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Islã

Imãs franceses protestam contra radicalização e negam que Corão incentive violência

Trinta imãs das maiores cidades francesas fazem um apelo nesta terça-feira (24) contra a radicalização de uma juventude que classificam de "ignorante e perturbada" e que, segundo eles, comete crimes "em nome do Islã". Em uma coluna publicada no jornal Le Monde, essas autoridades muçulmanas se engajam a combater o problema, mas negam que o Corão incentive os jovens à violência.

Imãs franceses no memorial da Shoah, em Drancy. Foto de 4 de fevereiro de 2013.
Imãs franceses no memorial da Shoah, em Drancy. Foto de 4 de fevereiro de 2013. AFP PHOTO MEHDI FEDOUACH
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O coletivo que assina o texto conta com imãs das cidades francesas de Bordeaux, Nice e Estrasburgo. "Estamos indignados como franceses atingidos pelo terrorismo desprezível, que é uma ameaça a todos. Estamos também indignados como muçulmanos, já que nossos fiéis, muçulmanos pacíficos, sofrem com o confisco de sua religião por criminosos", escrevem. 

Lamentando que "leituras e práticas subversivas do Islã" tenham conduzido a uma "situação cancerígena, à qual alguns imãs infelizmente contribuíram, às vezes inconscientemente", os signatários deste apelo alertam para os prejuízos que esses discursos podem provocar. "Não seremos poupados de outros crimes em nome do Islã", preveem, incentivando os líderes religiosos muçulmanos a "resistir a uma ortodoxia de massa, a um populismo comunitário e aos pedidos de overdoses religiosas". 

Corão não é violento

Os imãs rejeitam a ideia de que o Corão - o livro sagrado dos muçulmanos - incentive a violência, ao contrário dos 250 signatários do manifesto contra o novo antissemitismo, publicado no último domingo (22) pelo jornal Le Parisien. O polêmico texto é assinado por diversas personalidades francesas, entre elas, o antigo diretor da revista satírica Charlie Hebdo, Philippe Val, o ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy, o ex-prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, o ator Gerard Depardieu e o cantor Charles Aznavour. Eles sugerem, inclusive, que os versos do Corão que pedem a morte de judeus, cristãos e muçulmanos infiéis, sejam condenados pelos imãs.

Em resposta, no manifesto desta terça-feira do jornal Le Monde, os imãs classificam a constatação sobre o Corão como uma "violência sem precedentes". A afirmação "dá a entender que o muçulmano só pode ser pacífico caso se afaste de sua religião", dizem os líderes religiosos, denunciando uma "ignorância nefasta". 

Segundo eles, "a radicalização deve ser combatida inteligentemente por todos os envolvidos", por políticos, famílias e educadores. "Cada um precisa assumir sua responsabilidade", reiteram. 

Manifesto contra antissemitismo é "perigoso"

Defensor fervoroso da laicidade, o presidente da Fundação do Islã da França (FIF), Jean-Pierre Chevènement, se pronunciou nesta terça-feira sobre a polêmica, criticando a coluna publicada no último domingo. "É preciso tanto condenar com vigor extremo todas as manifestações antissemitas, como considerar perigoso designar um 'novo antissemitismo muçulmano', como se todos os muçulmanos tivessem bebido o antissemitismo no leite de suas mães", diz, em um comunicado.

Segundo ele, "é este tipo de generalização abusiva que contribui para aumentar as tensões em nossa sociedade e a criar um clima de guerra civil". Para Chevènement, ex-ministro do Interior, a mensagem do texto publicado no Le Parisien é contraditória. Por isso, ele elogia a iniciativa dos imãs franceses: "podemos apenas nos felicitar por este apelo", conclui o presidente da FIF, estrutura inaugurada em 2016 que contribui para a formação dos religiosos muçulmanos. 
 

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