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"Brasil vive época propícia para arte subversiva", diz autor de livro sobre cena musical psicodélica

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O jornalista e escritor Bento Araújo veio à capital francesa participar do primeiro evento de lançamento de seu livro, Lindo Sonho Delirante, na Embaixada do Brasil em Paris. Ele conta que a obra, dividida em duas edições, nasceu da vontade de preencher a ausência de informações sobre o assunto no país e no mundo e acredita que ascensão do conservadorismo no Brasil é terreno fértil para o aparecimento de uma cena musical psicodélica política e subversiva.

O jornalista e autor do livro Lindo Sonho Delirante (LSD), Bento Araújo
O jornalista e autor do livro Lindo Sonho Delirante (LSD), Bento Araújo RFI
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Anos 1970 e 1980, período de ditadura militar no Brasil: o contexto não poderia ser mais avesso para o surgimento da cena musical psicodélica no país. Mas foi exatamente o que aconteceu. Liderado por artistas como Tom Zé, Rita Lee, Milton Nascimento, Secos & Molhados, Novos Baianos – e inúmeros outros –, o movimento excessivamente colorido e inventivo invadiu os ouvidos dos brasileiros.

“Esses discos foram produzidos debaixo de muita repressão militar e a influência dos alucinógenos, das drogas, foi muito importante para a música psicodélica acontecer”, diz Bento Araújo. “Essa coisa da fuga da realidade. Os próprios Beatles vinham fazendo isso nos anos 1960 e o pessoal da Tropicália pegou essa influência, deglutiu antropofagicamente, e devolveu como uma música brasileira genuína”.

O próprio título do livro de Bento Araújo, que forma a sigla LSD, faz uma referência ao compacto do cantor Fabio, lançado em 1968, “em pleno ano do AI-5”, lembra o autor. “A música se chamava Lindo Sonho Delirante e, na capa do disco, vinha escrito em letras garrafais ‘LSD’. Os censores não perceberam, ninguém sacou. Tem vários casos desses, de mensagens subliminares, nas capas dos discos. Isso é muito bacana de ir percorrendo pelo livro”, explica.

Para o escritor, o período turbulento pelo qual passa o Brasil atualmente, com a ascensão de um maior conservadorismo, é propício para o retorno de uma criação artística subversiva. “Pode ser que essa coisa de protesto volte a acontecer dentro da música. Acho que com a cena psicodélica atual, que é bastante forte no Brasil, principalmente no Nordeste, tem tudo para acontecer uma pequena revolução novamente em termos de letras, de contestação, batendo de frente com tudo isso aí. A arte tem esse papel, acho fundamental”, afirma.

Nordeste segue influenciando movimento psicodélico brasileiro

Para Bento Araújo, o Nordeste é o grande influenciador no país em matéria de música psicodélica. “Principalmente em Pernambuco, onde vários artistas criaram discos incríveis, tipo Flaviola, Lula Cortes, Zé Ramalho, Alceu Valença, tinha uma cena psicodélica muito forte lá, que hoje influencia a garotada, não só do Estado, mas do Nordeste inteiro, que bebem da fonte e fazem um rock atual e muito relevante”, declara.

Questionado sobre seu artista preferido da psicodelia brasileira, Bento Araújo ri e sugere escolher dois. Em primeiro lugar, Arnaldo Batista, célebre líder dos Mutantes, admirado por Sean Lennon e Kurt Cobain; e, em seguida, Lula Côrtes, que, com Zé Ramalho, fez um dos álbuns mais raros do Brasil, o "Paêbirú".

O movimento psicodélico brasileiro foi tão grande que despertou um interesse mundial pela música nacional, que dura até hoje e se adaptou ao mercado contemporâneo. “No caso da música eletrônica, vários DJs do mundo todo entraram em contato comigo querendo o livro, procurando por 'beats' para colocar nas suas músicas, nos seus 'sets'. Isso mostra que mesmo o pessoal de hoje em dia continua muito interessado na música dessa época”, conta.

Bento Araújo comemora o fato de que seu livro, publicado de forma independente, já foi enviado a mais de 40 países diferentes. Ele afirma que a França é exemplo em termos de apropriação e valorização da música brasileira. “Paris é uma cidade especial para fazer esse primeiro evento de lançamento. Desde os anos 80, com a coisa do ‘World Music’, a redescoberta da música africana e latina, Paris é um centro cultural para esse tema na Europa”, diz o escritor.

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