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Imprensa / Jamal Khashoggi / Política

Jornal diz que França está em cima do muro sobre caso Khashoggi

Os jornais franceses desta quarta-feira (24) voltaram a dar destaque ao caso do assassinato do jornalista saudita Jamal Kashoggi. No dia seguinte à alocução do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que afirmou que o crime foi planejado com vários dias de antecedência, o diário Aujourd’hui en France ressalta como a diplomacia francesa age com discrição para não atrapalhar os “negócios” com a Arábia Saudita.

Destaque do jornal Aujourd'hui en France desta quarta-feira, 24 de outubro 2018
Destaque do jornal Aujourd'hui en France desta quarta-feira, 24 de outubro 2018 Fotomontagem RFI
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“Como dizer a um 'parceiro', suspeito de ter cometido um assassinato, que você está irritado, mas, ao mesmo tempo, manter um excelente relacionamento? “. Essa é a pergunta feita pela jornalista Ava Djamshidi nas páginas do Aujourd’hui en France desta quarta-feira. “Afinal, não dizemos que o cliente é sempre rei, ainda mais quando ele importa € 5 bilhões por ano, isso sem contar o setor armamentista? “, pergunta ironicamente Djamshidi.

A publicação destaca que a França está travada entre seu status de país dos direitos humanos e seu pragmatismo econômico. Com isso, a diplomacia francesa precisa de todos os talentos de um equilibrista, diz o jornal. “A caminhada sobre a corda bamba é ainda mais complexa quando sabemos que começou ontem o chamado 'Davos do deserto', com muito menos participantes que o previsto”, lembra o diário.

França evita falar em responsabilidade de Arábia Saudita

A França julgou o assassinato do jornalista Jamal Kashoggi grave o suficiente para cancelar a ida do ministro da Economia, Bruno Le Maire ao fórum de Riad. O jornal lembra que a pasta de Relações Exteriores francesa condenou fortemente o ocorrido, mas sem, em momento algum, citar uma eventual responsabilidade do governo saudita.

O presidente Emmanuel Macron falou em “fatos graves” e disse que “espera que a verdade seja revelada”. Quanto a suspender a venda de armas, como sugerido pelo ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, a todos europeus, o chefe de Estado preferiu não responder: ”não sou obrigado a expressar uma reação a cada vez que um dirigente político faz uma declaração”, disse Macron.

Para a jornalista Ava Djamshidi, o tom usado pelos franceses é muito mais agradável para os sauditas do que as últimas declarações vindas dos Estados Unidos. Após tentar minimizar o ocorrido por diversas vezes, o presidente americano, Donald Trump, disse ontem que “esta é uma das piores operações de acobertamento da história”, pouco antes de seu secretário de Estado, Mike Pompeo, revogar os vistos dos sauditas implicados no caso.

Interesses econômicos superam indignação dos franceses

Mas, do lado francês, o tom ainda não deve mudar. “Temos uma parceria estratégica com a Arábia Saudita”, explicou de forma prudente uma fonte oficial em Paris. “Nós pedimos para que o governo saudita chegue a uma conclusão antes de estabelecermos as nossas próprias”, disse outra fonte. “Os fatos ainda não foram estabelecidos, esperamos que toda a verdade seja dita”, afirma outra fonte próxima ao presidente francês.

O jornal Aujourd’hui en France ressalta que todas as precauções nas palavras escolhidas servem para não desagradar o segundo maior importador de armas francesas. Em um infográfico, o jornal mostra que os sauditas importam € 1,4 bilhão (quase R$ 6 bilhões), ficando somente atrás do Egito (€ 1,5 bilhões). O Brasil é o quarto país para quem a França mais exporta armamento (€ 361 milhões).

A jornalista Ava Djamshidi termina sua matéria citando a fala “cínica” de um antigo ministro de Relações Exteriores francês que não quis se identificar na reportagem: “não se vende armamento a países que não estão em guerra”.

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