Alzheimer: "doença ou envelhecimento natural"?
Há 24 anos, o dia 21 de setembro se tornava o marco da luta contra o Alzheimer. Considerada a “doença do século” e objeto de projeções catastróficas – apesar da diminuição no aparecimento de novos casos - este mal continua sem cura. O jornal Libération desta sexta-feira (21) destaca a dificuldade em obter um diagnóstico correto. Para alguns, o Alzheimer deve continuar sendo tratado como doença mas, para outros, não passa de uma consequência natural do envelhecimento.
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“Hoje, não existe nenhum tratamento para curar essa doença que conta com 225 mil novos casos todos os anos na França”, afirma a Fundação de Pesquisa Sobre o Alzheimer (FPSA) do país. Nunca se falou tanto sobre essa condição, mas famílias e pacientes continuam obtendo respostas evasivas dos médicos.
A publicação lembra que este ano foi marcado pela decisão da ministra da Saúde, Agnès Buzyn, de interromper o subsídio dos remédios para o Alzheimer, criados nos anos 1980 e cuja ineficácia foi comprovada. Mas, segundo o Libé, o debate não gira somente em torno da medicação. A discussão agora é como avaliar os sintomas. “Seria o Alzheimer uma doença no sentido mais restrito do termo, ou um declínio cognitivo inevitável do processo de envelhecimento? ”, questiona a jornalista Catherine Mallaval.
O diário dedicou nesta sexta-feira uma página inteira para opor dois grandes peritos em gerontologia.
O declínio cognitivo faz parte da vida
Para o gerontologista Olivier Saint Jean, do Hospital Europeu Georges Pompidou, o declínio cognitivo faz parte da vida e defende a ideia que o Alzheimer não seria uma doença. “As lesões observadas no cérebro durante o processo de envelhecimento ou no que chamamos de Alzheimer são as mesmas, então porque não conseguimos admitir que o órgão mais complexo de nosso corpo possa ser vítima de uma obsolescência programada? ”, avalia Saint Jean.
“Falar de envelhecimento em vez de Alzheimer muda totalmente a leitura do problema em nossa sociedade. Usando a palavra doença, criamos um paciente, automaticamente isolado em sua condição de doente, mas quando falamos de envelhecimento, é algo que corresponde a todos”, conclui o médico.
Absurdo não chamar de doença
Já para o neurologista Bruno Dubois, do Hospital Salpétrière, a demência e a doença de Alzheimer possuem especificidades bem distintas. “O Alzheimer é uma doença. Hoje, temos 20 mil pessoas de menos de 65 anos que sofrem com isso, que tinham vidas normais, com crianças pequenas. Dizer a estas pessoas que essa doença não existe é pior que um erro, é um absurdo total”, afirma o especialista.
“As lesões no cérebro observadas em casos de Alzheimer são muito mais importantes e atingem quase todo o cérebro, quando no envelhecimento natural, a degeneração dos neurônios fica localizada na região do lobo temporal”, ressalta Dubois.
O chefe da redação do jornal Libération, Laurent Joffrin,lembra que doença ou não, a sociedade precisa planejar como financiar a “quarta idade”. “É um dos maiores desafios do século que ainda não está sendo levado a sério”, conclui Joffrin.
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