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França/Política

Ecologista Nicolas Hulot, ministro mais popular de Macron, pede demissão e abala governo

O presidente francês, Emmanuel Macron, sofreu nesta terça-feira (28) um sério revés em sua equipe. Sem prevenir o presidente nem o primeiro-ministro, Nicolas Hulot, ministro da Transição Ecológica e o mais popular do governo, anunciou nesta manhã sua demissão ao vivo, durante uma entrevista no programa de rádio de grande audiência.

Nicolas Hulot, ministro da Transição Ecológica, anunciou nesta terça-feira (28) sua demissão em uma entrevista no rádio, sem prevenir o presidente nem o primeiro-ministro
Nicolas Hulot, ministro da Transição Ecológica, anunciou nesta terça-feira (28) sua demissão em uma entrevista no rádio, sem prevenir o presidente nem o primeiro-ministro Captura de vídeo
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O anúncio surpreendeu até os jornalistas da rádio pública France Inter que entrevistavam Nicolas Hulot. “Não quero mais mentir!” lançou o ainda ministro da Transição Ecológica. “Vou tomar a decisão mais difícil da minha vida. Não quero dar a ilusão que a minha presença no governo significa que estamos à altura dos desafios ambientais”, afirmou antes de anunciar sua decisão de sair do governo a partir de hoje.

“Me surpreendo diariamente a me resignar, a me acomodar com pequenos avanços quando a situação no mundo, neste momento em que o planeta virou uma estufa, merece uma mudança de escala e de paradigma”, explicou. Ele disse que estava diante de um dilema: ou se acomodava com os pequenos avanços, sabendo que ao deixar o governo as coisas poderiam piorar, ou ficava, dando a impressão que, apenas pela sua presença, “a França e a Europa estariam à altura de enfrentar o pior desafio que a humanidade já teve. Decido sair. É uma questão de honestidade e de responsabilidade”, concluiu.

Gota d’água

Nicolas Hulot, um ex-apresentador vedete de TV e ex-militante ecologista muito popular na França, não conseguiu, como esperava, avanços significativos na luta contra a destruição do meio ambiente. A decisão do governo de reduzir pela metade o preço da licença de caça na França (de € 400 para € 200 por ano), confirmada na segunda-feira (27), foi a gota d’água que provocou sua demissão. O lobby dos caçadores, reforçado pela influente indústria armamentista, é um dos mais poderosos do país. A caça é o terceiro hobby dos franceses, praticada por 1,2 milhão de pessoas.

No governo Macron, Hulot perdeu várias batalhas importantes, como o adiamento da redução para 50% da produção de energia nuclear no país, a entrada em vigor do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Canadá, ou a proibição do glifosato, adiada pelo lobby agrícola na Comissão Europeia

Reações

A demissão surpreendente acontece após as férias de verão, em um momento delicado para Macron. Com popularidade em queda devido ao escândalo envolvendo seu ex-segurança Benalla e ao baixo crescimento econômico, o presidente enfrenta dificuldades para avançar suas promessas.

O porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, considerou uma falta de cortesia o ministro se demitir sem avisar o presidente. Mas o Palácio do Eliseu emitiu uma nota dizendo que Hulot pode se orgulhar de sua ação no ministério. A presidência francesa prevê uma mudança ministerial, mas não imediatamente.

Para ONGs ambientalistas, a saída de Hulot prova a falta de compromisso de Macron com o meio ambiente. “Que desperdício. Ele tentou, mas nunca conseguiu se impor em um governo onde a ecologia é apenas um tema de fachada”, lamentou o diretor-geral do Greenpeace na França, Jean-François Julliard.

A oposição não perdeu tempo para criticar mais uma vez a política de Macron. O presidente do partido conservador Os Republicanos, Laurent Wauquiez, avalia que Hulot “se sentiu traído como muitos franceses”. Para o líder do partido de extrema-esquerda França Insubmissa, Jean-Luc Mélénchon, a demissão do ministro da Transição Ecológica é “um voto de censura contra Macron”.

O presidente francês faz hoje uma visita de Estado à Dinamarca, em busca de apoio às suas propostas de reforçar a integração da União Europeia, aumento dos investimentos na Defesa do bloco, reformas na OMC e na atuação do G7, que a França presidirá em breve.

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