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França / Protestos / Política

Erros políticos podem ter desencadeado movimento dos coletes amarelos na França

Às vésperas de uma invasão de “coletes amarelos” em Paris, deputados da maioria parlamentar reconhecem que faltou pedagogia por parte do governo francês. O movimento que surgiu espontaneamente nas redes sociais após o aumento do preço dos combustíveis, e que tomou proporções nacionais, fez a popularidade do presidente Emmanuel Macron despencar mais uma vez, pelo quinto mês consecutivo. O jornal Le Monde desta sexta-feira (23) trouxe a fala de diversos políticos que tentam entender os fundamentos do movimento popular.

Manifestante do movimento coletes amarelos protesta contra o aumento no preço dos combustíveis durante bloqueio de uma refinaria, 22/11/2018
Manifestante do movimento coletes amarelos protesta contra o aumento no preço dos combustíveis durante bloqueio de uma refinaria, 22/11/2018 REUTERS/Jean-Paul Pelissier
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“Conversei com uma pessoa que está participando do movimento dos coletes amarelos e que ganha um salário mínimo por mês. Nossos planos políticos de acabar com algumas contribuições salariais foram feitos justamente para pessoas como ela, para que passem a receber mais no final do mês. Se mesmo assim, elas continuam descendo às ruas, isso quer dizer que erramos em algum lugar”, se lamentou o deputado Nicolas Démoulin, vice-presidente do grupo majoritário na Assembleia Nacional.

Como ele, vários deputados declararam ter dúvidas sobre a capacidade que o governo teve para explicar e se fazer entender. “Nos esforçamos, trabalhamos sem folga, mas parece que não estamos explicando muito bem”, diz Thomas Mesnier, deputado da Charente, sudoeste da França, que também recebeu coletes amarelos em seu gabinete.

Na terça-feira (20), o primeiro-ministro, Edouard Philippe, reclamou do silêncio dos deputados após o fim de semana de crise. “Soubemos ocupar o terreno e responder às críticas? Não foi o suficiente. Me disseram que na televisão não fomos audíveis o bastante”, teria dito Philippe, segundo vários deputados.

Injustiça fiscal

As próprias reformas levadas pelo governo nos últimos 18 meses estão sendo questionadas pela maioria. “Ninguém entende o que estamos fazendo”, lamentou uma deputada. “Somos demasiadamente tecnocratas”, disse outra. “O movimento dos coletes amarelos expressa uma raiva contra a injustiça fiscal. Deveríamos fazer um exame de consciência, nos questionar”, declarou ao jornal Le Monde o líder do partido Modem na Assembleia Nacional, Patrick Mignola. “Nós não tínhamos que ter acabado com o imposto sobre a fortuna (ISF), já que essa medida, altamente simbólica, alimenta o sentimento de injustiça social”, completou.

Delphine Bagarry, eleita deputada pelo A República em Marcha (LREM), partido de Macron, também lamentou essa mudança. “O fim do ISF foi muito mal interpretado pela população e isso acabou ocultando todo o trabalho que fizemos na saúde, nos bairros”, disse ao Le Monde.

Outra medida que não teve o efeito esperado foi o fim da taxa de habitação, que na França não é um imposto sobre a propriedade e sim de serviço, revertido principalmente para o recolhimento do lixo. “Talvez teríamos que ter acabado com essa taxa de uma vez e não em três anos como planejado”, questionou Nicolas Démoulin. “Mesmo se fomos eleitos graças a um programa de transformação do país, talvez negligenciamos o fato de que esse acúmulo de reformas estruturais poderia perturbar a população”, analisou o deputado LREM, Jean-Charles Colas-Roy. “Pensávamos que os efeitos da reforma sobre as taxas dos combustíveis fossem ser compensados pelo fim da taxa de habitação. Mas as pessoas lembram mais das medidas negativas do que as positivas”, completou.

Soluções?

Alguns deputados tentam dar ideias para pôr fim à crise. Na segunda-feira (19), falando para a RFI, o ecologista da LREM Matthieu Orphelin pediu ao governo que vá “mais longe”, incitando a renovação energética. A deputada de Paris, Olivia Grégoire, iniciou uma reflexão sobre um dispositivo para ajudar as famílias mais pobres a comprarem veículos com mais facilidade. Já o deputado Ludovic Mendes estuda propor uma medida para fusionar alguns impostos, ou até a criação de uma taxa base.

“É preciso ter cuidado para não enviar sinais contraditórios à população, principalmente criando novos impostos”, ressaltou o deputado Rémy Rebeyrotte. Nesta sexta-feira, uma proposta de Alexandre Holroyd, deputado dos franceses do exterior, foi debatida na Assembleia. A ideia seria oferecer vantagens fiscais a empresas que contratassem estrangeiros. Sob pressão, ele acabou desistindo de levar o projeto em frente. Segundo Le Monde, mais uma medida a favor da suspensão de taxas pagas por empresas poderia ter um efeito devastador na véspera da manifestação dos coletes amarelos em Paris.

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