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França

Ataque em Paris relança temor de ameaça terrorista chechena

Khamzat Azimov, 20 anos, autor do ataque na noite de sábado (12) no bairro da Ópera, em Paris, não carregava nenhum documento com ele quando foi morto pela polícia. Filho de um casal de refugiados, ele nasceu na Chechênia, república de maioria muçulmana que faz parte da federação russa e tem a fama de fornecer combatentes bem treinados para grupos terroristas. 

Vitrine de café na esquina da rua Monsigny com a rua Saint-Augustin, no centro de Paris, foi atingida por disparo quando a polícia neutralizou o agressor.
Vitrine de café na esquina da rua Monsigny com a rua Saint-Augustin, no centro de Paris, foi atingida por disparo quando a polícia neutralizou o agressor. Eric FEFERBERG / AFP
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O agressor, que matou com uma faca um pedestre de 29 anos e deixou quatro feridos, incluindo um turista chinês, obteve a nacionalidade francesa em 2010, após a naturalização de sua mãe. Ele cresceu em Estrasburgo (leste), num bairro popular onde vive uma importante comunidade chechena. Fazia pouco tempo que o jovem morava com seus pais em Paris, no 18° distrito da capital.

Os pais do terrorista foram detidos para interrogatório e permanecem sob custódia da polícia neste domingo (13). Um amigo de Azimov também foi detido para averiguação em Estrasburgo.

O agressor não tinha antecedentes judiciais, mas era monitorado pelos serviços de inteligência desde 2016. Isso porque, segundo a polícia, ele era amigo de um homem que foi para a Síria combater nas fileiras do grupo ultrarradical Estado Islâmico (EI). No ano passado, o rapaz chegou a ser interrogado por policiais por causa dessa amizade. Seu nome estava inscrito num cadastro específico de prevenção contra a radicalização terrorista, conhecido pelas iniciais FSPRT.

O EI reivindicou o ataque, ocorrido em uma rua de teatros e restaurantes perto da Ópera. "O autor deste ataque a faca em Paris é um soldado do Estado Islâmico e a operação foi realizada em retaliação contra os estados da coalizão internacional antijihadista no Iraque e na Síria", declarou uma "fonte de segurança" da organização sunita. Ao atacar os pedestres, o terrorista gritou 'Alá é grande'.

Conexão com o Cáucaso

O líder checheno Ramzan Kadyrov reagiu dizendo que "toda a responsabilidade" pelo atentado cabe à França, onde Azimov cresceu.

No entanto, muitos ataques terroristas foram cometidos nos últimos anos por chechenos, principalmente na Rússia, onde uma rebelião islâmica é ativa em todo o norte do Cáucaso. Esta rebelião jurou lealdade ao EI em 2015 e tem sido uma importante fonte de combatentes para as fileiras de grupos jihadistas na Síria e no Iraque.

No exterior, a ação de terroristas chechenos é mais rara. Eles foram responsáveis pelo atentado no aeroporto de Istambul, que matou 45 pessoas em junho de 2016, e pela morte de três pessoas e 264 feridos na Maratona de Boston, em 2013. Os autores, no caso do atentado em solo americano, foram os irmãos chechenos Dzhokhar e Tamerlan Tsarnaiev. 

Guinada no recrutamento do EI

Segundo o especialista francês Mathieu Guidere, "o alvo prioritário dos rebeldes chechenos não são os ocidentais". Deste ponto de vista, "o ataque em Paris marca uma leve guinada, que pode estar relacionada à incapacidade atual para realizar ações sérias contra os russos na Síria e na Rússia". De acordo com o especialista, a propaganda do EI é particularmente ativa nas comunidades chechenas no exterior, onde há uma cadeia de envio de combatentes para a Síria.

Para a especialista francesa Anne Giudicelli, diretora da empresa de consultoria Terrorisc, o perfil do autor do ataque de sábado em Paris pode ter atraído a atenção de recrutadores jihadistas justamente porque ele tinha origem chechena. "A reputação dos homens chechenos é de serem fortes, fiéis e violentos. Eles têm um lugar importante na guerra islâmica do passado e do presente", diz a consultora.

Mathieu Guidere acrescenta: "Os chechenos na Síria e no Iraque são reconhecidos mundialmente por sua eficiência operacional, por serem geralmente bem treinados", afirma o especialista, ressaltando que essas brigadas estavam tentando recrutar na França.

Forte contingente no teatro de guerra sírio-iraquiano

Na década de 2000, a Rússia pagou um preço alto no momento dos ataques de rebeldes islâmicos em metrôs, trens, aeroportos e nas invasões a um teatro de Moscou (outubro de 2002) e à Escola de Beslan (setembro de 2004), quando mais de 330 reféns, incluindo 186 crianças, foram mortos. Esta onda de violência tinha raízes no Cáucaso, especialmente nas repúblicas muçulmanas da Chechênia e no Daguestão, onde a rebelião separatista se transformou progressivamente em movimentos radicais islâmicos. Alguns grupos se aliaram à organização Estado Islâmico.

De acordo com os serviços de segurança russos, pelo menos 4.500 russos estavam em 2017 ao lado de grupos jihadistas em todo o mundo e a maioria deles eram originários das repúblicas do Cáucaso.

As autoridades chechenas, no entanto, tentam minimizar a ligação entre a instável Chechênia e o ataque em Paris. Tais crimes "não conhecem nenhuma nacionalidade, religião, pátria ou bandeira", disse o ministro checheno da Informação, Djambulat Umarov.

Com informações da AFP

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