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Um pulo em Paris

Ditado obrigatório nas escolas provoca novo debate na França

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O ministro francês da Educação, Jean-Michel Blanquer, publicou nesta quinta-feira (26) no Diário oficial francês uma série de recomentações aos professores das escolas do ensino fundamental do país. Aplicação de ditado e exercícios diários de matemática fazem parte das medidas. Porém, os professores, que não foram consultados previamente, contestam os métodos do governo.   

O ditado é um dos traumas de muitos alunos franceses
O ditado é um dos traumas de muitos alunos franceses MYCHELE DANIAU / AFP
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Além dos ditados e dos testes com cálculos feitos “de cabeça”, o texto, intitulado “Guia para ensinar a leitura e a escrita”, também prevê que, a cada ano do ensino fundamental, entre cinco e dez livros sejam estudados na sala de aula. O governo afirma que o objetivo é melhorar os resultados dos alunos pois, segundo estudos recentes, 40% dos estudantes não alcançam os objetivos esperados no final do programa CM2 (quando as crianças têm entre 10 e 11 anos).

A obrigatoriedade do ditado, que já havia sido proposta em 2015 pela então ministra da Educação Najat Vallaud-Belkacem, é uma das medidas que mais chama a atenção, tendo sido muito comentada nas redes sociais desde que as recomendações foram divulgadas. Como o francês é uma língua repleta de particularidades (como consoantes e vogais que se repetem e acentos que podem mudar o gênero do sujeitou ou até o sentido das frases), os exercícios de escrita estão entre os mais temidos pelos pequenos franceses.

Mas o que mais está provocando polêmica não é o conteúdo do texto, e sim a maneira como as recomendações foram divulgadas. Afinal, o documento de 130 páginas foi publicado e enviado por email aos professores, que descobriram as recomendações praticamente junto com o restante da população.

Os sindicatos de professores criticam a falta de diálogo e afirmam que o ministro estaria impondo uma espécie de uniformização, que não correspondem ao dia-a-dia das salas de aula, já que esses métodos não funcionariam em todas as classes. O governo afirma que seu objetivo é que todos tenham acesso ao mesmo tipo de ensino.

Ministro quer ensinar a dar aula

Mesmo se o documento enviado pelo ministério é apresentado apenas como uma série de “recomendações”, o próprio ministro frisou que as medidas deveriam ser vistas como um “texto nacional de referência” a ser seguido. O guia é tão detalhado que indica até o formato dos cadernos usados (modelos com folhas quadriculadas, de 17x22).

Para os professores, Blanquer prentende “ensiná-los a dar aula” e que o método tiraria a liberdade dos profissionais. Diante das críticas, o ministro, que antes de assumir o cargo dirigia uma das principais escolas de administração de empresas da França, respondeu que “a liberdade pedagógica nunca foi sinônimo de anarquia pedagógica”.

O episódio chama a atenção para um aspecto que vem sendo frequentemente apontado pelos opositores do presidente Emmanuel Macron: o fato de que seu governo multiplica os anúncios de reformas com pouco ou nenhum tipo de consulta, reforçando a ideia de um chefe de Estado autoritário. É o caso da recente das mudanças no serviço público ferroviário ou ainda do acesso às universidades, que vem provocando greves e protestos.

Uma grande manifestação é prevista no dia 5 de maio em Paris para contestar a política do presidente. Além dos estudantes universitários e dos funcionários do setor ferroviário, há fortes chances de que os professores do ensino fundamental se unam ao cortejo.  

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