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Um ano após o movimento #MeToo, homens franceses revelam mudança de atitude

A mobilização global #MeToo provocou uma tomada de consciência brutal quanto ao comportamento masculino nas relações cotidianas com as mulheres. Na França, vários homens testemunham uma mudança de atitude após o movimento feminista, que ocorreu um ano atrás.

Homens franceses tomaram consciência de atitudes que poderiam se transformar em violências no cotidiano
Homens franceses tomaram consciência de atitudes que poderiam se transformar em violências no cotidiano Bertrand GUAY / AFP
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“Me sentia feminista, mas, ainda assim, me reconheci em certos testemunhos da hashtag #BalanceTonCollègue (“Entregue Seu Colega”, em francês)”, disse Mathias*, de 29 anos, à rádio francesa France Info. Ele afirma ter recebido “um tapa” com as declarações do movimento #MeToo. Antes da mobilização, Matthias pensava que a agressão sexual era apenas reservada a “homens estranhos”. Mas, diante das revelações, ele começou a se perguntar “se todos os homens não eram meio pervertidos”.

“Pensava que minha irmã só recebia cantadas e provocações uma vez por mês. Na verdade, ela é provocada todos os dias”, revelou Mathias. Ao ver as mensagens do #MeToo, Alexandre, de 26 anos, também se reconheceu nos relatos. “Eu gosto muito de tocar nas meninas. Não tinha consciência que poderia ser um incômodo”, diz, afirmando que discutiu com amigas para ouvir seu ponto de vista. “Elas me disseram que sim, era um incômodo, e me senti um pouco idiota na hora”.

Alexandre cita um amigo que, quando bebe, gosta de flertar com as mulheres e que pode ser “um pouco insistente”. “Antes mesmo do #MeToo, já tínhamos dito para que ele parasse, mas o movimento nos fez tomar consciência das consequências psicológicas desse tipo de comportamento. Então, nesse momento, tivemos que lhe dizer: ‘É preciso que você pare’”.

Esforço para não produzir violências no cotidiano

Marcado pelas mensagens que leu e ouviu, o francês Marc decidiu “se colocar no lugar das mulheres” e mudar tudo o que o levava a dizer a si mesmo: “Não seja o centésimo homem do dia”. “Até onde entendi, aquilo que para mim é apenas uma brincadeira, como olhares ou um sorriso, deixa de ser engraçado quando se repete cem vezes no mesmo dia”, declara.

O pai de família conta que, durante uma corrida perto do rio Sena com um amigo, fez o esforço de se distanciar de uma mulher que estava sozinha “para não dar a impressão de que corríamos atrás dela para incomodá-la”.

Mathias também diz que tenta ser “mais vigilante”. Ele evita contatos físicos, se proibiu de fazer piadas sexistas ou sexuais e faz o esforço de não monopolizar a conversa perto de suas colegas. Ele afirma que não hesita mais em intervir caso ouça uma brincadeira machista.

Não ter consciência da violência que gera é um privilégio dos homens

Já Pierre lamenta que, às vezes, sente medo de ser “comparado a um Harvey Weinstein” apenas por uma piada, além do fato de que o movimento #MeToo “tem tendência a colocar todos os homens no mesmo saco”. “Quando você se encontra diante de uma mulher, você não sabe muito bem o que fazer”, diz.

Geoffroy*, de 35 anos, explica que já se recusou a dar carona para uma amiga após uma festa depois do movimento #MeToo. “Nós estaríamos sozinhos em meu carro, ela poderia dizer qualquer coisa depois, e automaticamente eu teria que me justificar”, relata.

O sociólogo Eric Fassin, especialista nas questões de gênero e sexualidade, ressalta que a impressão de ser acusado é normal, já que “os homens foram levados a se interrogar sobre assuntos que, até então, eram para eles uma evidência” e a “questionar seus privilégios”. “Um dos privilégios do privilegiado é o de não pensar em seus privilégios”, afirma o sociólogo. “O movimento revela que a estrutura favoriza a violência. E se a estrutura é problemática, é difícil afirmar que não somos problemáticos também”.

“Há um problema com os homens e com a masculinidade de forma geral”, diz Jonathan, entrevistado pela France Info. “Quando vi que estava no mesmo saco que os outros, que poderia ser visto como uma ameaça em potencial apenas por seu homem, fiquei com raiva. Quis resolver todos os problemas de uma vez, afinal é isso o que um homem faz”.

Jonathan explica que, após sua reação raivosa, alguém lhe disse que tudo o que ele precisava fazer era parar e escutar as mulheres. “Então é isso que estou fazendo no momento. Estou escutando”, diz.

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