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França/ política

Reformista e “imperial”, Macron completa um ano no poder na França

Há um ano, em 7 de maio, tomava posse o mais jovem presidente da história da França. A ascensão fulminante e sem paralelo de Emmanuel Macron, aos 39 anos, forçou a política e a economia francesas a se renovar. Seus críticos, no entanto, se alarmam com os métodos autoritários de governo do centrista, que não perde a ocasião de demonstrar o poder, com direito a ares de monarquista.

Reformas de presidente Emmanuel Macron são apreciadas, mas líder é considerado autoritário por uma maioria de franceses.
Reformas de presidente Emmanuel Macron são apreciadas, mas líder é considerado autoritário por uma maioria de franceses. REUTERS/Philippe Wojazer/File Photo
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A própria cerimônia da vitória das eleições de 2017 deu o tom do governo que estava por vir: Macron escolheu a esplanada do Museu do Louvre como palco para imortalizar o seu primeiro discurso como presidente eleito. Desde então, abusou das decorações suntuosas da França para receber chefes de Estado: reservou o castelo de Versalhes para Vladimir Putin e a Torre Eiffel para Donald Trump.

A mise em scène, aliada à biografia impressionante do menino prodígio e a velocidade com que tem conseguido implementar reformas polêmicas, logo trouxe seus frutos. Com seu movimento República em Marcha, o ex-ministro da Economia, que se reivindica nem de esquerda, nem de direita, acabou por implodir os partidos tradicionais, o Socialista e Os Republicanos. Macron se tornou fonte de inspiração nos tantos países que sonham em refundar a política ao redor do globo. No plano interno, os projetos são tantos que os franceses têm dificuldades de acompanhar o ritmo do presidente.

Ao mesmo tempo em que explora cenários majestosos, no método de ação, o chefe de Estado lançou mão de uma ferramenta pouco usual na política francesa – o governo por decretos, em um modelo vertical de exercer o poder. Em vez de passar por longos debates no Parlamento, os projetos são negociados por antecipação com as categorias envolvidas e o texto final é submetido à aprovação ou à rejeição dos senadores e deputados. Com uma ampla maioria no Parlamento, foi com facilidade que ele aprovou uma reforma trabalhista, outra tributária e mudanças na folha de pagamentos, todas de cunho social-liberal.

“Macron Napoleão”

Não demorou para Macron ser acusado de antidemocrático, centralizador e “imperial”, características que a população francesa, contestadora, tem dificuldades de engolir. Não à toa, para “comemorar” o primeiro aniversário do presidente no cargo, milhares de manifestantes foram às ruas neste sábado (5) criticar o “Macron Napoleão” e o “Macron Júpiter” que ocupa o palácio do Eliseu.

Quadro de Macron no lugar de Luís 14, durante protesto ocorrido neste sábado (5) em Paris.
Quadro de Macron no lugar de Luís 14, durante protesto ocorrido neste sábado (5) em Paris. REUTERS/Charles Platiau

As pesquisas de opinião mostram que o presidente mantém a confiança dos franceses, mas o estado de graça do primeiro ano de governo começa a se esgotar. Na sondagem mais recente, do instituto Ipsos, 45% dos franceses avaliaram que ele fez um primeiro ano de governo "positivo" e, para 53%, o balanço é negativo. Entre os eleitores do presidente nas eleições do ano passado, 68% estão satisfeitos até agora. De uma forma geral, 55% julgam Macron autoritário demais.

“45% de aprovação parece pouco, mas é um bom resultado, não apenas pelo número em si como na comparação com outros presidentes antes dele, no mesmo período”, ponderou Brice Teinturier, diretor-geral do instituto, ao jornal Le Monde, que encomendou a pesquisa. “Vimos que algumas reformas impactaram positivamente a imagem do presidente, como a da SNCF [companhia ferroviária nacional], apesar dos protestos e greves dos ferroviários, e a reforma do imposto predial, que aliviou o peso fiscal para uma parte considerável de franceses. Além disso, medidas como a proibição do agrotóxico glifosato na França foram bem vistas”, comentou.

Presidente dos ricos

Tenturier ressalta que, para 73% da população, Macron está cumprindo o que prometeu na campanha, uma qualidade não reconhecida nos presidentes anteriores. Porém, nem todas as reformas passaram batido, em especial o fim do imposto sobre a fortuna, a diminuição do benefício social para moradias e a redução de um tributo que incide no poder aquisitivo dos aposentados. “76% dos franceses acham que a política econômica é orientada para favorecer os mais ricos e moradores das grandes cidades”, observa. Macron, presidente dos ricos, é um aposto que começa a colar no líder francês.

Para impedir que a popularidade não despenque nos próximos anos, o centrista terá de equilibrar melhor a política social em seu governo, considerada de direita, e se aproximar dos franceses. Outra pesquisa divulgada na quinta-feira, da Odoxa-Dentsu Consulting, mostrou que 76% da população o acha arrogante e 68% o vê como um governante distante das pessoas. A sondagem ainda alerta que 59% da população não deseja que ele concorra à reeleição – se serve de consolação, François Hollande amargou uma rejeição de 77% ao fim do primeiro ano de mandato.

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