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Europa / Fraude / Mercado Financeiro

Escândalo CumEx: fraude bilionária custou € 55 bilhões a países europeus

Profissionais do mercado financeiro teriam desviado € 55 bilhões (equivalente a R$ 226 bilhões) nos últimos 15 anos na Europa. É o que afirma o jornal Le Monde desta quinta-feira (18), que, com outros 17 veículos de imprensa europeus, desvendou um esquema gigantesco de sonegação que afetou vários países do bloco.

Bolsa de Valores de Paris, fotoilustração
Bolsa de Valores de Paris, fotoilustração AFP PHOTO / ERIC PIERMONT
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Alemanha, Dinamarca e França são alguns dos países que deixaram de receber bilhões de euros em impostos por causa de um esquema montado por uma quadrilha que operava dentro dos mercados financeiros. Graças a uma nova matéria investigativa iniciada pelo jornal alemão Correctiv e outras 17 redações, incluindo o Die Zeit e o Le Monde, um plano inédito de sonegação foi desvendado.

A matéria se baseou em documentos vazados pela justiça alemã além da investigação realizada em campo. Neste novo caso, ao contrário do “Panama Papers”, não houve envolvimento de paraísos fiscais. A falcatrua foi possível graças à flexibilidade encontrada nas bolsas de valores, com trocas rápidas e discretas de ações de grandes empresas.

O escândalo veio da Alemanha, onde foi revelado em 2015, um modelo de evasão fiscal criado por traders, bancos e advogados para fraudar o fisco do país. Explorando uma falha da lei, eles efetuavam trocas de grandes volumes de ações, no exato momento em que dividendos eram pagos aos acionários, com o intuito de confundir a real identidade das pessoas donas daquelas ações. Na sequência, os envolvidos solicitavam o reembolso das taxas pagas pelos dividendos, permitido no caso de investidores estrangeiros que possuem acordos de desoneração fiscal. A fraude consistia em ter acesso ao reembolso sem nunca ter recebido os dividendos. Em alguns casos, um mesmo dividendo teve o valor da taxa reembolsado 10 vezes.

A gigantesca fraude custou cerca de € 10 bilhões aos cofres públicos alemães, o que faz desse o maior escândalo fiscal da história do país e talvez da Europa. O modelo foi batizado de “CumEx”, do latim cum (com, em português) e ex (sem, em português), ou seja, “com” e “sem” dividendos, em referência à rápida troca de ações do esquema. Depois dessa descoberta, várias investigações foram iniciadas na Europa, após o Le Monde e outros veículos terem acesso ao material.

Bancos cúmplices

Para que esse esquema funcionasse, foi preciso uma grande cooperação entre traders, corretores, fundos, advogados e bancos. A investigação revela que pelo menos 50 grandes instituições financeiras mundiais participaram do plano fraudulento, em diferentes níveis. Entre elas estão bancos franceses como BNP Paribas, Société Générale e Crédit Agricole.

Os espanhóis Santander também aparecem nos documentos. A conivência de todos esses intermediários é tamanha que o diretor da administração fiscal alemã, Michael Sell, falou em “crime organizado”. Segundo a investigação, os bancos sabiam do esquema. Para cada etapa, “todos sabiam exatamente o que fazer”, afirmou uma testemunha aos investigadores alemães.

Fraude a nível europeu

No entanto, a fraude não parou nas fronteiras da Alemanha. Os jornais e sites que se juntaram para investigar as “CumEx Files” (arquivos CumEx, em português) descobriram que o modelo foi replicado, sob formas similares, em outros países europeus: Dinamarca, Bélgica, Áustria, Suíça e Noruega. Os traders fraudadores também agiram, mas com menos sucesso, na França, Holanda e Espanha.

A investigação do Le Monde mostra, principalmente, que a fraude ligada ao “CumEx” é somente a ponta do iceberg de um problema muito mais importante, que custa, a cada ano, bilhões de euros ao Estados Europeus: a arbitragem de dividendos. É uma técnica de otimização fiscal, na fronteira da legalidade e desconhecida do grande público, usada por diversos bancos internacionais, e que consiste em criar modelos complicados para evitar o pagamento de impostos sobre os dividendos.

Na União Europeia, a França faz parte das principais vítimas da arbitragem de dividendos. Essa forma de evasão fiscal custaria ao país € 3 bilhões por ano. Até hoje, a administração fiscal francesa nunca se preocupou com o caso, mas poderá seguir o exemplo dos vizinhos ingleses e britânicos em breve.

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