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França/Vaticano

França: visita de Macron ao Vaticano gera debate sobre laicidade

Depois de um encontro com o papa Francisco na manhã desta terça-feira (26), o presidente francês, Emmanuel Macron, receberá nesta tarde o título de honra da Basílica de São João de Latrão, em Roma, uma tradição que existe desde o século 17. A decisão gerou críticas da oposição, que questiona o respeito pelo princípio da laicidade na França.

ncês Emmanuel Macron durante audiência no Vaticano, em 26 de junho de 2018.
ncês Emmanuel Macron durante audiência no Vaticano, em 26 de junho de 2018. lessandra Tarantino/ Pool via Reuters
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Os ex-presidentes socialistas François Hollande, Miterrand e Georges Pompidou nunca buscaram o título católico, concedido aos reis franceses e, com o advento da República, aos presidentes. A postura é diferente entre os chefes de Estado de direita: Nicolas Sarkozy, René Coty, Jacques Chirac ou ainda o general Charles de Gaulle aceitaram a homenagem.

Para o cientista político Bruno Cautrès, da faculdade Sciences Po, em Paris, é evidente que Macron considera importante manter boas relações entre a França e a igreja católica. “Sempre existirá essa tensão: é possível ser chefe de um Estado laico, como a República Francesa, que é única, indivisível e laica, como diz a Constituição, e também se relacionar com a igreja”, disse em entrevista à RFI.

Para o eurodeputado do partido Socialista, Emmanuel Maurel, Macron tem uma relação “muito específica com a laicidade” – o presidente francês pediu para ser batizado aos 12 anos e estudou em uma escola jesuíta, como o próprio papa Francisco. Hoje ele se considera agnóstico. Em entrevista à rádio France Inter, Bruno Retailleau, líder do partido de direita "Os Republicanos" no Senado, disse que a visita do chefe de Estado francês ao Vaticano era uma tentativa de “seduzir o eleitorado católico”.

Ao mesmo tempo, ele pediu que o presidente esclareça sua posição sobre a laicidade. “É extremamente importante neste momento, em que devemos falar sobre Islã e República”.

No início de abril, em um discurso realizado durante a Conferência dos Bispos da França, Macron afirmou que desejava melhorar o relacionamento entre a igreja católica e a República francesa, que, segundo ele, sofreu um “baque” depois da adoção do casamento homossexual, em 2013. A declaração suscitou críticas dos partidos de esquerda e de direita. Nesta terça-feira (26), o porta-voz do governo francês, Benjamin Griveaux respondeu às críticas dizendo que o título concedido pelo Vaticano "era perfeitamente laico".

Audiência durou uma hora

A audiência do papa Francisco com o presidente francês Emmanuel Macron na Biblioteca pontifícia do Palácio Apostólico durou quase uma hora na manhã desta terça-feira. Este foi o encontro mais longo do pontífice com um chefe de Estado. Além da longa conversa, chamou atenção o clima cordial e informal entre os líderes com dois beijos na saudação final.

O chefe de Estado francês chegou ao Vaticano acompanhado pela primeira- dama Brigitte e pelos ministros do Interior, Gérard Collomb, o ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drain, e pela delegação francesa.

O papa recebeu o presidente Emmanuel Macron com um grande sorriso. Antes de começar a audiência a portas fechadas, Francisco apresentou um padre da Secretaria de Estado que atua como intérprete, dizendo: " Ele já viveu muito tempo na África". Esta observação do pontífice é significativa, devido às fortes ligações da França com diversos países africanos que nos séculos XIX e XX foram colônias francesas.

A hospitalidade aos imigrantes e a integração social foram os principais temas abordados. A visita presidencial ocorre durante um momento delicado nas relações diplomáticas entre a França e a Itália com troca de acusações entre os dois países por causa da questão dos imigrantes. Durante a sua permanência em Roma o presidente francês não encontrará o primeiro-ministro Giuseppe Conte e nem representantes institucionais italianos “porque é uma visita ao Vaticano e não à Itália”, lembrou a Presidência francesa.

O papa Francisco e Macron conversaram também sobre assuntos gerais como mudanças climáticas e a situação de cristãos no Oriente. Depois da audiência e da saudação aos membros da delegação, houve a troca de presentes. Ao dar o medalhão de São Martinho que doa seu manto aos pobres, o papa Francisco explicou ao presidente francês:

"É uma medalha feita por um artista romano do século passado, ele retrata São Martinho e quer ressaltar a vocação dos governantes em ajuda aos pobres. Somos todos pobres ". O pontífice doou também a Macron seus documentos Evangelii Gaudium, Laudato Sì, Amoris Laetitia, Gaudete e Exsultate e a última Mensagem para o Dia Mundial da Paz.

Macron, por sua vez, trouxe como presente ao Pontífice o livro de Georges Bernanos "Diário de Um Pároco de Aldeia", em uma edição de 1949 em italiano, um documento que o Papa disse que apreciava muito.

(Colaborou Gina Marques, correspondente da RFI em Roma)

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