetos de decoração chamada Camif, há 70 anos no mercado e que atualmente só vende pela internet, fechou o site para vendas hoje e decidiu não participar da Black Friday.

Na home da loja, o cliente encontra a seguinte mensagem: “Neste dia de excesso de consumo global, vamos parar para pensar sobre nossas compras e o impacto que elas têm na economia e no mundo ao nosso redor." E ainda convida as pessoas a votar num campo onde está escrito: "Eu não quero um mundo submerso com produtos feitos sem respeito pelo homem nem pelo planeta.”

Reciclagem de produtos atrai cada vez mais consumidores

A rede Envie, que significa “vontade” em português, especializada no conserto e na revenda de eletrodomésticos usados e seminovos, faz um dia de portas abertas em seus ateliês. Os franceses podem levar os aparelhos quebrados que têm em casa e ver como a troca de uma peça barata às vezes é suficiente para reabilitar um eletrodoméstico. É possível gastar € 10 (R$ 23) para consertar uma torradeira em vez de comprar uma nova por € 60 (260).

Até por questões de falta de espaço em casa, os franceses ainda são menos consumistas do que outros vizinhos também ricos. Mas o fato de o país ter uma enorme classe média é explorado de maneira agressiva pelos lojistas e pela indústria. O consumismo é um fenômeno que aumentou consideravelmente nas últimas décadas, principalmente entre as novas gerações de franceses.

A expectativa do comércio francês nesta Black Friday é faturar cerca de R$ 25 bilhões, € 5.740 bilhões, até a segunda-feira (26). O poder da propaganda é evidente: há dois anos atrás, 58% dos franceses diziam ter ouvido falar na Black Friday, este ano eles são 91%.

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