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A Semana na Imprensa

Nobel de Economia francês adverte contra discursos ultraconservadores distantes do interesse coletivo

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O prêmio Nobel de Economia de 2014, o francês Jean Tirole, 64 anos, é entrevistado esta semana pela revista Le Point. Ele propõe observações para reflexão de todos que valorizam a democracia e são confrontados atualmente aos discursos populistas e ultraconservadores. Neste momento de crise política e dificuldades econômicas no Brasil, a RFI destaca alguns pontos da entrevista do Nobel, o terceiro da história francesa nessa área.

O prêmio Nobel de Economia de 2014, o francês Jean Tirole, 64 anos, é entrevistado esta semana pela revista Le Point.
O prêmio Nobel de Economia de 2014, o francês Jean Tirole, 64 anos, é entrevistado esta semana pela revista Le Point. Fotomontagem RFI
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«Uma democracia sem especialistas caminha para o desastre, uma vez que isso deixa o caminho aberto para todo tipo de crença», explica de antemão Jean Tirole. O francês constata que a produção científica e as advertências lançadas por especialistas têm sido cada vez mais ignoradas, em todo o mundo.

Ele cita como exemplo o caso do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. Deixando de lado a guerra de números travada pelos economistas que calcularam os custos dessa decisão, a imensa maioria dos especialistas preveniu os britânicos que sair do bloco europeu será ruim para o país. Mas os economistas não foram ouvidos, lamenta o francês. Por quê?

Impressões não fundamentadas ofuscam a razão

Segundo Tirole, “os populistas têm um desprezo profundo pelos mecanismos econômicos básicos e exploram perfeitamente alguns vieses cognitivos do ser humano: nossa tendência a confiar em nossas primeiras impressões, a tendência a vermos o que queremos ver, a acreditar no que queremos e a nos cercar de pessoas que apoiam nossas convicções”. Nesse circuito fechado, é difícil exercitar a reflexão crítica.

"O populismo se alimenta de frustrações e de medos", destaca Tirole, acentuando a percepção negativa sobre as crises financeiras, as mudanças climáticas, a imigração ou as transformações tecnológicas da era digital, prossegue Tirole. Ante discursos ultraconservadores, os especialistas são vistos como arrogantes e tendenciosos, argumenta o Nobel. «Nem todo cientista é íntegro», ressalva, «assim como a ciência não é infalível e existem situações de conflito de interesses». Mas, sem confiança na produção científica e nos consensos construídos por meio de milhares de horas de estudos em diferentes partes do mundo, a democracia corre o risco de ser derrotada pela perda da razão.

Tirole é um dos maiores especialistas mundiais em regulação de mercado. Ele não acredita que a economia esteja a serviço da propriedade privada ou do interesse individual, e deve ser pautada pelo interesse coletivo visando o bem-estar comum.

O Nobel de Economia francês trabalhou a maior parte de sua vida nos Estados Unidos. Hoje, ele é diretor científico do Instituto de Economia Industrial de Toulouse (IDEI), professor convidado do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, além de diretor de pesquisas da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais de Paris (EHESS). Um de seus livros de maior sucesso é «Economia para o Bem Comum », traduzido em 15 línguas.

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