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Maconha/Paris

Parisienses fazem fila para comprar maconha legalizada

Cofyshop é uma daquelas lojinhas de “uma porta”, na região central de Paris, a poucos metros da agitada Place de la République. Um enorme segurança organiza a entrada das pessoas no apertado estabelecimento. A fila é grande, mas tranquila, com adultos de todas as idades.

Fila diante da loja Cofyshop, que vende derivados de maconha.
Fila diante da loja Cofyshop, que vende derivados de maconha. @ Patricia Moribe
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O que eles querem? Maconha. Os consumidores aproveitam a novidade de poder comprar a erva legalmente, com comprovante de caixa. A novidade está fazendo sucesso e duas vezes em uma semana o estoque esgotou e a loja teve de fechar mais cedo.

O conceito é diferente dos tradicionais coffee shops holandeses, estabelecimentos onde a venda e consumo de maconha são legalizados. Na França, fumar maconha em público ainda é proibido.

Balcão da loja Cofyshop, em Paris.
Balcão da loja Cofyshop, em Paris. Facebook/Cofyshop

Erva light

O destaque das lojas francesas vai para a chamada “maconha light”, composta basicamente de CBD (canabidiol), molécula de cânabis que a literatura científica diz ter efeitos analgésicos e relaxantes, e com pouquíssimo teor de THC (tetraidrocanabiol), que é responsável pelos efeitos psicotrópicos da planta, ou seja, o barato. Uma brecha na lei francesa permite, desde novembro, que derivados da planta sejam comercializados, respeitando um teor máximo de THC de 0,2%. Os produtos também não podem dizer que promovem benefícios médicos.  

Empresários antenados, como Joaquim Lousquy, 29 anos, dono do Cofyshop, aproveitaram a abertura para investir no setor. “Eu gosto de buscar novidades, em setores diferentes”, diz o empreendedor, que também já deu o que falar na cidade ao inaugurar um primeiro prostíbulo com bonecas de silicone, para ira de moralistas e feministas.

Não é a primeira loja de derivados de maconha em Paris ou na França, mas Lousquy explica que o sucesso é resultado de um projeto bem elaborado. “Pensamos na marca, nas cores, no logo, no conceito”, diz. “Também divulgamos na imprensa, mas o nosso diferencial é que o cliente pode ver, cheirar e comparar os produtos”. O jovem empresário não esconde a ambição: “Já recebemos cerca de 300 pedidos de franquia e pelo menos cem são projetos sérios. Logo a marca vai estar em toda a França”.

A oferta muda todo dia. Nesta quarta-feira (13), por exemplo, a escolha de ervas era entre “Swiss Cheese” e “Black Domina”. O grama custa uma média de € 13. Outros produtos derivados de maconha vendidos na loja são xaropes, biscoitos, balas e óleos.

Curiosidade

Na fila, um homem que se identificou como “X”, diz que veio por curiosidade, “para experimentar a erva à base de CBD, já que o nível de THC no produto é ridículo”. Para ele, a venda legal de cânabis, “segue o bom senso, ao contrário do que acontece com o álcool, que é bem mais nocivo e mais tolerado”.  Ele lembra que há muitos estudos que falam dos benefícios da droga para tratar doenças como câncer e epilepsia de maneira natural. “Isso há muito tempo”, acrescenta.

“Sou consumidor de maconha, que é ilegal na França, então esta loja é uma solução, digamos, legal”, diz Hubert, 33 anos, empresário. O colega Hafik, 35 anos, fala que existe muita hipocrisia a respeito do uso da erva. “Finalmente vamos poder consumir o produto abertamente, vamos ver como isso vai se desenvolver”.

Dominique e Jean são um casal de aposentados na faixa de 70 anos. “Viemos por curiosidade, parece que a substância tem um lado terapêutico e é leve. É a primeira vez que vamos fumar maconha, nem em 1968 fizemos isso”, explica Dominique, rindo.

Marc quer tentar creme de cânhamo, derivado da maconha, para tratar feridas da mão.
Marc quer tentar creme de cânhamo, derivado da maconha, para tratar feridas da mão. @ Patricia Moribe

Marc, cigarro no canto da boca, é o único da fila que se deixa filmar e fotografar. Ele mostra a palma das mãos, tomadas por feridas secas. “Eu tinha uma feridinha de nada, o médico me passou uma pomada e virou psoríase. Isso há três anos. O médico diz que estou exagerando, mas quero experimentar o creme à base de cânhamo [variedade de cânabis]”.

Programa de desenvolvimento

A liberação do CBD faz parte de um projeto do governo Macron para redinamizar a Creuse, no centro do país, uma das regiões mais desfavorecidas da França. O objetivo é estimular no departamento a cultura e a transformação da maconha para fins terapêuticos. Vários países europeus, como Espanha, Suíça e Grécia já autorizam a venda desse tipo de cânabis.

 

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