“Banqueiros tomaram lugar dos reis”: performer russo Pavlensky será julgado em Paris por atear fogo ao Banco da França
O performer russo Pyotr Pavlensky foi detido em Paris em 16 de outubro de 2017 por atear fogo às portas do Banco da França, durante uma obra artística intitulada “Iluminação”. O artista russo será julgado no dia 13 de setembro, na capital francesa. A decisão foi anunciada nesta segunda-feira (2), pelo Tribunal Penal de Paris.
Publicado em: Modificado em:
Após a performance “Iluminação”, Pavlensky explicou que "os banqueiros tomaram o lugar dos monarcas" e solicitou uma “nova e grande revolução francesa”. O trabalho lembra a ação artística de Pavlensky de 2015, intitulada “Ameaça”, na qual ele incendiou as portas do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB), em Moscou. Na época, o próprio Pavlensky pediu para ser acusado de terrorismo em solidariedade com o diretor ucraniano Oleg Sentsov, preso no início daquele ano, acusado do mesmo crime. Pavlensky, no entanto, foi acusado de vandalismo; as acusações foram posteriormente alteradas para “danificar um patrimônio cultural”; ele foi multado e liberado.
Pavlensky é conhecido por performances radicais que trazem denúncias de seu autor, numa crítica ao mundo contemporâneo, especialmente a seu país de origem. Em 10 de novembro de 2013, quando a Rússia celebrava o Dia da Polícia, ele se assentou completamente nu na calçada em frente ao Kremlin e grudou seus próprios testículos usando pregos ao cimento. A performance, chamada “Fixação”, viralizou nas redes sociais de todo o planeta. Acusado de mais uma vez de vandalismo, ele foi depois liberado pela polícia.
Depois de cada performance, Pavlensky exige ser examinado por psiquiatras que o declaram são e perfeitamente responsável por suas ações. Em outubro de 2014, ele realizou “Separação”: sentado nu no alto dos muros do Instituto Psiquiátrico de Moscou, o artista cortou um lóbulo de sua orelha com uma faca, em protesto contra o uso de psiquiatria para fins políticos.
Rússia, um Estado policial?
Nascido em São Petesburgo, Pyotr Pavlensky desejava denunciar o Estado policial “que a Rússia se tornou”. "Essa performance pode ser vista como uma metáfora para a apatia, a indiferença e o fatalismo político da sociedade russa contemporânea. Não é a anarquia burocrática que priva a sociedade da oportunidade de agir. É a fixação em suas derrotas e perdas que une a sociedade ao asfalto do Kremlin", disse na ocasião o artista.
Um ano antes, Piotr Pavlenski também havia costurado sua boca em apoio ao grupo de rock Pussy Riot, formado por mulheres. Ele foi à Catedral de Kazan com um cartaz que dizia: "O desempenho do Pussy Riot foi uma retomada da famosa ação de Cristo (Mat 21: 12-13). A passagem da Bíblia citada pelo artista refere-se à célebre expulsão dos mercadores do templo. Uma menção clara à censura de artistas na Rússia.
Asilo político na França
Pavlensky deixou a Rússia em direção à França no início de 2017, após ser acusado de agressão sexual. Nesta segunda-feira (2), uma sessão foi realizada no novo prédio do tribunal em Paris, em relação ao caso do artista russo. O tribunal foi incapaz de examinar o mérito do caso devido às queixas do advogado de Pavlensky e de sua parceira, a artista Oksana Shalygina, ao tribunal de cassação.
Segundo a defesa, numerosas violações da lei foram cometidas durante a investigação. A audiência do tribunal de cassação está marcada para 4 de setembro. Se o tribunal não considerar todas as reclamações do advogado, o julgamento final em 13 de setembro pode ser adiado. No entanto, a Corte mantém Pavlensky sob custódia até, pelo menos, 28 de julho. O performer russo e sua parceira Oksana Shalygina são acusados de dano à propriedade, e de ameaça à vida das pessoas. Shalygina foi libertada da prisão no início de janeiro de 2018 com o compromisso de não deixar a cidade.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro